
O Ministério da Justiça e Segurança Pública vai promover uma das maiores atualizações já feitas na classificação indicativa, o que levará as avaliações a considerarem não só o conteúdo, mas também o grau de interatividade. A mudança fará com que não só filmes, séries, novelas e jogos sejam analisados como adequados ou nocivos para crianças e adolescentes, mas passará a incluir lojas de comércio digital, aplicativos para celulares, redes sociais e serviços de inteligência artificial.
Plataformas como ChatGPT (OpenAI) e Gemini (Google), hoje classificadas pelas próprias empresas como adequadas para menores de 13 anos, poderão ser consideradas como impróprias para algumas faixas etárias. Uma das possíveis consequências é que o acesso a elas seja impedido para crianças e liberado para adolescentes a partir de certa idade. O mesmo pode ocorrer com redes sociais.
Se hoje, a classificação indicativa é apenas uma sinalização, sobretudo para pais e responsáveis, isso pode mudar com o ECA Digital, lei que obriga plataformas digitais a garantir a segurança de menores de idade. Sancionada em setembro e marcada para entrar em vigor em março de 2026, a legislação exigirá que as plataformas digitais verifiquem a idade dos usuários e barrem o acesso daqueles para quem seu conteúdo possa ser considerado impróprio devido à idade.
O que rolou?

A classificação indicativa é o conjunto de informação para orientar pais, mães e responsáveis sobre quão adequado um conteúdo é para crianças e adolescentes de diferentes faixas etárias (live, 10, 12, 14, 16 e 18 anos). Os critérios para o MJSP enquadrar obras audiovisuais, games, eventos ao vivo nessas categorias são dispostos nos Guias Práticos de Classificação Indicativa. O último é de 2021, mas:
- Na próxima quarta-feira (15), o MJSP vai apresentar em portaria um novo eixo da classificação indicativa, chamado de interatividade. Com isso, um novo guia deve ser publicado. Quer dizer que...
 - ... Em vez de avaliar apenas o conteúdo, a nova regra vai avaliar também funcionalidades. Atualmente, uma obra é considerada adequada ou nociva em diferentes graus conforme os níveis de cenas com "sexo e nudez", "drogas" e "violência". Só que...
 - ... Isso inviabiliza uma análise objetiva de plataformas cujo conteúdo não é estanque, mas, sim, gerado conforme as pessoas a utilizam. Com a mudança, passam a ser contempladas serviços e produtos digitais...
 - ... A nova regra incluirá uma amplitude de aplicativos, das lojas de e-commerce às redes sociais, passando pelos serviços de inteligência artificial.
 
Se coleta dados para fingir a localização, se tem filtro de beleza de imagem, se tem a possibilidade de adultos entrarem em contato com crianças num chat não supervisionado. A gente sabe de vários estudos e de metodologias consagradas de proteção da infância online que boa parte dos riscos que se encontram em ambiente online não são necessariamente ligados ao conteúdo audiovisual, mas a essas interações e as funcionalidades que as permitem
Ricardo Lins Horta, Diretor de Segurança e Prevenção de Riscos no Ambiente Digital do MJSP
Por que é importante?
A repaginação da classificação indicativa é fruto de um novo olhar para os ambientes em que crianças e adolescentes circulam, já que o digital passa a ter mais força. É por isso que, dentro do MJSP, essa incumbência trocou de área: saiu da secretaria voltada ao consumidor e foi para a de direitos digitais.
Na prática, a nova resolução é fruto de uma consulta pública realizada entre abril e junho. Em paralelo, a pasta tem consultado empresas digitais sobre qual faixa seria a mais adequada para seus produtos. Essas opiniões serão submetidas à Coordenação-Geral de Classificação Indicativa, que decidirá a faixa mais apropriada.
Serviços de IA já são usados amplamente por crianças e adolescentes, seja para estudar (sete a cada dez alunos brasileiros com acesso a internet são adeptos), seja como companhia para conversar sobre quaisquer assuntos. Observadores veem nessa interação sérias implicações para a saúde mental, segurança e estabilidade emocional.
No fim de setembro, a OpenAI liberou controles parentais para o ChatGPT para os responsáveis estabelecerem limites no modo como os filhos usam o chat.
Eu acho muito difícil o ChatGPT ser [classificação] livre. Dando um exemplo: essas ferramentas de propósito geral provavelmente nessa nova classificação vão todas ali para alguma daquelas faixas de adolescente
Ricardo Lins Horta, Diretor de Segurança e Prevenção de Riscos no Ambiente Digital do MJSP
Não é bem assim, mas tá quase lá

Também na quarta, o MJSP iniciará uma consulta pública sobre os métodos de verificação etária em plataformas digitais, como mostrou o UOL. O objetivo é subsidiar o futuro decreto do Poder Executivo que regulamentará esse ponto em aberto do ECA Digital.
A nova legislação prevê que a classificação indicativa seja usada pelas plataformas digitais para barrar o acesso de determinados usuários. Em seu artigo 8, ela diz que:
Os fornecedores de produtos ou serviços de tecnologia da informação direcionados a crianças e a adolescentes ou de acesso provável por eles deverão (...) oferecer sistemas e processos projetados para impedir que crianças e adolescentes encontrem, por meio do produto ou serviço, conteúdos ilegais e pornográficos, bem como outros conteúdos manifestamente inadequados à sua faixa etária, conforme as normas de classificação indicativa e a legislação aplicável
O princípio da classificação indicativa não ser um instrumento de censura ou promover a autocensura. Ou seja, impedir que obras sejam vistas. Por exemplo, em sessões de cinema cujo filme é para maiores de 16 anos, menores dessa idade podem entrar, desde que acompanhados de pais, mães e responsáveis. O ECA Digital prevê que as plataformas digitais adotem mecanismos de supervisão parental. Mas este é outro ponto que ainda precisa ser definido pelo Poder Executivo.
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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