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Crédito, Ricardo Stuckert / PR
- Author, Julia Braun
- Role, Enviada da BBC News Brasil a Paris (França)
Há 28 minutos
Em visita de Estado à França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um investimento bilionário de empresários locais no país durante coletiva de imprensa para jornalistas em Paris neste sábado (7/6). Ao mesmo tempo, o chefe de Estado brasileiro fez mais uma vez pressão sobre o líder francês, Emmanuel Macron, pela aprovação do acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul.
Segundo Lula, empresários franceses se comprometeram a investir R$ 100 bilhões no Brasil até 2030.
O compromisso foi anunciado ao governo brasileiro durante uma reunião realizada no dia anterior, às margens do Fórum Econômico França-Brasil, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Segundo Jorge Viana, presidente da organização, um dos empresários presentes na reunião com o presidente Lula foi Jean-Pierre Clamadieu, presidente do conselho de administração da Engie, multinacional francesa do setor de energia. Ele também integra o conselho da Business France, basicamente uma versão francesa da Apex.
"É uma vergonha que um país do tamanho do Brasil, oitava economia do mundo, e um país do tamanho da França, que é a quinta ou a sexta, só tenha fluxo de US$ 9 bilhões. É pouco", disse Lula neste sábado, ao anunciar o investimento. "Então, eu fiquei muito feliz que esses 15 empresários franceses pediram a reunião comigo."
A França é a 7ª maior economia do mundo em PIB nominal em 2025, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)
O chefe de Estado brasileiro também defendeu sua agenda de viagens ao exterior.
Segundo Lula, muitos o questionam sobre seus gastos nos giros internacionais, mas ele defendeu que têm valido a pena.
"Eu não sei quanto tô gastando porque não cuido disso. Mas sei o quanto estou levando de volta para o Brasil", afirmou.
"O Brasil precisa deixar de ser pequeno. O Brasil precisa se colocar como um país grande. Os nossos embaixadores têm que pensar grande. A gente não é menor nem inferior do que ninguém", argumentou.
'Negociador do Macron deve fazer a proposta'
Crédito, LUDOVIC MARIN/POOL/EPA-EFE/Shutterstock
Também na manhã deste sábado (7), Lula voltou a abordar as negociações para a aprovação final do acordo UE-Mercosul.
Ele foi questionado sobre uma proposta de modificação no texto atual, que teria sido entregue à delegação brasileira pelo líder francês Emmanuel Macron durante o encontro bilateral no Palácio do Eliseu na quinta-feira (5/6).
Em entrevista à GloboNews, o chefe de Estado francês disse ter exposto seu plano a Lula, mas não detalhou quais mudanças foram sugeridas.
O presidente brasileiro, porém, disse que não recebeu uma proposta do contraparte francês, mas sim uma "tese". Não ficou claro ao que exatamente ele estava se referindo.
Lula afirmou ainda que se Macron tem problemas com o acordo atual, deve pedir a seus negociadores na UE que façam propostas alternativas.
"É um acordo entre União Europeia e Mercosul, que envolve uma somatória de 31 países", disse. "Então, o companheiro Macron, se tem algum problema que ele acha que fere os pequenos produtores franceses, eu acho que o negociador do Macron na União Europeia deve fazer a proposta", disse Lula.
O petista afirmou ainda que as queixas apresentadas pelo governante francês se referem a uma versão anterior do acordo, promovida pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"É importante lembrar que o Macron se queixa de um acordo que foi feito pelo governo brasileiro anterior com a União Europeia. E quando nós tomamos posse, a gente não aceitou aquele acordo e por isso nós fizemos mudanças", disse. "E foi estranho, porque o Macron falou comigo do acordo feito no governo passado."
O avanço das negociações para colocar o tratado em vigor é tema prioritário da política externa de Lula, mas encontra uma clara objeção por parte do governo de Emmanuel Macron — que comanda hoje a segunda maior economia da UE.
O acordo foi assinado no final do ano passado, mas ainda precisa ser ratificado pelo Parlamento Europeu e os legislativos de cada país de ambos os blocos.
Quando a finalização das negociações foi anunciada durante encontro do Mercosul em Montevidéu em dezembro de 2024, o governo da França já havia se manifestado e classificado a versão aprovada do pacto como "inaceitável".
A oposição francesa se deve principalmente à forte objeção de produtores agrícolas. O setor alega que a entrada em vigor do tratado colocaria em risco milhares de empregos ao abrir as portas do mercado francês a produtos agrícolas produzidos sem os mesmos padrões de qualidade ambiental e sanitários exigidos dos fazendeiros franceses.
Durante o encontro entre Lula e Macron no Palácio do Eliseu nesta semana, as discordâncias em torno do tema foram mais uma vez expostas.
"Este acordo, nesse momento estratégico, é bom para muitos setores grandes, mas comporta um risco para os agricultores europeus", disse o líder francês em declaração à imprensa após reunião com a delegação brasileira.
O presidente francês apontou que, enquanto a Europa proíbe o uso de certos agrotóxicos e exige práticas mais sustentáveis de seus agricultores, os países do Mercosul não estão sujeitos às mesmas restrições.
"Eu não saberia explicar aos agricultores como, no momento em que eu lhes peço que respeitem mais normas, eu abro maciçamente o meu mercado a quem não respeita nada. Então é por isso que, como disse antes, nós devemos melhorar este acordo", afirmou o chefe de Estado francês.
Na véspera da visita de Estado do presidente brasileiro à França, parlamentares franceses reuniram diversos setores agrícolas na Assembleia Nacional para reafirmar sua oposição ao acordo.
Jean-François Guihard, presidente da Associação Interprofissional da Pecuária e da Carne (Interbev), pediu que Macron fosse "extremamente firme" com Lula "para dizer que esse acordo não é possível".
O chefe de Estado brasileiro, por sua vez, insiste nas vantagens do pacto e afirma que está disposto a dialogar com os agricultores franceses para destravar as negociações.
"O que eu disse ao presidente Macron é que seria importante que os agricultores franceses se reunissem com os agricultores brasileiros, porque ao invés de antagonismo, a nossa agricultura pequena e média possivelmente terá muita complementariedade", disse neste sábado.
"Seria o acordo mais excepcional já feito neste começo de século e uma resposta ao unilateralismo. Queremos mostrar que o multilateralismo vai sobreviver e que ele é a razão pela qual o mundo deu um salto de qualidade depois da Segunda Guerra Mundial".
Lula afirmou ainda que, apesar da Comissão Europeia e de sua presidente, Ursula von der Leyen, terem poder para aprovar o acordo apesar da oposição francesa, não quer "que seja um acordo que as pessoas fiquem de cara feia".
"Eu estou convencido - até eu deixar a presidência do Mercosul, nós vamos ter esse acordo assinado", completou, em referência à liderança rotativa brasileira no bloco, que se inicia em julho e tem duração de seis meses.
Ligação para Trump
Na coletiva de imprensa da manhã deste sábado, Lula também falou sobre sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, em Nice, marcada para segunda-feira (9/6) e os preparativos para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) que acontece em novembro em Belém.
"Nós vamos fazer uma COP muito séria, sabe? Nada de muita festa, vai ser muito debate, muita discussão", disse.
Ainda segundo o presidente, a intenção é organizar um encontro entre os chefes de Estado participantes alguns dias antes do início oficial da cúpula, para que os temas possam ser aprofundados.
E segundo Lula, se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não confirmar presença, ele fará uma ligação para exigir sua presença.
"Se até perto o Trump não confirmar que vem, eu pessoalmente vou ligar para ele e falar: 'Ô, cara, Trump, olha a COP aqui no Brasil. Vamos discutir esse negócio'", disse. "Os Estados Unidos é um país importante, é muito rico, mas também poluiu muito. E polui ainda. Então, como é que não vai participar?".
Assinatura de acordos
Lula iniciou sua viagem pela França com a visita de Estado, em Paris. Durante os dias de encontros, foram assinados 20 atos entre as duas nações.
Outro ponto da agenda econômica tratado nas reuniões na França foi a possibilidade de estreitar um acordo para a produção de helicópteros na sede da Helibras, em Itajubá (MG).
Em Paris, Lula também recebeu uma homenagem na Academia Francesa, equivalente à Academia Brasileira de Letras, e o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Paris 8, localizada em Saint-Denis, na periferia da capital francesa.
Neste sábado, o presidente e sua comitiva partiram para Nice, onde acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos.
Na segunda-feira, após discursar no evento, Lula segue para Lyon, para uma visita à sede da Interpol. A organização é atualmente comandada pelo brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal.
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