Fábrica pioneira da Tramontina une tradição e inovação em Carlos Barbosa

* De Carlos Barbosa

Dos primórdios da pequena ferraria fundada por Valentin Tramontina, que executava reparos para indústrias e ferragem para cavalos em Carlos Barbosa, à indústria centenária presente em mais de 120 países, a Tramontina se consolidou como referência na produção de itens para cozinha, jardinagem, ferramentas, construção, móveis e utilitários de madeira e plástico.

Mantendo suas raízes fortes no Rio Grande do Sul, mas ampliando a atuação globalmente, a empresa completará 115 anos em 2026 e projeta investir na internacionalização da produção de cutelaria, processo já iniciado neste ano com a abertura da primeira fábrica fora do Brasil, na Índia, em parceria com a Aequs.

É justamente na cidade berço da companhia, Carlos Barbosa, que está instalada a Tramontina Cutelaria, a primeira unidade fabril do grupo. Fundado em 1911, o complexo produz 2,3 milhões de peças por dia e tem a inovação como essência. De acordo com o diretor comercial da empresa, Marcos Grespan, essa "cultura da inovação" faz parte da origem da companhia e recebe investimentos constantes.

"A automação e a melhoria contínua de processos sempre estiveram no DNA da Tramontina, sendo um investimento constante e estratégico. Nosso foco é duplo: aprimorar a competitividade da empresa no mercado global e, fundamentalmente, melhorar a qualidade de vida e a segurança dos colaboradores, eliminando tarefas repetitivas e de esforço. Para sustentar essa cultura de inovação, a Tramontina mantém uma equipe multidisciplinar altamente capacitada", comenta.

Complexo tem 3 mil funcionários e muita automação

Com cerca de 3 mil funcionários, a planta é responsável por uma vasta e diversificada produção de itens de uso diário a linhas especializadas. São facas profissionais e de cozinha, canivetes, talheres, tesouras, panelas e frigideiras antiaderentes, além de linhas específicas para churrasco, queijos e vinhos.

Do total da linha de produção, 55% são destinados ao mercado brasileiro, e o restante à exportação para América Latina, América do Norte, Europa, Oriente Médio e África.

Chama atenção na fábrica, com 323 mil metros quadrados de área, a automação. No dia em que a reportagem visitou um dos galpões, braços robóticos se revezavam com funcionários em tarefas como montar frigideiras e panelas – são produzidas cerca de 230  mil por dia –, enquanto veículos autônomos (foto abaixo) ficavam responsáveis por transportar os materiais.

O foco em automação tem garantido à empresa agilidade e diferencial competitivo, como destaca Grespan. "Nossa equipe é responsável não apenas por projetar e construir equipamentos específicos sob medida, mas também por garantir a integração eficaz dessas tecnologias — como os robôs e veículos autônomos não triuplados — aos processos existentes. Esse modelo interno de desenvolvimento e implementação nos permite ter uma agilidade e um diferencial competitivo notável no setor", comenta o executivo.

A unidade passou por um aumento de sua capacidade há alguns anos, em função da alta demanda surgida em meio à pandemia, quando a procura por panelas, talheres, louças cresceu na medida em que as pessoas ficaram em casa e priorizaram a aquisição de utensílios para casa e cutelaria.

Ele reforça ainda que a Tramontina Cutelaria mantém o compromisso de buscar o crescimento contínuo das vendas, "por meio de estratégias comerciais robustas voltadas tanto para a consolidação em mercados já estabelecidos quanto para a prospecção de novas áreas."

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Resiliência, diversificação de mercado e parcerias estratégicas para driblar tarifaço 

Tendo os Estados Unidos como um dos principais destinos de suas exportações, principalmente de itens como panelas e frigideiras com revestimento antiaderente, talheres e facas, a Tramontina foi diretamente impactada pela sobretaxa do governo norte-americano sobre os produtos brasileiros. Por conta do tarifaço imposto em agosto por Donald Trump, e que desde setembro vem derrubando as exportações do Rio Grande do Sul para o mercado estadunidense, a empresa teve de rever seu planejamento, partindo para a diversificação de mercados e o fortalecimento de parcerias estratégicas, como explica o diretor comercial da companhia, Marcos Grespan.

"A mudança de cenário nos levou a revisar rapidamente o planejamento de produção e comercialização. Estamos priorizando a diversificação de mercados e o fortalecimento de parcerias comerciais em regiões estratégicas, especialmente na América Latina, onde além do Brasil, temos centros de distribuição próprios na maioria dos países como México, Chile, Peru, Colômbia, Equador, permitindo intensificar o trabalho em conjunto entre todas as áreas, buscando novas oportunidades, otimizando custos e garantindo competitividade", comenta.

"Mesmo diante desse cenário, a companhia tem histórico de resiliência em momentos de instabilidade econômica. Com mais de um século de atuação e presença em mais de 120 países, mantém uma estratégia voltada ao longo prazo, o que garante fôlego e flexibilidade para reagir a mudanças no mercado global. Já atravessamos situações desafiadoras em países como Bolívia, Argentina e Rússia, e, em muitos casos, observamos a recuperação posterior desses mercados. No caso dos Estados Unidos, o impacto é naturalmente mais sensível pela sua relevância e escala, mas nossa estrutura internacional sólida permite redirecionar esforços e manter o ritmo de exportações, reforçando a presença da marca em outros destinos estratégicos", complementa Grespan.

Ele aponta ainda que a empresa segue acompanhando o cenário com atenção e acredita que a taxação será revista. "Sairemos desse processo ainda mais fortes, preparados para retomar o crescimento no mercado norte-americano e ampliando nossa presença nos demais países", afirma.  

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