Quando tomou posse para o terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a carregar uma expectativa de parte da comunidade internacional — e também por se colocar desta forma — de que o Brasil poderia atuar como um dos mediadores de conflitos internacionais ao redor do mundo.
Em linhas gerais, no entanto, os especialistas entendem que a atuação não funcionou em razão da falta de vontade das partes de negociar, por interesses de outros países e até mesmo por não ter a influência que pensou ter.
No discurso que fez em 31 de outubro de 2022, quando derrotou o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro, Lula disse que iria "lutar" pela reforma da governança global, citando como exemplo a entrada de mais países no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Discurso de Lula após vitória na eleição presidencial de 2022. — Foto: Reuters/Carla Carniel
No primeiro ano de mandato de Lula como presidente, o Brasil apareceu, em diferentes momentos, como possível mediador:
- da crise democrática na Venezuela, ajudando a negociar um acordo eleitoral;
- da guerra em Gaza, comandando o Conselho de Segurança das Nações Unidas;
- e da invasão da Ucrânia pela Rússia, a pedido do governo ucraniano.
No entanto, neste momento:
- Lula e Maduro estão distantes politicamente;
- o presidente foi declarado persona non grata pelo governo de Israel;
- o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky passou a criticar Lula publicamente.
(leia mais abaixo os detalhes de cada caso)
Só há acordo quando partes querem negociar
Conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o diplomata Marcos Azambuja disse à GloboNews avaliar que o Brasil é "sempre" visto no mundo como um país que tem disponibilidade em ajudar a mediar conflitos. Entretanto, pontua que só é possível mediar qualquer acordo quando as partes diretamente envolvidas querem chegar a um acordo.
Ex-embaixador do Brasil em países como França e Argentina e com passagem pela ONU, Azambuja ressalta que a posição do Brasil deve ser sempre "equilibrada", o que, na prática, pode ser "indesejável" a uma das partes envolvidas. O diplomata afirma, ainda, que a situação em alguns casos ficou "tão aguda" que não dependeria do Brasil a solução, mas, sim, dos interesses de outros países.
"O Brasil deve ser cuidadoso, tem que equilibrar a balança considerando seus valores e interesses também. [...] Mas, ao ser muito equilibrado, pode acabar se tornando de certa maneira um intermediário indesejável a uma parte", afirmou Azambuja.
Lula e Zelensky se reuniram presencialmente em Nova York em setembro de 2023. — Foto: Ricardo Stuckert/Planalto
Ao longo dos últimos dois anos, porém, Lula e Zelensky acabaram de desentendendo, trocando declarações públicas críticas um ao outro.
No caso da Venezuela, Lula convidou Nicolás Maduro a Brasília em 2023 e disse que cabia à própria Venezuela mostrar a sua "narrativa" sobre a democracia no país para que Maduro pudesse fazer as pessoas mudarem de opinião sobre o regime. Nesse mesmo encontro, Maduro pediu ao Brasil que não fechasse mais "as portas" à Venezuela, acrescentando que os dois países deveriam permanecer "sempre" unidos.
Presidentes Lula e Maduro durante encontro em Brasília, em maio de 2023. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Passados cerca de dois anos desde a ida de Maduro a Brasília, os dois presidentes estão politicamente distantes, assim como as relações diplomáticas entre os dois países.
O processo eleitoral na Venezuela até aconteceu em 2024, mas a oposição, organismos internacionais e diversos líderes mundiais questionam o resultado. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, a vitória foi de Maduro. No entanto, Lula, a exemplo de outros chefes de Estado, cobrou publicamente a divulgação das chamadas atas eleitorais. Segundo a oposição, se divulgadas, comprovariam a vitória de Edmundo Gonzáles – mas a Suprema Corte venezuelana, alinhada a Maduro, proibiu a divulgação.
Para Azambuja, um eventual comportamento visto como democrático por parte de Nicolás Maduro depende mais do próprio presidente venezuelano que da articulação de terceiros.
Em outubro de 2023, quando presidiu o Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tentou sem sucesso aprovar resolução que levasse a um cessar-fogo na guerra em Gaza entre o governo de Israel e o grupo terrorista Hamas. Na ocasião, os diplomatas brasileiros até conseguiram o número de votos suficiente para que a resolução passasse. No entanto, os Estados Unidos vetaram a proposta.
Veto dos EUA de texto do Brasil na ONU — Foto: Mike Segar/Reuters

Lula compara guerra em Gaza com ações de Hitler
Chefe do Escritório de Representação Brasileira em Ramala entre 2020 e 2024, o diplomata Alessandro Candeas esteve à frente das negociações para a retirada de brasileiros da Faixa de Gaza após a eclosão da guerra. Ele atribui à ONU o insucesso da proposta brasileira para uma trégua no conflito, conquistada apenas neste mês após acordo mediado pelos EUA.
“Agimos dentro do sistema multilateral, não como ator individual. O problema é a disfuncionalidade do sistema da ONU, que não resolveu as crises e ficou à deriva, dependendo dos jogos de poder das grandes potências”, afirmou Candeas à GloboNews.
O diplomata afirma ainda que, daqui em diante, a discussão sobre o fim dos dois conflitos passará, inevitavelmente, por Donald Trump.

Especialista em Relações Internacionais vê características de uma política externa "imperialista" no governo Trump
Um assessor da Presidência da República para a área internacional afirmou à GloboNews de forma reservada que, embora o Brasil não tenha conseguido encabeçar uma solução para a guerra na Ucrânia, tampouco outros países alcançaram esse feito passados quase três anos desde o início do conflito.
Este mesmo assessor aponta ainda que, apesar dos ruídos entre Lula e Zelensky, o Brasil participou, a convite do governo ucraniano, de reuniões com outros Estados para discutir o tema e construiu uma proposta conjunta com a China para um processo de paz.
Países como França, Alemanha e Reino Unido já buscaram o Brasil reservadamente para falar sobre a guerra em diferentes oportunidades, lembra ainda.
O conflito entre Israel e Gaza, por sua vez, é visto de outra forma por aqueles que assessoram o presidente brasileiro nas relações internacionais. A avaliação nesse núcleo é a de que o Brasil exerceu mais um papel político do que o de mediador.

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9 meses atrás
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