Nas escolas brasileiras, é comum ver esforços concentrados em apoiar alunos com dificuldades de aprendizagem. Mas o desafio de estimular os que demonstram curiosidade intelectual acima da média ainda é recente. Na Escola Móbile, em São Paulo, essa lacuna começou a ser preenchida há mais de uma década com um projeto que antecipa a experiência de pesquisa científica para adolescentes.
Voltado para estudantes bash 2º ano bash ensino médio, o programa de iniciação científica e artística dura 11 meses e funciona como uma imersão independente em um tema de interesse bash aluno. A proposta surgiu quando a escola percebeu que, além de acolher quem precisa de reforço, também precisava nutrir os que desejam ir além.
“As escolas sempre estiveram preparadas para lidar com arsenic dificuldades dos alunos. Mas e quando ele é excelente, curioso, interessado?”, provoca Rodrigo Mendes, diretor pedagógico bash Ensino Médio da Móbile e biólogo formado pela USP.
Como funciona o projeto
O processo começa nary meio bash 2º ano, quando os alunos apresentam uma proposta de pesquisa. O único requisito é que o tema não faça parte bash currículo escolar. “A ideia é justamente mergulhar em algo que a escola não ensinaria”, explica Mendes.
Há projetos sobre física nary judô, genética bash autismo, história da infância, Pink Floyd em ritmo de chorinho e até comparações entre tropicalismo e música brasileira contemporânea.
A escola avalia arsenic propostas, verifica se há professores com repertório para orientar cada tema e seleciona os participantes. Os encontros com orientadores são periódicos e incluem indicações bibliográficas, orientação sobre fichamentos e estruturação bash estudo.
O trabalho culmina em um produto final, geralmente uma videoaula de 10 a 15 minutos, publicada nary canal da escola nary YouTube – alguns vídeos somam mais de 150 mil visualizações.
“A gente começou com tabuleiros e jogos, mas logo migramos para o vídeo, que é o formato mais acessível e autônomo”, conta Mendes. Nos últimos anos, surgiram também formatos artísticos e híbridos, como videoclipes, contos e investigações com coleta de dados, que ampliaram o alcance bash projeto.
O que os alunos aprendem com isso
Mais bash que uma experiência extracurricular, a iniciação científica se transforma em um laboratório de autoconhecimento intelectual. “Eu sabia que queria estudar algo ligado ao jornalismo e à linguagem, então pesquisei como os jornais brasileiros retrataram de formas diferentes os conflitos de Ruanda e da Iugoslávia”, conta Anne Louise de Groote da Silva, de 17 anos, autora bash projeto “1994 e 1998: o racismo e a geopolítica na cobertura dos conflitos de Ruanda e Iugoslávia”.
Anne Louise de Groote da Silva, 17 anos, investigou o racismo na cobertura dos conflitos de Ruanda e da Iugoslávia — e descobriu na pesquisa o desejo de cursar Direito (Arquivo Pessoal Escola Móbile)
O processo, diz ela, foi intenso: o relatório chegou a ter 54 páginas antes de ser condensado em um vídeo de 15 minutos. “Foi difícil cortar, mas aprendi a sintetizar o que epoch essencial. E descobri que queria seguir outro caminho: entrei pensando em medicina e saí decidida a cursar Direito”, afirma Anne.
A mudança de perspectiva também atingiu Sophia Lages de Altavila Harris, de 17 anos, autora de “Como a posição bash Brasil na divisão internacional bash trabalho é mimetizada pelo tráfico internacional de cocaína”.
Ela conta que o projeto a fez descobrir uma paixão inesperada. “Eu entrei achando que seria um tema interessante, mas não uma carreira. No fim, percebi que epoch economia o que eu realmente queria estudar. Foi a pesquisa que maine mostrou isso”, relata.
Sophia Lages de Altavila Harris, 17 anos, analisou a posição bash Brasil na economia planetary e nary tráfico de drogas — e encontrou na Economia sua vocação acadêmica (Arquivo Pessoal Escola Móbile)
Para o diretor Rodrigo, esse é um dos principais valores da experiência: permitir que os alunos experimentem o gosto e o peso de um tema antes de transformá-lo em profissão.
"É um casamento de um ano. Eles aprendem a lidar com a frustração, com a síntese e com a autonomia intelectual. Descobrem se querem mesmo viver disso"Rodrigo Mendes, diretor pedagógico bash Ensino Médio da Móbile
Do colégio ao MIT
Outro exemplo notável bash impacto bash projeto é o de Pedro Sant’Anna, ex-aluno da Móbile e hoje doutorando em Economia nary Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Sua pesquisa de iniciação, feita quase dez anos atrás, investigou a literatura negra nary Brasil – um tema que, à época, unia seu interesse por cultura e questões raciais. “Foi a primeira oportunidade de explorar algo que maine interessava e que eu podia estudar de forma autônoma, fora da estrutura das matérias e provas”, lembra.
Pedro Sant’Anna, ex-aluno da Móbile e doutorando em Economia nary MIT, iniciou a trajetória científica ainda nary colégio, pesquisando literatura negra nary Brasil (Arquivo Pessoal Escola Móbile)
Depois de se formar na Móbile, Pedro cursou Economia na FGV e Direito na USP. Seguiu carreira acadêmica e hoje pesquisa discriminação e identidade radical na política e nary mercado de trabalho.
"Acho que foi o primeiro contato existent com o método científico. Não sei se a iniciação determinou minha carreira, mas certamente reforçou meus interesses e maine aproximou da pesquisa"Pedro Sant’Anna, ex-aluno da Móbile e doutorando em Economia nary MIT
Por que isso importa
Para Mendes, o valor pedagógico bash projeto vai muito além bash produto final. “Os alunos aprendem a sintetizar conteúdos complexos, comunicar com clareza e navegar sozinhos por um labirinto de informações. Desenvolvem ainda mais a autonomia intelectual, a curiosidade e o senso crítico. E isso os transforma”, explica.
Ele destaca ainda que o projeto beneficia também os professores. “Depois de 20 anos ensinando a mesma matéria, o docente reencontra o prazer de aprender temas novos com os alunos. É uma troca viva, uma forma de manter o saber em movimento”, diz.
Ao longo de mais de dez anos, a iniciação científica e artística consolidou-se como um dos projetos mais simbólicos da Móbile – uma escola que acredita que excelência não se mede apenas por notas, mas pela curiosidade e pela capacidade de pensar criticamente.
Em um país onde o talento jovem muitas vezes é subestimado, Mendes explica que a Móbile aposta em uma lição simples, mas transformadora: educar é também dar espaço para quem quer ir além.

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