Três eleições em três anos espelham o tamanho da crise política em Portugal, onde o governo de centro-direita liderado por Luís Montenegro, com apenas 11 meses, acaba de ser derrubado pelo Parlamento. A queda tem origem num escândalo de corrupção — o mesmo pano de fundo que causou a renúncia, no ano passado, do governo socialista de António Costa.
A realização de novas eleições, desta vez em maio, parece ter se normalizado no país e reflete também o desgaste do eleitorado com as duas principais correntes políticas que se alternam no poder há 50 anos.
As últimas pesquisas, do instituto Pitágora, apontam o empate técnico entre a Aliança Democrática, de Montenegro, e o Partido Socialista, de Pedro Nuno Santos — 33,5% e 28,8% das intenções de votos. A ligeira vantagem para a AD revela, contudo, a tendência de queda, após o escândalo que abateu o governo, causado por conflito de interesses nos negócios de sua família.
Nesse contexto, o Chega, de extrema direita, que representa a terceira força no Parlamento, tentará mais uma vez tirar proveito do eleitor desiludido para aumentar a sua presença no Parlamento, atualmente com 50 deputados. O partido ultranacionalista segue o modelo de seus homólogos europeus, explorando em seu favor o sentimento anti-imigração e o rótulo de antissistema para seduzir o eleitor.
Mas o partido de extrema direita não está num bom momento e se desgastou por uma série de escândalos envolvendo deputados e dirigentes, que contradizem a sua imagem de restaurador da ética, dos bons costumes e da ordem.
Um dos deputados do Chega foi flagrado roubando uma mala na esteira de bagagens do Aeroporto de Lisboa. Outro dirigia embriagado e em alta velocidade, com o dobro do teor alcoólico permitido no sangue. O vice-presidente do partido, Nuno Pardal Ribeiro, que defendeu a proposta do Chega para castrar quimicamente os pedófilos, foi acusado pelo Ministério Público de pagar por sexo oral com um menor de idade.
Como consequência, últimas pesquisas mostram uma queda do Chega de 17,4% para 13,5% das intenções de votos. Ventura refuta as pesquisas e insiste no lema de “Limpar Portugal”, para tentar beneficiar-se da vulnerabilidade dos dois principais partidos. A dúvida é se, desta vez, o cordão sanitário armado em torno do partido de extrema direita será afrouxado pela Aliança Democrática.
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