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Energia limpa e porto projetam nova rota de crescimento no Litoral Norte

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Com predominância de pequenas indústrias e foco regional, a economia da região pode ganhar novo fôlego com projetos ligados à transição energética e à reconfiguração logística do Estado. Empreendimentos em parques eólicos e o projeto em curso do Porto Meridional, em Arroio do Sal, desenham um horizonte promissor. Portanto, elementos naturais, como os ventos e localização geográfica estratégica, credenciam o Litoral Norte a se tornar protagonista da indústria gaúcha do futuro. Apesar desse potencial, gargalos importantes como qualificação da mão de obra e baixa escala produtiva ainda freiam o avanço da transformação de matérias-primas em bens de consumo ou produtos.

Litoral Norte mira salto industrial com novo porto e energia eólica

Embora ainda apresente um desempenho discreto no contexto estadual, a indústria do Litoral Norte dá sinais de que pode ocupar um papel relevante no futuro do setor. O impulso viria não apenas da iminente construção de um porto marítimo em Arroio do Sal, com suas consequências em todos os setores da economia, mas da possibilidade de efetivação de novos projetos de geração de energia eólica - que, há 20 anos, começaram a transformar a realidade de municípios da região. Ambas as iniciativas se alinham com demandas globais em evidência ligadas ao desenvolvimento sustentável: o redesenho de rotas logísticas e a transição energética.

Na atualidade, o que as fábricas fazem ali está em grande parte voltado ao mercado interno e à dinâmica econômica local. Os segmentos mais presentes — construção civil, alimentos, calçados, madeira e móveis —, para além da energia limpa gerada pelos gigantescos cataventos já presentes na faixa litorânea, respondem prioritariamente à demanda interna e dentro dos limites gaúchos, com atuação mais pontual nas exportações.

Segundo análise da Unidade de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), o setor da construção se destaca como principal vetor econômico industrial da região. Além da expressiva geração de empregos, pressiona positivamente outros segmentos ligados à transformação de matérias-primas em bens de consumo ou produtos, como o de móveis, madeiras e os próprios materiais de construção. O maior foco, no entanto, é o abastecimento local - assim como nos ramos de calçados e alimentos. A relevante atividade coureiro-calçadista de Osório, por exemplo, tem vocação exportadora, mas ainda destina parte significativa da produção ao consumo interno.

Outro traço marcante do Litoral Norte é a predominância de empresas de pequeno porte em comparação ao restante do Estado. Apesar das limitações de escala, elas têm papel importante na diversificação da economia e na manutenção de empregos das cidades tradicionalmente mais voltadas a comércio, turismo e serviços. De acordo com a Fiergs, a industrialização local enfrenta desafios estruturais típicos de lugares à beira-mar — como a predominância do setor de serviços, a sazonalidade e a carência de infraestrutura adequada. O ritmo de expansão perdeu fôlego nesta década, apesar de a tendência de crescimento ainda se manter.

Curiosamente, um ativo natural e em abundância no Litoral - os ventos - credenciam a região a uma posição de destaque num futuro (ou num presente) ávido por geração limpa de energia, no caso, eólica. Os parques já têm papel importante no Litoral Norte, classificados como Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP). Embora não produzam bens de consumo, geram valor adicionado relevante para o setor industrial. O Complexo Eólico de Osório, formado por três parques e operado pela Enerfin (grupo espanhol Elecnor), simboliza essa virada de chave. Desde 2006, quando entrou em operação, colocou o município em outro patamar.


"O parque teve uma importância não só econômica, mas também cultural. Ele mudou a forma como o osoriense se vê. Osório passou a figurar em propagandas de turismo, nos calendários de eventos do Estado. Isso gerou um novo orgulho local", comenta Alexandre Ramos, secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo, Cultura e Juventude de Osório.

A presença da geração eólica se estende para municípios vizinhos, e novos projetos seguem em análise, ampliando essa candidatura promissora da região a um lugar de destaque no cenário industrial futuro do Estado. Para qualquer ramo que se olhe, no entanto, há obstáculos significativos para um novo ciclo de crescimento: melhorar o ambiente de negócios, ampliar a infraestrutura logística, oferecer incentivos econômicos mais eficientes e investir na qualificação da mão de obra. Do contrário, qualquer cenário em potencial não passará de uma miragem no horizonte.

Raio X industrial

A seguir, dados com base na análise da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs. A entidade considera Litoral Norte os 21 municípios da área abrangida pelo Corede Litoral 1: Arroio do Sal, Balneário Pinhal, Capão da Canoa, Capivari do Sul, Caraá, Cidreira, Dom Pedro de Alcântara, Imbé, Itati, Mampituba, Maquiné, Morrinhos do Sul, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Terra de Areia, Torres, Tramandaí, Três Cachoeiras, Três Forquilhas e Xangri-lá. Santo Antônio da Patrulha não foi considerada como Litoral Norte e seus indicadores não influenciam os dados a seguir.

Desafios a serem superados

Vocação tem outra direção

O Litoral Norte tem uma vocação histórica voltada a turismo, agricultura, pesca e pequenas indústrias. A expansão de um parque industrial mais robusto exige planejamento para evitar conflitos com essas atividades tradicionais. Qualificar e reter mão de obra compatível é outra limitação séria.

Infraestrutura e logística deficitárias


A capacidade e o nível de integração da malha rodoviária é insuficiente para suportar um crescimento industrial mais significativo. Obras como a da BR-285 (ainda não concluída), que conectam o litoral gaúcho ao interior do continente, reduzem custos logísticos e objetivam acesso a mercados. Além disso, para atrair indústrias mais tecnológicas, é preciso oferecer energia estável e conectividade digital. O impacto promissor da construção do porto em Arroio do Sal depende dessa articulação com a infraestrutura existente e de investimentos em armazenagem, transporte e serviços de apoio.

Políticas públicas 


O nível de integração de políticas públicas interfere na atratividade. É necessário avançar na desburocratização, digitalização e padronização de processos regulatórios entre municípios, reduzindo o tempo e o custo para abrir e manter uma indústria. Também é essencial investir na qualificação profissional, alinhada às necessidades dos setores.

Exploração de ventos impulsiona economia das cidades litorâneas

Investimentos em energia eólica alavancaram o setor industrial no Litoral Norte, especialmente entre 2018 e 2020. Osório, Palmares do Sul e Tramandaí receberam parques de grande porte que se refletiram nos indicadores econômicos da região, elevando o valor adicionado da indústria e diversificando a matriz produtiva.

O ICMS da indústria eólica corresponde a 25% do total arrecadado em Osório, de acordo com o prefeito, Romildo Bolzan. "Além de injetar valor agregado de ICMS, criou, nas contrapartidas, uma estrutura turística em cima do Morro da Borússia que se constitui em um dos lugares mais visitados da cidade", acrescenta.

O número de empregos permanentes criados nesses empreendimentos é modesto, mas os parques geram efeitos multiplicadores importantes, desde a fase de construção até a operação e manutenção, o que beneficia setores como logística, construção civil, comércio, alimentação e serviços especializados.

"A indústria eólica trouxe outras empresas agregadas", afirma Alexandre Ramos, secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo, Cultura e Juventude de Osório. Houve consequências anímicas também: "O pequeno empreendedor passou a acreditar mais na cidade, investindo mais no negócio", comenta o secretário.

O Rio Grande do Sul lidera, conforme dados até dezembro de 2024, o número de projetos de energia eólica offshore em análise pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com 30 processos em andamento (o total, no País, são 103). Um dos empreendimentos da Acciona Energia Brasil envolve o Litoral Norte gaúcho: Mares do Sul I, planejado para se estabelecer entre Capão da Canoa e Cidreira, cerca de 17 a 20 quilômetros da costa. Parques eólicos no mar ainda são inéditos no Brasil. Apenas em junho de 2025, o Ibama concedeu a primeira licença prévia para um projeto do tipo, no litoral de Areia Branca (RN).

A construção e a manutenção dos parques demandam mão de obra qualificada, serviços diversos e soluções logísticas — todos elementos que podem ativar um novo ciclo de desenvolvimento industrial e regional. Há uma cadeia produtiva emergente ligada a energias renováveis - a presença de fontes limpas deixaria o Litoral muito atraente para novos negócios.

O parque em Palmares do Sul, por exemplo, é o que garante ao município a segunda colocação no ranking do PIB industrial da região. Isso se deve ao fato de a geração de energia ser enquadrada como Serviço Industrial de Utilidade Pública (SIUP), o que a inclui no cálculo do PIB industrial. Em Tramandaí, um estudo do BNDES apontou que a construção da usina eólica iniciada em 2010 gerou aumento no PIB per capita a partir de 2013.

Xangri-lá sedia, desde 2014, o primeiro parque eólico no mundo da Honda - à época, uma iniciativa inédita do segmento. A energia gerada supre toda a demanda elétrica do escritório e das unidades fabris localizadas em São Paulo. Um outro parque eólico se avizinha para a região: no início do ano, quando estaria em busca de financiadores, a Tradener reafirmou a intenção de iniciar a construção do Chicolomã, entre Osório e Santo Antônio da Patrulha.

Osório para além dos aerogeradores

Segundo Alexandre Ramos, secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo, Cultura e Juventude de Osório, as indústrias têm uma presença tímida na cidade, se comparada com o resto do Estado, mas, em termos de arrecadação e de geração de emprego, são muito importantes: "As dez empresas que mais geram impostos e faturamentos são indústrias", revela. Incentivos fiscais municipais já foram responsáveis pela atração de empresas como a Fruki e a BRQFoods. 

A atual gestão articula os próximos passos para a efetivação de um distrito industrial. Em fase final de licenciamento ambiental, ocupará 50 hectares às margens da BR101 - 20 hectares já autorizados para instalação imediata de indústrias. O governo municipal planeja apresentar o parque a investidores e adaptar benefícios conforme demanda. 


Em 2023, o município contava com 203 estabelecimentos industriais distribuídos em 91 ramos, mas a maior parte dos empregos está concentrada em três setores: calçados, alimentos e construção, aponta a Fiergs.

Setor calçadista

Lidera em geração de empregos, com 1.347 vínculos formais, apesar de estar presente em apenas dois estabelecimentos. Um deles é uma unidade da Calçados Beira Rio, presente há 37 anos na cidade e que responde por cerca de 10 % da produção total do grupo. Tem cerca de 1.090 funcionários. Produz em média 45 mil pares/dia; 900 mil/mês e 10,3 milhões/ano. Mesmo tendo demandado longo treinamento dos primeiros colaboradores (investimento que se mantém necessário até hoje), consolidou-se como uma das maiores fábricas da empresa. "Osório tinha disponibilidade de mão de obra. A gente foi pra lá por isso. E deu certo.", conta Roberto Argenta, presidente da empresa.

Setor de alimentos

Responde por 558 empregos, com destaque para o ramo de abate de suínos, distribuídos em 17 estabelecimentos. Entre os quais, um orgulho da cidade: o frigorífico Borússia, no ramo desde 1991 e referência estadual. A BRQFoods também tem origem na cidade. Um centro de distribuição da Fruki é outro destaque.


Abastecendo mercados do RS e de SC, a fábrica da Borússia produz dezenas de produtos feitos exclusivamente com carne suína. Abate, em média, 980 animais por dia. Um dos maiores sucessos é a linguiça toscana, e a linguiça parrillera está entre os lançamentos mais recentes. Emprega 370 colaboradores diretos. A produção diária é de 100 a 120 toneladas de produtos. 


Desde 2022, um CD na cidade é estratégico para a Fruki reduzir distâncias e aumentar a agilidade das entregas. Atende de Mostardas a Torres, além do extremo sul catarinense. A empresa prevê ampliar a estrutura, num investimento a partir do segundo semestre deste ano. A capaciade atual de estoque é de até 80 mil volumes, em uma área de 1.780 m² de armazenagem.


Agroindústria b2b do setor lácteo, a BRQFoods nasceu em Osório e hoje tem unidades em Tenente Portela, SC e SP. No Litoral gaúcho, produz cerca de 250 toneladas de queijo ralado por mês e 60 toneladas de queijo maturado. Entre os clientes estão Mococa, Tirolez, Santa Clara, Frimesa, Catupiry, Carolina e Lactalis.

Setor da construção


Ocupa a terceira posição, com 498 empregos em 84 negócios. Entre os empreendimentos de destaque, estão a Inkor e a Profine Kommerling Brasil. De médio porte, a Inkor Indústria Catarinense de Colas e Rejuntes está na cidade desde 2007. No ano passado, expandiu a unidade.


Números


Confirma os indicadores de Osório, conforme o Observatório da Indústria da Fiergs (as porcentagens de participação são em relação ao total do RS):


PIB: R$ 1.647,76 mi
(0,33% | 62º)


PIB da indústria: R$ 252,18 mi (0,21% | 88º)


Número de indústrias: 203 (0,39% | 65º)


Número de empregos na indústria: 3.088 (0,36% | 66º)


Exportações industriais: US$ 9,97 mi (0,05% | 97º)

Integração 'porto-indústria' promete novo ciclo

Com início de obras previsto para o ano que vem no bairro Jardim Oliva, em Arroio do Sal, o Porto Meridional é sinônimo de oportunidades capazes de transformar drasticamente a região. O diferencial do projeto é a integração com polos industriais da Serra e da Região Metropolitana. O investimento total é de R$ 6 bilhões, sendo capaz de movimentar até 53 milhões de toneladas por ano.

O empreendimento deve iniciar operações em 2028. A expectativa é de que o porto tenha impactos amplos na economia regional, especialmente no setor industrial. Segundo a Fiergs, o terminal pode atrair novas indústrias, com ganhos em escala, redução de custos logísticos e melhoria no acesso a mercados. Portos modernos, destaca a entidade, também impulsionam a modernização tecnológica das indústrias locais, por operarem com sistemas de automação, rastreamento e gestão integrada.

Embora o impacto exato ainda não possa ser quantificado, dada a complexidade do projeto e a fase inicial de implantação, a perspectiva de transformação é evidente. "Não há dúvida do impacto que esse porto trará e não apenas no âmbito local. Mas é difícil mensurar em números, especialmente neste momento. São muitas variáveis envolvidas, desde a construção das estruturas até o início das operações", afirma Gibran Teixeira, professor do Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

A localização estratégica do empreendimento é outro ponto favorável. O polo industrial de Caxias do Sul, por exemplo, está a cerca de 179 quilômetros do futuro porto. Já os distritos industriais da Região Metropolitana ficam entre 140 quilômetros e 150 quilômetros de distância. Hoje, essas regiões dependem de alternativas mais distantes e onerosas, como o Porto de Rio Grande (a cerca de 370 quilômetros) ou o complexo Itajaí-Navegantes, em Santa Catarina.

Itajaí é o exemplo mais próximo do que pode ocorrer com Arroio do Sal. A cidade catarinense se transformou em um hub logístico nacional de primeira importância em função do complexo portuário de Itajaí (SC), pela ligação com indústrias - a exemplo do polo têxtil de Blumenau, a apenas 53 quilômetros, favorecendo o escoamento rápido e barato da produção.

De acordo com prefeito de Arroio do Sal, Luciano Pinto, o porto já começou a movimentar a cidade. "Estamos vendo um aumento na procura por imóveis e investimentos em setores como turismo, construção civil e mercado imobiliário", relata. Com o objetivo de atrair mais investidores e ampliar o debate sobre os impactos do porto na região, o prefeito está articulando para agosto uma reunião da União Parlamentar do Mercosul (UPM) em Arroio do Sal. O evento deve reunir autoridades políticas do bloco, empresários e investidores chilenos interessados no projeto.

A chegada do terminal exigirá também adaptações na estrutura urbana da cidade. Alterações no plano diretor já estão sendo discutidas, especialmente para atender a demandas como a ampliação da rede de esgoto para essa nova etapa de desenvolvimento.

Efeitos projetados


A construção do porto em Arroio do Sal deve gerar impactos amplos na economia da região, com efeitos particularmente relevantes para o setor industrial, conforme análise da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs:

Durante a fase de obras, haverá demanda por mão de obra especialmente nos setores da construção civil e de serviços (A DTA Engenharia, responsável pela obra, projeta 1,5 mil diretos e 4,5 mil indiretos).

A nova infraestrutura deve reduzir custos na importação de insumos e no escoamento da produção industrial.

A queda nos custos logísticos deve tornar as indústrias locais mais competitivas, especialmente nos mercados mais distantes.

A melhoria na infraestrutura tende a atrair novos empreendimentos para a região.

Empresas já instaladas podem se beneficiar da nova logística para ampliar operações.

Arroio do Sal hoje:

Confirma os indicadores conforme o Observatório da Indústria da Fiergs (as porcentagens de participação são em relação ao total do RS):

PIB: R$ 261,72 mi (0,05% | 248º)


PIB da indústria: R$ 25,14 mi
(0,02% | 234º)


Número de indústrias: 49 (0,09% | 155º)


Número de empregos na indústria: 167 (0,02% | 260º)


Exportações industriais:
US$ 0,63 milhões (0% | 173º)

Produtos alimentícios conquistam o Brasil

No caminho de ida ou de volta do Litoral do Norte, Santo Antônio da Patrulha é parada obrigatória para muitos veranistas. Rapaduras, sonhos e outros doces e salgados de fabricação artesanal, especialmente usando o amendoim como matéria-prima, são famosos no município localizado a cerca de 80 quilômetros da Capital.

Um dos negócios mais importantes para a economia do município é o promovido pela indústria alimentícia da marca DaColônia, com seus 900 colaboradores. A empresa nasceu na cidade em 1962, ganhou o País e desde 2004 leva sua produção para fora - atualmente, para mais de 20 países na América do Sul, América do Norte, África, Ásia, Europa e Oriente Médio.

Líder nacional no segmento de pasta de amendoim com a linha Amendo Power, a empresa atingiu 30% de participação em volume de mercado no primeiro quadrimestre de 2025, segundo a Scanntech — avanço em relação aos 28,9% de 2024. No segmento de paçocas, a marca ocupa a vice-liderança, com 10,1% de market share em 2025. Com capacidade de produção de 3 mil toneladas por mês, a DaColônia fechou 2024 com uma média mensal de 2,5 mil toneladas.

E planeja não parar por aí: projeta investir R$ 20 milhões em 2025 para melhorar sua produtividade com a aquisição de novos equipamentos. Em 2024, o aporte foi de R$ 15 milhões.

A empresa também estuda uma nova ampliação física de sua sede em 2026 — a última ocorreu em 2022, quando a unidade passou a ter 20 mil m². A meta agora é ampliar presença em redes dos Estados Unidos, não apenas para brasileiros e latinos. Para isso, um funcionário da empresa está baseado na região de Chicago, prospectando redes locais. Em maio, representantes participaram da Sweets & Snacks Expo, em Indianápolis.

Ultimamente, tem se voltado a uma linha proteica, fortalecendo sua aproximação com o universo fitness e esportivo, incluindo o patrocínio à maratona internacional de POA. "Criar uma linha proteica foi uma resposta estratégica à demanda por alimentos funcionais e saudáveis", afirma Willian Freitas, diretor porta-voz da empresa.


A DaColônia aposta em sustentabilidade e valorização da produção local. Desde 2021, 100% da operação diurna da fábrica e escritório é abastecida com energia solar, gerada por 2.220 placas fotovoltaicas instaladas ao custo de R$ 2,4 milhões. Embora mais de 90% da matéria-prima ainda venha de São Paulo, a empresa compra toda a banana, melado e açúcar mascavo utilizados em seus produtos de pequenos produtores da região.

Outra marca local que alçou voos maiores é a Qualicoco, cuja história começou em 1992 como a maioria das indústrias da região: produzindo doces. Aos poucos, foi se especializando em produtos de coco e derivados. Para otimizar custos com o transporte da matéria-prima, migrou para o Nordeste, mantendo na cidade a administração da empresa, com parte do time comercial.

Atualmente, a marca está presente em todo o Brasil, mais forte no Sul e Sudeste e segue ampliando para as outras regiões. Entre os produtos de sucesso, estão o óleo de coco e os inovadores manteiga, maionese e requeijão de coco, lançado mais recentemente. A capacidade produtiva atual é de 500 toneladas/mês. Tem clientes como o Grupo Zaffari, Asun, UnidaSul, Angeloni (SC), Rede Condor (PR) e Carrefour.

"Santo Antônio tem vivido um momento bastante positivo em termos de expansão das empresas já existentes", confirma o prefeito Rodrigo Massulo. "A empresa Guimarães, por exemplo, recentemente fechou uma parceria com a Nestlé, ampliando a gama de produtos e a sua própria visibilidade". Massulo destaca ainda o ramo metalmecânico.


São destaque na cidade a Masal (máquinas agrícolas e equipamentos), com mais de 70 anos, e a Hiab Brasil (empresa do grupo finlandês Cargotec que integrou a Argos em 2017).

Mão de obra qualificada é um dos principais problemas atuais: "Estivemos recentemente com o presidente da Fiergs em busca de capacitações que possam ser ofertadas pelo Senai, por exemplo. Estamos em parceria com o Governo do Estado montando um curso técnico de automação industrial aqui na cidade. E temos também a estrutura do Polo Universitário e da própria Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que tem um campus aqui e que podem e estão ajudando nesse sentido", avalia o prefeito.

Usina de asfalto investe R$ 5 milhões na cidade


A Traçado Construções e Serviços já deu início às operações na cidade, escolhida, entre os motivos, pela localização privilegiada: próxima da Capital e de cidades importantes da Serra e do Litoral. A conclusão das instalações está prevista para o fim do ano. “A planta industrial de pavimentação asfáltica da Traçado contará com um processo de usinagem sustentável, capaz de reutilizar resíduos da construção civil e resíduos de pavimento asfáltico fresado no novo concreto betuminoso usinado a quente", explicou Vinícius Assad, diretor de Operações. O investimento é de R$ 5 milhões. Em torno de 100 empregos devem ser gerados até lá. De acordo com o diretor, a empresa optará por fornecedores locais em todos os produtos ou serviços demandados.


A nova unidade terá capacidade para fornecer massa asfáltica tanto para grandes obras públicas e privadas quanto para demandas emergenciais. A Traçado, que tem origem em Erechim, foi responsável pelas obras de reconstrução da pista do Aeroporto Salgado Filho, após a devastadora enchente de 2024.

Equipamentos presentes em grandes obras do País


Com 50 anos completos no mês passado, a Imap Indústria e Comércio de Máquinas e Equipamentos é um empreendimento de médio porte local que atende as principais empresas de locação de equipamentos do Brasil, grandes concessionárias de energia elétrica e de rodovias, além das principais companhias do setor de saneamento. Também está presente nos segmentos de transporte de cargas, construção civil, offshore e naval. Produz em torno de 40 equipamentos ao mês (95% voltado ao mercado nacional e 5% ao internacional) e gera 200 empregos diretos. No portfólio, se destacam cestas aéreas, retroescavadeira para saneamento básico e manutenção urbana, além de guincho autossocorro, para resgate de veículos.


Ponto estratégico para agroindústria


A cidade é um centro estratégico de produção, inovação e impacto socioambiental para a Cooperativa Agroindustrial Cooperja, que tem sede em Jacinto Machado (SC) e outras mais de 40 unidades. O carro-chefe é o beneficiamento de arroz, mas a atuação se estende para produção de alimentos, rações, supermercados, lojas agropecuárias, combustíveis, sementes e fruticultura. A cooperativa movimenta mais de R$ 1,2 bilhão por ano e produz cerca de 170 mil toneladas de alimentos, empregando tecnologias sustentáveis. A casca do arroz, por exemplo, é reaproveitada para geração de calor, poupando mais de 60 mil árvores anualmente. A moderna Unidade de Sementes (UBS) em Santo Antonio da Patrulha, com 4.400 m² construídos em uma área total de 90 mil m², foi inaugurada em 2023. Conta com 128 colaboradores.


A relação da Cooperja com Santo Antônio da Patrulha começou em 2004, quando o BRDE financiou a implantação da primeira unidade industrial. Uma ampliação no ano passado elevou a capacidade da unidade local de 967 mil para 1,3 milhão de sacas.

Perfil econômico: as fatias de cada segmento


Indústria da transformação tem leve predomínio na atividade econômica de Santo Antônio da Patrulha, conforme dados do último período disponibilizados pela Sefaz RS:

  • 26,08% Indústria de Transformação 

  • 20,92% Produção Primária 

  • 16,40% Serviços e Outros Sujeitos ao ICMS 

  • 14.05% Comércio Varejista 

  • 12,67% Indústria de Beneficamento

  • 8,82% Comércio Atacadista

Oficialmente, à parte


A Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs, cuja análise respalda as informações dos textos desta edição, não considera Santo Antônio da Patrulha como parte do Litoral do Norte. Se fizesse parte do conjunto, a cidade superaria, no PIB da indústria, os municípios considerados mais importantes pela análise.


Com base no painel Observatório da Indústria no site da Fiergs, eis os indicadores do município (as porcentagens de participação são em relação ao total do RS):

  • PIB: R$ 1.476,50 mi (0,29% | 70º)

  • PIB da indústria: R$ 465,69 mi (0,38% | 53º)

  • Número de indústrias: 294 (0,57% | 39º)

  • Número de empregos na indústria: 5.091 (0,6% | 42º)

  • Exportações industriais: US$ 15,96 mi (0,07% | 87º) 

* Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.

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