Pouco mais de um ano após a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, o campo gaúcho volta a enfrentar sérios prejuízos causados por eventos extremos. A Emater/RS-Ascar iniciou nesta segunda-feira (23) uma operação emergencial para avaliar os impactos das chuvas intensas da última semana sobre o agronegócio estadual. O objetivo é mapear perdas nas lavouras de inverno, na pecuária e na infraestrutura rural, e fornecer subsídios para políticas públicas de apoio aos produtores.
A força-tarefa foi desencadeada no fim de semana, em articulação com as Secretarias Estaduais de Desenvolvimento Rural e da Agricultura, além das Defesas Civis e prefeituras dos 497 municípios gaúchos. O levantamento é coordenado pelo sistema CISPERDAS, plataforma digital que orienta a coleta de dados em campo.
“Essa combinação de presença humana e ferramentas digitais nos permite agir com agilidade e precisão”, afirma o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera.
Segundo ele, o foco está sobre áreas agrícolas, rebanhos e comunidades afetadas, com atenção especial à safra de inverno, ainda em fase inicial de implantação.
Em Santiago, na Região Central, os estragos são expressivos: choveu 552 milímetros entre os dias 14 e 22 de junho – quase quatro vezes a média histórica para o mês. Mais de 50 mil hectares da área agrícola do município foram atingidos, de um total de 60 mil. As lavouras de trigo e canola registram perdas iniciais de pelo menos 20%, segundo o agrônomo Marcelo Steiner, da Emater local.
Além das perdas na produção, há registro de animais mortos, prejuízos em pastagens e danos em mais de mil quilômetros de estradas, pontes e acessos rurais. A prefeitura de Santiago deve decretar situação de emergência nos próximos dias.
Também na região de Santa Maria a situação é considerada grave. Segundo o gerente regional da Emater, Guilherme Passamini, o município mais afetado até o momento é Jaguari, que recebeu grande volume de água proveniente de áreas mais altas, resultando em alagamentos severos e no maior número de desabrigados da região.
“A enchente de agora, no Vale de Jaguari, foi ainda mais intensa do que a registrada em maio do ano passado”, afirma.
Municípios da Quarta Colônia também registram prejuízos, embora com menor intensidade que nas enchentes anteriores. Os impactos se estendem à agricultura e pecuária.
Foram relatadas perdas em sistemas de piscicultura e apicultura, além de dificuldades na bovinocultura e ovinocultura de corte, principalmente pela deterioração das pastagens, em consequência do excesso de umidade e pisoteio. A produção leiteira não é predominante na região, mas há dificuldades logísticas para transporte do produto nos municípios afetados.
As lavouras de inverno, especialmente trigo, aveia (preta e branca) e canola, foram bastante prejudicadas.
“Grande parte dessas culturas estava em estágio muito inicial, algumas apenas germinando, e agora estão comprometidas pela saturação do solo”, destaca Passamini.
O solo, exposto em razão da baixa cobertura vegetal, sofre com erosão laminar e abertura de sulcos e voçorocas, cenário semelhante ao das enchentes de 2024.
O quadro se agrava com os problemas de logística. Diversas comunidades estão isoladas devido ao colapso de pontes e estradas provisórias. Hortaliças e frutas também foram afetadas, enquanto cultivos como noz-pecã sofreram impacto menor.
As chuvas da última semana, que ultrapassaram 500 milímetros em alguns municípios, ocorreram em um momento de alta vulnerabilidade do campo gaúcho. Desde 2020, o setor agropecuário vem enfrentando uma sequência de estiagens e enchentes que comprometem a produção e dificultam o pagamento de dívidas por parte dos produtores.
Em 2024, mais de 170 pessoas morreram em decorrência das cheias e cerca de 200 mil propriedades sofreram prejuízos, com perdas estimadas em R$ 25 bilhões apenas na área rural.
Segundo Baldissera, a missão da Emater agora é fornecer uma base técnica sólida para que os governos estadual e federal possam reagir com rapidez e precisão.
“Trata-se de uma ação conjunta que busca mensurar os impactos reais, parametrizar os dados por município e embasar políticas públicas e ações de apoio emergencial”, conclui.

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