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Guerra contra crime expõe disputa pelo controle da narrativa nas redes sociais

A operação policial no Rio de Janeiro realizada em 28 de outubro, que deixou 121 mortos, sendo a mais letal da história do Brasil, colocou a segurança pública no centro do debate público.

Nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram, a ação passou a representar uma guerra de narrativas, tendo, por um lado, a defesa da autoridade e do uso da força; de outro, a denúncia da violência e da incapacidade em garantir segurança sem letalidade.

De acordo com o monitoramento da Palver, que analisou mais de 100 mil grupos públicos de mensagens em tempo real de 28 de outubro a 2 de novembro, a operação teve seu pico em 29 de outubro, com mais de 2 mil menções a cada 100 mil mensagens trocadas.

Mais de 70% eram compostas por vídeos e imagens, um dado que reforça o papel desse tipo de conteúdo na formação de opinião.

Na manhã seguinte à operação, os dados apontaram que, quando considerados todos os usuários, 45% das mensagens eram favoráveis e 38% contrárias. Já quando limitadas aos usuários do estado do Rio de Janeiro, 43% eram favoráveis e 39% contra.

Nas menções ao governador Cláudio Castro (PL), a Palver identificou um equilíbrio entre as favoráveis e as contrárias. As publicações positivas o descrevem como uma autoridade que age diante do crime com eficiência, coragem e autonomia.

Já as críticas enfatizam letalidade, abusos e descontrole, utilizando termos como "massacre", "extermínio" e "violência policial". Essa corrente vincula o governador a uma política de "espetáculo bélico", incapaz de alterar as dinâmicas estruturais do crime.

Em um contexto de desinformação e crise de confiança, a operação no Rio reacende o debate sobre autoridade, legitimidade e controle social. O tema é justamente o ponto fraco do governo Lula (PT) e pode servir para segurar a crescente popularidade que vinha sendo observada nos últimos meses.

O evento também serviu para que a aprovação do governo de Castro chegasse ao maior patamar desde 2022.

No dia seguinte à operação, o presidente Lula sancionou a Lei 15.245 que, segundo a postagem do governo na conta oficial do Instagram, "endurece e fortalece o enfrentamento às facções criminosas no Brasil".

Além disso, aumentou os esforços em torno da aprovação da PEC da Segurança Pública, cujo objetivo é a integração entre as polícias estaduais e a padronização no combate ao crime organizado.

A operação no Rio ocorre em um momento ruim para o governo federal, uma vez que na sexta-feira (24) a segurança pública já estava no centro das discussões após Lula afirmar que os "traficantes de drogas são vítimas dos usuários".

Logo na sequência, o presidente fez uma postagem em sua conta do X se retratando e marcando um posicionamento firme contra os traficantes e o crime organizado. O estrago, contudo, já estava feito e as menções ao tráfico, traficantes e facção atingiram o pico histórico no monitoramento da Palver.

Sendo assim, manter a discussão na segurança pública pode ser uma das grandes armas da oposição, já mirando o debate eleitoral do próximo ano.

A união de governadores da direita em torno do chamado "Consórcio da Paz" reforça a politização do debate e também visa passar a imagem de liderança no tema, consolidando o grupo na oposição ao governo federal.

A presença de presidenciáveis como Tarcísio de Freitas (governador de SP, do Republicanos), Ronaldo Caiado (governador de Goiás, do União Brasil) e Romeu Zema (governador de Minas Gerais, do Novo) no "Consórcio da Paz" pode antecipar disputas internas pelo protagonismo no campo da direita e pela herança do capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A operação no Rio, portanto, reposiciona a situação política no contexto nacional e deve ter centralidade no debate eleitoral de 2026.

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