Praticamente ninguém duvidava disso, ao mesmo tempo em que não se sabe o que acontecerá na sequência.
A incerteza paira sobre a possibilidade de novas eleições, como exige o partido de ultradireita Reunião Nacional (RN), e a capacidade de o presidente francês, Emmanuel Macron, conseguir formar um novo governo minoritário.
Os motivos de tudo isso são econômicos: nenhum outro país da União Europeia (UE) está tão endividado em termos absolutos quanto a França.
A dívida pública já ultrapassou os 3,35 trilhões de euros, o que corresponde a cerca de 114% do produto interno bruto (PIB). E a taxa de endividamento continua aumentando: especialistas estimam que ela poderá chegar a mais de 125% do PIB até 2030.
A França está tão endividada que, na UE, é superada neste ponto apenas por Grécia e Itália. O país também é responsável pelo maior déficit fiscal do bloco, com um valor entre 5,4% e 5,8% do PIB.
Para atingir a meta de 3% de déficit exigida pela UE, é preciso economizar drasticamente. E como isso não é politicamente viável, os mercados financeiros reagem com sobretaxas de risco sobre os títulos da dívida pública francesa.
Mas é razoável se preocupar com o euro se as finanças da segunda maior economia da UE estão fora de controle? "Sim, devemos nos preocupar. A zona do euro não está estável no momento", afirma o economista Friedrich Heinemann, do Centro Leibniz de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW), sediado em Mannheim, Alemanha.
"Não estou preocupado com uma nova crise da dívida a curto prazo, nos próximos meses. Mas é claro que é preciso questionar até onde isso vai, caso um grande país como a França, que já teve um índice de endividamento em constante aumento nos últimos anos, também continuar a se desestabilizar politicamente", ressalta.
Vários outros países também estão acumulando dívidas históricas e precisam obter bilhões nos mercados de capitais.
No outono europeu, nos próximos meses, grandes potências econômicas, como Alemanha, Japão e Estados Unidos, lançam títulos no mercado, e isso também é um motivo para os mercados de títulos estarem extremamente tensos.
O cenário é conhecido: sempre que se fala em economizar ou fazer reformas, os partidos de esquerda e de direita na França gritam aos quatro cantos e mobilizam seus apoiadores. Já para o dia 10 de setembro, dois dias após o provável voto de desconfiança no Parlamento, os sindicatos convocaram uma greve geral.
Isso traz à tona lembranças dos "coletes amarelos", que paralisaram a França no outono de 2018. Na época, o gatilho foi o aumento dos impostos sobre o diesel e a gasolina, com o qual o presidente Macron queria promover a transição verde.
Dilema de Comissão Europeia e BCE
Para Heinemann, a Comissão Europeia contribuiu para o problema: "Ela sempre fechou um olho para a França, ou melhor, os dois olhos. Foram compromissos políticos motivados pelo receio de que, caso contrário, isso daria força aos populistas", resume.
"Agora temos o seguinte problema: a França já esgotou grande parte de sua margem de manobra fiscal. A Alemanha [maior economia da UE], por outro lado, está em uma situação muito melhor e ainda tem bastante margem. A França, não", afirma Heinemann.
Tal qual a Alemanha, a França necessita de extensas reformas sociais e, para isso, precisa reduzir os gastos públicos. A alternativa seria aumentar os impostos – em um país que já cobra impostos muito altos de seus cidadãos e empresas, segundo Heinemann.
Ao analisar a política na França, ele se mostra cético quanto à possibilidade de um consenso entre os partidos para a redução da dívida e dos gastos públicos.
Para Andrew Kenningham, economista-chefe para a Europa da empresa de análise Capital Economics, sediada em Londres, os riscos para os mercados financeiros são (ainda) controláveis: "Por enquanto, os problemas parecem limitar-se em grande parte à própria França, pelo menos se a dimensão do problema francês não se tornar demasiadamente grande".
Ainda assim, existem cenários plausíveis para um aumento da crise na França, o que elevaria o risco de alastramento do problema para a UE: "Afinal, a França é a segunda maior economia da zona do euro, com importantes relações comerciais e financeiras com seus vizinhos, além de ser uma potência e líder política no bloco", enfatiza Kenningham.
Uma crise na França poderia, portanto, colocar em risco a viabilidade de todo o "projeto europeu".
"Não acreditamos que uma crise dessa magnitude seja esperada para os próximos um ou dois anos. Mas, se isso acontecer, o contágio poderia se tornar um risco muito maior, e também um risco que o BCE teria que enfrentar", destaca.
Disputa com os EUA não é bom presságio
A crise francesa surge em um momento inoportuno, uma vez que as negociações comerciais entre a UE e os EUA ainda não foram totalmente concluídas.
Por exemplo, no que diz respeito à tributação de empresas de tecnologia americanas individualmente, por países como a França. Não é uma boa hora para a UE se enfraquecer, justamente por causa de sua segunda maior economia, praticamente ingovernável.
Esses atores políticos da França podem, segundo, o especialista, "aumentar a pressão para que a Comissão Europeia reaja às tarifas de Trump com tarifas europeias, fazendo, então, crescer o risco de uma verdadeira guerra comercial", observa o economista.
Com dívida pública crescente, a França tem o maior déficit fiscal da União Europeia — Foto: Franck Dubray/dpa/picture alliance via Deutsche Welle

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1 mês atrás
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