Figurinha, emoji ou GIF? Seu jeito de reagir online diz muito; entenda

No índice abaixo, veja os tópicos que serão abordados nesta matéria do TechTudo.

As interações online — figurinhas, emojis, GIFs ou reações em mensagens — são substitutos da linguagem corporal. Segundo Erica Dhawan, autora do livro Digital Body Language, “a ausência de gestos e expressões faciais exige que sejamos mais conscientes do tom e da intenção por trás de cada mensagem”. Ela defende que a comunicação digital exige uma nova alfabetização emocional, onde o silêncio pode ser interpretado como desinteresse, e um ponto final pode soar agressivo.

Gretchen McCulloch, linguista da internet e autora de Because Internet, reforça que “a forma como usamos pontuação, emojis e abreviações revela não só nosso estilo comunicativo, mas também nossa identidade social e emocional”. Em seu livro, ela analisa como diferentes gerações usam a linguagem digital para expressar informalidade, humor ou afeto — e como isso pode gerar ruídos entre grupos distintos.

A forma como reagimos online não é universal. Estudos sobre variação linguística mostram que expressões digitais variam conforme região, idade e gênero, refletindo contextos culturais e sociais. Enquanto jovens podem usar “rsrs” como sinal de leveza, adultos tendem a preferir “kkk” ou emojis mais neutros. Mulheres, segundo Dhawan, costumam usar mais pontos de exclamação e emojis para transmitir empatia e acolhimento.

A psicóloga Maria Beatriz Zanarella Cruz, da UniFAJ, afirma que “o uso crescente de emojis indica tendências positivas de empatia digital, mas também pode mascarar sentimentos complexos”. Emoções como timidez, busca por acolhimento ou tentativa de intimidade são frequentemente expressas por meio de reações sutis — como o uso de corações, carinhas tristes ou respostas evasivas.

Segundo uma pesquisa realizada em 2024 pela plataforma Preply com mais de 1.500 brasileiros, 66% afirmam usar emojis diariamente, e muitos reconhecem que esses símbolos ajudam a expressar emoções que seriam difíceis de verbalizar. Além disso, um estudo do Instituto Kinsey, nos Estados Unidos, revelou que pessoas que usam emojis com frequência tendem a ter níveis mais altos de inteligência emocional, sendo mais conectadas aos próprios sentimentos e mais expressivas em ambientes digitais.

Como vimos até aqui, cada reação digital atua como extensão da personalidade do individuo no ambiente virtual. Abaixo, entenda a construção dos perfis por trás desses tipos de saudações.

Quem costuma responder com stickers geralmente é expressivo, mas seletivo. Essa pessoa prefere usar o humor como forma de interação e evita se expor emocionalmente de maneira direta. O uso de figurinhas funciona como uma espécie de repertório pessoal. Cada imagem escolhida carrega uma intenção específica, seja para provocar riso, suavizar uma conversa ou marcar presença sem precisar elaborar demais. É comum que esse perfil tenha uma figurinha para cada ocasião, o que indica cuidado na curadoria e uma busca por originalidade na comunicação.

O perfil que recorre aos emojis tende a ser diplomático e empático. Essa pessoa se preocupa com o tom da conversa e usa os símbolos visuais para suavizar mensagens que poderiam parecer secas ou ríspidas. Emojis atuam como pontes afetivas, ajudando a manter a leveza e a simpatia em interações cotidianas. Além disso, quem adota esse estilo costuma ser sociável e atento à própria imagem, buscando transmitir acolhimento e acessibilidade mesmo em mensagens breves.

Quem escolhe GIFs como forma de reação costuma ser extrovertido e criativo. Esse perfil valoriza o humor, a teatralidade e as referências da cultura pop como ferramentas para criar conexão. Os GIFs são como pequenas performances digitais, capazes de dramatizar emoções, provocar risadas e transformar uma simples resposta em um momento compartilhado. Essa pessoa não tem medo de exagerar na expressão e vê na linguagem visual uma oportunidade de tornar a conversa mais divertida e memorável.

O uso exclusivo de texto, sem complementos visuais, costuma indicar um perfil mais direto e objetivo. Essa pessoa valoriza a clareza e a eficiência na comunicação ao evitar ornamentos que possam desviar do conteúdo principal. Embora possa parecer seca ou distante, muitas vezes essa escolha significa uma preferência por praticidade ou uma postura mais reservada. Para esse perfil, a linguagem é uma ferramenta funcional, e não necessariamente um espaço para performance emocional.

Quem reage com botões de curtida ou coração tende a ser discreto, mas atento. Essas interações rápidas funcionam como gestos silenciosos de validação ou presença, principalmente em ambientes de alta rotatividade como grupos ou redes sociais. Esse perfil valoriza agilidade e costuma demonstrar afeto ou reconhecimento sem precisar elaborar uma resposta. Embora não seja expansivo, é alguém que acompanha o que os outros compartilham e usa as reações como forma de manter vínculos sutis.

Quando alguém opta por não reagir — seja com emojis, stickers ou qualquer outro recurso — isso pode indicar um perfil mais reservado ou simplesmente distraído. Essa pessoa tende a observar mais do que participar, acompanhando as conversas sem necessariamente interagir. A ausência de resposta não significa desinteresse, mas pode ser interpretada como frieza ou distanciamento, mesmo quando não há essa intenção. Em muitos casos, simboliza alguém que prefere a introspecção ou que não vê necessidade de marcar presença em cada troca digital.

Em ambientes digitais, onde a linguagem corporal está ausente, a primeira reação enviada age como um marcador emocional. Ela pode suavizar, intensificar ou até distorcer o sentido da mensagem original. Segundo Dhawan, “em um mundo onde a linguagem corporal não é mais visível, a linguagem corporal digital é a nova inteligência emocional”. Isso significa que elementos como emojis, tempo de resposta e reações visuais assumem o papel de gestos e expressões faciais — e passam a carregar significados que vão além do conteúdo textual.

Por exemplo, responder com um emoji de coração logo após uma mensagem pode sinalizar afeto, apoio ou validação, mesmo que o texto anterior tenha sido neutro. Já uma reação com um emoji de riso pode ser interpretada como ironia ou desdém, dependendo do contexto. Essa ambiguidade é explorada por McCulloch, onde ela afirma que “o tom de voz tipográfico é uma das inovações mais importantes da escrita na internet”. A escolha da pontuação, dos emojis e até da capitalização pode alterar completamente a percepção do leitor.

Além disso, estudos sobre comunicação online indicam que a primeira resposta define expectativas de envolvimento. Se alguém reage com entusiasmo — usando GIFs, emojis ou stickers — a tendência é que a conversa siga em tom informal e descontraído. Por outro lado, uma resposta seca ou sem reação pode ser lida como desinteresse, mesmo que não seja essa a intenção. A plataforma Literacias Digitais, da USP, destaca que “ser capaz de se comunicar bem online é uma habilidade digital importante e necessária”, principalmente porque o ambiente virtual exige atenção ao tom e à clareza para evitar ruídos.

A comunicação digital, por mais técnica que pareça, também é feita de gestos sutis — e o humor é um deles. Em ambientes onde o tom pode facilmente se perder, a leveza opera como uma espécie de bússola emocional. Não é sobre fazer piada o tempo todo, mas de reconhecer que rir junto pode dissolver tensões e abrir espaço para uma conversa mais fluida.

Esse tipo de humor não depende de grandes construções. Às vezes, está em uma resposta inesperada, em uma reação que quebra o ritmo ou em uma escolha que revela cumplicidade. A graça surge quando há sintonia, quando os interlocutores compartilham referências e entendem que nem tudo precisa ser literal. É nesse terreno que a identificação acontece — não por causa do conteúdo em si, mas pela forma como ele é recebido.

O humor digital permite que as pessoas se reconheçam, mesmo em mensagens breves. E quando isso acontece, a conversa deixa de ser apenas troca de informação e passa a ser um espaço onde é possível criar vínculo.

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