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Como tarifaço de Trump pode impactar setor aéreo e encarecer passagens?

Consequentemente, é provável que as companhias aéreas aumentem o preço das passagens para compensar as despesas elevadas, impactando diretamente os passageiros.

Aviões até US$ 40 milhões mais caros

Antes do anúncio do tarifaço, a AerCap, maior empresa de leasing de aeronaves do mundo, expressou preocupações sobre o impacto das novas tarifas na recuperação financeira da Boeing. Aengus Kelly, presidente-executivo da empresa, destacou que a imposição de tarifas sobre componentes essenciais, como motores que são fabricados parcialmente na França, poderia ser contraproducente.

"O que você faria com um motor que é parcialmente feito na França? Você vai colocar uma tarifa de 20% nesse motor? Isso não é contraproducente?", questionou Kelly.

Além disso, modelos como o Boeing 787 poderiam ter um aumento de custo de até US$ 40 milhões (entenda melhor abaixo) no pior cenário devido às tarifas, afetando diretamente a competitividade e a recuperação financeira da fabricante americana, segundo Kelly.

Como aviões podem encarecer?

Um Boeing 787 custa cerca de US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão). Esse valor é aproximado, já que seu preço final depende de vários fatores, como quantidade encomendada, prazo de entrega, região, entre outros.

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A estimativa de que o modelo atinja a cifra de US$ 290 milhões da AerCap faria ele ser cotado em R$ 1,6 bilhão. Hoje, o avião é montado em Everett, no estado de Washington (EUA).

Entretanto, cerca de 30% das peças dele tem como locais fora dos EUA. Entre eles, se destacam os seguintes, com as respectivas novas taxas impostas:

  • Alemanha: Iluminação da cabine de passageiros (mais 20%)
  • França: Sistemas elétricos (20%)
  • Itália: Parte central da fuselagem (20%)
  • Suécia: Portas (20%)

O avião ainda conta com partes oriundas da Coreia do Sul (25%), Japão (24%), Reino Unido (10%), entre outros. Todos os países da União Europeia foram taxados em 20%.

Um dos modelos de motor do 787, o Trent 1000, é fabricado pela Rolls Royce, do Reino Unido, e pode ser sobretaxado em 10%, sendo que cada um tem um preço que pode ultrapassar a casa dos US$ 20 milhões.

Boeing preocupada

Brian West, diretor financeiro da Boeing, manifestou inquietação quanto ao impacto das tarifas na disponibilidade de peças fornecidas por parceiros internacionais. Embora a empresa mantenha um estoque suficiente para enfrentar desafios imediatos, a continuidade das tarifas pode prejudicar a cadeia de suprimentos a longo prazo.

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Durante uma conferência do Bank of America em março, West falou das preocupações que as tarifas que viriam a ser anunciadas ontem podem causar. Segundo o executivo, o tarifaço pode vir a restringir a disponibilidade de peças junto aos fornecedores da empresa. Mesmo assim, afirma que a empresa tem estoque suficiente por enquanto.

Ao mesmo tempo, West não acredita que a demanda de aeronaves pelas empresas aéreas será impactada. A empresa tem uma carteira de pedidos superior a 5.000 aeronaves, a maior parte do modelo 737 Max.

Apesar dessas preocupações, West mencionou que a demanda por aeronaves da Boeing permanece robusta, com uma carteira de pedidos superior a 5.000 unidades, principalmente do modelo 737.

Consultada pelo UOL após o anúncio, a empresa afirmou que estão "acompanhando de perto os desenvolvimentos tarifários e avaliando seu possível impacto na Boeing". Recentemente, a Boeing voltou a ser a empresa que mais entrega aeronaves (veja mais aqui).

Apenas no dia posterior ao anúncio, as ações da empresa caíram cerca de 11%.

Efeito cascata

O aumento nos custos de produção de aeronaves devido às tarifas impostas gera um efeito cascata em toda a indústria da aviação. Com aviões mais caros, as companhias aéreas enfrentam despesas operacionais mais elevadas, o que pode resultar em passagens mais caras para os passageiros.

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No Brasil, onde o setor aéreo já lida com desafios econômicos e operacionais, esse aumento nos preços pode desestimular viagens aéreas, afetando negativamente o turismo e a economia local. Em um dos piores cenários, a diminuição quantidade de aeronaves disponíveis pode levar a uma redução nas frequências de voos e até mesmo ao cancelamento de rotas, impactando a conectividade e o desenvolvimento regional.

A continuidade dessas políticas pode trazer desafios adicionais para fabricantes, companhias aéreas e passageiros, especialmente em mercados sensíveis como o brasileiro.

Impacto por aqui

Após o anúncio do tarifaço, o dólar sofreu uma forte queda, impactando diretamente nos negócios de diversas empresas brasileiras. Entre elas, a Embraer pode ser a mais afetada no curto prazo.

Grande parte da receita da empresa tem origem nos EUA, e a companhia brasileira tem uma linha final de montagem de jatos executivos no país da América do Norte. Ao mesmo tempo, com a queda do dólar, as receitas da empresa devem cair, somando ao aumento no valor de seus produtos que chegam ao país.

Em tempo, os verdadeiros impactos só vão surgir nos próximos meses, pois governos podem escolher retaliar ou a própria administração Trump pode voltar atrás na tarifação, como já ocorreu anteriormente.

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Procurada, a companhia aérea Latam informou que não irá comentar. Azul e Gol não responderam até o fechamento da reportagem.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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