Não é por coincidência que, nos contingentes em situação de insegurança alimentar severa, predominem domicílios mais pobres, com dependentes menores de idade, chefiados por pretos, indígenas e mulheres. Pobreza e desigualdades, principalmente de renda, que atingem as populações socialmente mais vulneráveis, estão na base do problema.
Levantamento recente do Made-USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades), divulgado também na segunda-feira (13), foi mais um que evidenciou "associações entre a insegurança alimentar, a concentração de renda e as desigualdades que com ela se interseccionam."
Também não é coincidência que a insegurança alimentar severa tenha voltado a aumentar no Brasil depois de 2016 e até 2022. A fome havia atingiu seu nível mínimo histórico em 2013, quando ainda afetava 2,8% dos domicílios brasileiros. Mas voltou a recrudescer e bateu em 4,6% dos lares em 2018, seguindo-se uma explosão, com a fome atingindo 10% dos domicílios em 2020, ano da eclosão da pandemia de covid-19, e avançando até 15% do total de lares em 2022, de acordo com levantamentos da Rede Penssan, ONG que de dedica a pesquisas sobre segurança alimentar.
No período dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, programas de incentivos à agricultura familiar e de distribuição de alimentos foram abandonados ou mantidos em versões restritas, ao lado da ocorrência de distorções no Bolsa Família e descontroles no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais).
Até mesmo ações em paralelo, que concorrem para o combate à fome, como o programa de cisternas no semi-árido nordestino, foram reduzidas ao mínimo, quando não abandonadas, no período Temer-Bolsonaro. Sem falar em medidas de impacto negativo nos preços dos alimentos, como a redução a zero dos estoques reguladores, tradicionalmente mantidos pelo governo.
Os dados agora conhecidos de redução da fome no Brasil evidenciam os efeitos rápidos da retomada de programas de aquisição de alimentos pelo governo, incluindo os específicos destinados à alimentação escolar, ao lado de revisões nos critérios de habilitação para o Bolsa Família e de inscrições no CadÚnico.
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