▶️ Contexto: José Antonio Kast, candidato de direita, foi eleito novo presidente do Chile, neste domingo (14). Ele conseguiu mais de 58% dos votos, de acordo com o Serviço Eleitoral (Servel) do país e derrotou a candidata de esquerda, Jeanette Jara.
Com a vitória de Kast a direita passará a governar seis dos 12 países da América do Sul, ou seja, metade deles. Isso ajudará a manter o equilíbrio ideológico no continente, já o Uruguai pendeu para a esquerda com a vitória de Yamandú Orsi. Ele assumiu em março de 2025.
José Antonio Kast discursa após ser eleito presidente do Chile — Foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP
Historicamente, as forças políticas da região alternam períodos de domínio. Apesar da esquerda ter prevalecido no continente no início do século 21, com a chamada "onda rosa", a direita recuperou espaço nos últimos anos.
Nos últimos meses, a direita contou com a ajuda da Bolívia para chegar a um equilíbrio de poderes. Após quase duas décadas no poder, a esquerda ficou de fora do segundo turno das eleições bolivianas após quase duas décadas no poder. A vitória foi de Rodrigo Paz, em 19 de outubro.
Em entrevistas realizadas na época, o g1 ouviu especialistas para explicarem o cenário de instabilidade e polarização na região. Confira:
🔍 Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo Iuperj e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, explica que o continente viveu uma guinada conservadora após 2010, com o esgotamento do ciclo econômico iniciado com o “boom” global das commodities.
🔍 Já Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a América Latina vive momentos pendulares na política. Segundo ela, a alternância ideológica é algo natural nas democracias, mas se torna delicada quando ocorre em contextos de fragilidade institucional.
Nesta reportagem você vai entender:
Na história recente da América do Sul, forças de esquerda e direita têm se alternado no poder. Muitos países viveram ditaduras na segunda metade do século 20, como o Brasil. Na década de 1990, o cenário se inclinava para governos de perfil conservador, com agendas neoliberais.
🔴 Segundo o professor Maurício Santoro, o revezamento entre correntes ideológicas era raro nessa época, já que partidos mais progressistas tinham dificuldades para vencer eleições. O quadro começou a mudar no início dos anos 2000, com a chamada “onda rosa”.
- O termo se popularizou após ser usado pelo jornalista Larry Rohter, do jornal americano The New York Times, depois da vitória de Tabaré Vázquez nas eleições de 2004 no Uruguai.
- Naquele momento, havia um sentimento de mudança no continente, impulsionado pelo desejo de reduzir a pobreza e a desigualdade.
- Os novos governos de esquerda chegaram ao poder durante a alta global das commodities, estimulada principalmente pela demanda da China.
- Com o aumento das receitas, algumas gestões conseguiram investir em programas sociais e políticas de redistribuição de renda.
➡️ A professora Regiane Nitsch Bressan explica que, após a crise econômica mundial de 2008, as commodities começaram a perder valor, o que dificultou a permanência dos governos progressistas. Na década seguinte, o campo conservador voltou a ganhar espaço — movimento que também ocorreu em outras partes do mundo.
"A gente não pode deixar de observar que há uma grande força da direita, e isso não acontece só na nossa região. Esse movimento começa, eu diria, no Reino Unido, com o Brexit, que foi uma grande prova de que a esquerda estava perdendo espaço", diz.
- Em 2015, a América do Sul tinha oito governos alinhados à esquerda e quatro à direita.
- Três anos depois, o cenário se inverteu, com avanço dos conservadores.
- Essa tendência recuou a partir de 2020, após a pandemia.
- A partir de 2026, seis países são governados por líderes de esquerda e seis pela direita.
Veja a evolução dos últimos 10 anos no gráfico abaixo.
Democracia e instabilidade
Manifestantes ateiam fogo em Tribunal Eleitoral de Sucre, na Bolívia, após denúncia de fraude na eleição presidencial de 2019 — Foto: Jose Luis Rodriguez/AFP
Mesmo com o avanço nas últimas décadas, a América do Sul ainda enfrenta desafios para consolidar as instituições democráticas. O índice de democracia do instituto sueco V-Dem mostra que a região passou por altos e baixos nos últimos 100 anos. Veja no gráfico mais abaixo.
😡 A professora Regiane Nitsch Bressan destaca que a instabilidade democrática na região tem raízes estruturais. Segundo ela, os problemas de desigualdade e pobreza são ameaças constantes por alimentarem a descrença nas instituições.
"O povo latino-americano, por estar cansado das instituições democráticas, é muito seduzido por governos populistas ou neopopulistas. Ou seja, aqueles governos que apresentam frases de efeito e dizem que vão resolver o problema a curto prazo", afirma. O fenômeno do avanço da extrema direita se repete em outras partes do mundo.
- Discursos nesse sentido aparecem em líderes tanto de direita quanto de esquerda.
- Como exemplo, a professora cita Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, e Javier Milei, atual mandatário da Argentina.
- Ainda segundo ela, pesquisas recentes mostram que parte da população latino-americana prefere governos que ofereçam soluções econômicas rápidas, mesmo que sejam autoritários.
- Bressan avalia que o problema não está na ideologia política, mas no risco de surgimento de regimes autoritários.
🤜 Também se somam a esse cenário outros desafios, como o confronto crônico entre Executivo e Legislativo — comum em regimes presidencialistas — e o uso político da Justiça em disputas de poder, o que enfraquece o Estado de Direito e esvazia as instituições.
“O processo de redemocratização na América Latina ainda é muito jovem, e nós ainda não demos conta de fortalecer e consolidar as nossas instituições democráticas”, afirma.
O cientista político Maurício Santoro complementa dizendo que, atualmente, um dos principais fatores de preocupação é a polarização. Segundo ele, lideranças de diferentes espectros ideológicos têm se tornado mais extremas em suas propostas e perdido a capacidade de diálogo. O Uruguai é exceção —onde direita e esquerda se revezam no poder sem presença de extremos.
🌎 Santoro avalia ainda que a instabilidade política dos últimos anos na América do Sul faz parte de uma crise global mais ampla, que também afeta países da Europa, além dos Estados Unidos.

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21 horas atrás
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