Desenho de duas pessoas segurando maletas e com uma chave de engrenagem nas costas

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Legenda da foto, O rust out é o declínio mental e emocional causado por tarefas repetitivas e monótonas, que leva à desmotivação profissional
    • Author, Sabrina Fitzsimons e David Smith
    • Role, The Conversation*
  • Há 19 minutos

Funcionários tensos e sobrecarregados em qualquer lugar reconhecem as características do burnout: exaustão, despersonalização (sentir-se desligado dos outros ou de você mesmo no trabalho) e uma sensação reduzida de realização pessoal. Isso acontece quando o estresse crônico no trabalho não é administrado de forma adequada.

No outro extremo do espectro do estresse está o "rust out". Você talvez já tenha passado por isso. É quando os funcionários ficam entediados, apáticos ou desmotivados, frequentemente fazendo o mínimo necessário no trabalho. Isso pode levar à procrastinação, fazer com que eles passem muito tempo nas redes sociais ou busquem algo que os estimule em outro lugar.

Rust out é o declínio mental e emocional causado por tarefas repetitivas e monótonas e pela estagnação profissional contínua. Ao contrário do burnout, que resulta em sobrecarga de trabalho, o rust out surge da subutilização e da falta de tarefas estimulantes.

Essa condição pode ser agravada quando um ambiente de trabalho valoriza mais a eficiência e cumprimento de metas do que o engajamento profissional, levando as pessoas a se sentirem invisíveis ou substituíveis. Em outras palavras, acontece quando a pessoa não é desafiada o suficiente.

Pode parecer uma reclamação estranha para quem adoraria pensar um pouco menos em trabalho. Mas, a longo prazo, isso pode levar à insatisfação com a carreira e afetar a saúde mental.

Ainda assim, em muitas profissões, o rust out continua sendo um problema que não é falado. Talvez isso se deva à expectativa não oficial de que o trabalho seja algo entediante.

Uma mulher negra em frente a um computador olhando para o lado

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Legenda da foto, Falta de oportunidades no desenvolvimento de carreira e desafios pode gerar sentimentos de rust out

Nossa pesquisa investigou o rust out em uma profissão específica: a dos formadores de professores. Eles são professores universitários que treinam futuros professores. Um total de 154 desses profissionais responderam um questionário e, com 14 deles, realizamos entrevistas.

Embora a maioria tenha dito gostar do trabalho, nós encontramos sintomas e experiências que indicam rust out. Acreditamos que nossas descobertas possam ter relevância para outros contextos profissionais.

O rust out pode parecer um pouco com a tendência das redes sociais chamada quiet quitting (ou demissão silenciosa, na tradução para o português).

Contudo, os formadores de professores com quem nós conversamos não estavam deliberadamente se afastando de suas funções ou planejando sair. Na verdade, eles permaneciam altamente comprometidos com seus alunos — o que tornava a situação ainda mais frustrante.

Com frequência, eles viam a profissão como uma vocação e sentiam orgulho em guiar novos professores para a carreira. Muitos contaram sobre a alegria que era possível encontrar no trabalho e sobre os jovens brilhantes e inspiradores que eles ajudaram a formar. No entanto, alguns haviam perdido esse entusiasmo.

Pilhas cada vez maiores de documentos de trabalho os obrigaram a desviar o foco daquilo que eles amavam. E, de forma crucial, havia a sensação de que eles não faziam mais o trabalho para o qual haviam se candidatado.

Foco nos formadores de professores

Os formadores de professores no ensino superior equilibram múltiplas responsabilidades: dar aulas, supervisionar os estágios de seus alunos, orientar e realizar um extenso trabalho administrativo. Essas demandas deixam pouco espaço para o envolvimento com pesquisa, que é cada vez mais valorizada em universidades orientadas por métricas.

Descobrimos que a burocratização do ensino superior na Irlanda e no Reino Unido tem levado a um excesso de papelada, tarefas de compliance e mudanças constantes nos sistemas. Um professor nos disse: "Cerca de 70% da minha carga de trabalho agora é quase só administração, o que é muito deprimente."

Em conjunto, isso pode deixar pouco tempo para aspectos mais criativos ou profissionalmente enriquecedores da função, como o desenvolvimento de currículo, o ensino ou a pesquisa. "Eu geralmente sinto que eu não produzi nada no fim da semana e não há sensação de desenvolvimento", disse outro educador.

Pessoas em uma sala colocando a mão uma em cima da outra, em grupo

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Legenda da foto, A satisfação profissional é fundamental para o bem-estar dos funcionários e sucesso de uma empresa

O rust out também pode acontecer quando há um desalinhamento entre as aspirações profissionais e as demandas do trabalho.

Por exemplo, no nosso estudo, alguns formadores de professores altamente qualificados, com experiência significativa em pesquisa, ensino e liderança, se sentiam sobrecarregados com tarefas repetitivas e de baixo valor, em vez de realizarem atividades mais alinhadas à sua expertise.

Um profissional disse: "As pessoas podem ser colocadas em uma função e permanecer naquela zona de conforto, em vez de serem desafiadas ou convidadas a tentar algo novo que poderia estimular a criatividade."

Alguns podem ficar confortáveis com o rust out por um tempo, mas ficar preso nessa situação pode levar à insatisfação profissional.

O crescimento profissional restrito pode gerar sentimentos de rust out. Isso inclui oportunidades limitadas para mudança de carreira, estruturas rígidas e falta de apoio ao desenvolvimento de carreira no ambiente de trabalho.

Se os funcionários são vistos como uma espécie de "porto-seguro", que podem ajudar a manter a operação em andamento, a satisfação profissional deles não é levada em conta.

"A conversa não acontece; é apenas 'você fez o trabalho?'", disse um formador de professores. "Não se trata de satisfação no trabalho; mas de você ter sorte de ter um emprego."

Os custos escondidos do rust out

O rust out traz consequências tanto pessoais quanto institucionais. A nível individual, ele leva ao desengajamento profissional, apatia e redução da motivação. Um dos entrevistados pela pesquisa disse estar "funcionando sem prosperar", com tarefas repetitivas corroendo seu senso de propósito.

Muitos formadores de professores relataram não conseguir falar sobre a insatisfação devido à cultura do ambiente de trabalho e às expectativas de desempenho.

"O rust out existe na formação de professores. Com certeza. Contudo, eu não tenho nenhuma experiência de conversar sobre isso com alguém", disse um professor.

Isso pode acontecer porque é conveniente para todos não falar sobre o assunto. Nada é abalado quando a equipe está trabalhando e cumprindo suas funções.

Esse silêncio beneficia as instituições a curto prazo, já que mantém a estabilidade e adia conversas difíceis. Mas, a longo prazo, pode contribuir para problemas de retenção, um clima organizacional negativo e possivelmente redução da inovação.

Acreditamos que o rust out deve entrar na agenda de saúde mental nos locais de trabalho, assim como acontece com o burnout. Os empregadores precisam reconhecer que o bem-estar de seus funcionários é parte essencial para o sucesso.

* Sabrina Fitzsimons é professora de Educação e co-diretora do Centro de Pesquisa Colaborativa em Formação de Professores na Dublin City University (DCU), na Irlanda.

David Smith é professor na Escola de Estudos Sociais Aplicados na Robert Gordon University, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).