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Indústria gaúcha espera que aumento de tarifas do EUA seja revertido

A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos e que está prevista para valer a partir de 1º de agosto está gerando muita apreensão entre os exportadores gaúchos. No entanto, a expectativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) é que ocorra uma reversão da decisão e que o incremento acabe não acontecendo.

“Acredito que o presidente (Donald) Trump não venha a exercer esses 50% anunciados. Em casos parecidos com outros países, ele acabou negociando. Por isso, o caminho é a mediação, a conciliação”, defende o presidente da Fiergs, Claudio Bier. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações gaúchas (8,22% do total exportado em 2024, superados apenas pela China) e o terceiro país nas importações do Rio Grande do Sul (10,7%, atrás de chineses e argentinos). No ano passado, as exportações para aquela nação a partir do Estado alcançaram cerca de US$ 1,8 bilhão e as importações em torno de US$ 1,4 bilhão.

O gerente de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiergs, Luciano D’Andrea, argumenta que, se o aumento de tarifas acabar se confirmando, o que ele reforça que espera que não aconteça, haverá um relevante impacto para muitas companhias do Rio Grande do Sul, com perda de competitividade, de clientes e de posição de mercado. D’Andrea comenta que a estimativa é que 2,2% do faturamento da indústria do Rio Grande do Sul esteja vinculado às exportações aos Estados Unidos.

Entretanto, ele comenta que há setores em que o reflexo seria maior, como o de madeira, em que as exportações para os EUA representam mais de 11% do faturamento. “Por consequência, as empresas poderão ter que fazer ajustes em termos de empregos, mas a gente espera que não chegue a esse ponto”, enfatiza o gerente de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiergs. Ele alerta que a questão das tarifas também pode ter impactos secundários como, por exemplo, a alta do dólar.

Entre os segmentos gaúchos que poderão ficar mais expostos se as exportações aos Estados Unidos tiverem a oneração extra, D’Andrea cita o metalmecânico, armas, ferramentas, produtos de jardinagem e cutelaria. De acordo com a Fiergs, 46% das exportações de produtos de metal oriundas do Rio Grande do Sul têm como destino os Estados Unidos. Outro segmento muito afetado seria o de máquinas e materiais elétricos (como transformadores), que tem uma dependência de 42% de suas vendas externas para os norte-americanos. Porém, percentualmente, o setor de armas e munições é o que mais exporta para os EUA desde o Rio Grande do Sul, com um índice de 86%.

Na questão de montante, D’Andrea recorda que o tabaco, único segmento gaúcho que superou o patamar de US$ 200 milhões vendidos para os Estados Unidos no ano passado, representa a maior cifra exportada para aquela nação. Contudo, a sua dependência não é tão grande (8,9%), pois as empresas dessa área também vendem muito para outros países.

O especialista reforça ainda que, se for adotada a reciprocidade da medida por parte do governo brasileiro, sobretaxando as importações dos Estados Unidos, haverá efeitos também nas importações. Quanto às compras gaúchas feitas a partir dos Estados Unidos, o principal produto nessa categoria são os combustíveis, representando mais da metade do valor das importações.

Por sua vez, o professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Augusto Mussi Alvim destaca que a notícia do aumento das tarifas ainda é muito recente e o incremento nem começou a ser aplicado. “Pode ser que não seja efetivado, eu acredito que vai haver uma reversão”, diz Alvim.

Porém, esse cenário atual, salienta o professor, eleva a incerteza e os riscos para os estados exportadores brasileiros, inclusive para o Rio Grande do Sul. Se não houver uma reversão da decisão do presidente Trump, Alvim adianta que a perspectiva é de quedas de exportações para os Estados Unidos, com a realocação desses produtos para outros mercados internacionais e para o interno. No entanto, ele admite que é difícil projetar quanto esses outros destinos poderiam absorver essas vendas.

Segundo o professor da Pucrs, já houve incrementos de tarifas por parte dos Estados Unidos no passado, mas sempre de uma forma mais pontual, discreta e normalmente específica quanto a algum produto para proteger determinado setor. “Agora não, é um aumento linear de 50% em todas as tarifas”, assinala.

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