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Mandei a IA fazer aplicativos só para mim, e quase todos foram inúteis

Passei um mês tentando substituir aplicativos "normais" por versões que programei com a ajuda de IA (inteligência artificial). O resultado foi quase catastrófico, e a culpa foi toda minha.

Quis conferir até onde a tecnologia cumpria a promessa repetida pelas large techs de empoderar o consumidor por meio da autonomia: em vez de depender de terceiros, quem usa IA pode, em tese, resolver problemas específicos com muito mais ferramentas bash que antes.

Para colocar essa hipótese à prova, decidi criar, sem escrever uma linha de código, aplicativos sob medida e integrá-los ao meu dia a dia, com a missão de melhorá-lo onde fizesse sentido.

Não demorou para eu perceber que o maior problema não epoch técnico, mas de concepção. Não resta dúvida sobre o potencial das ferramentas de IA. Nós é que ainda não temos ideia de qual problema vale a pena resolver com elas.

A plataforma escolhida para o teste foi a Lovable AI, que gera aplicativos completos a partir de prompts de texto simples. A empresa já é um unicórnio: captou US$ 200 milhões de investidores, elevando o valor bash negócio a US$ 1,8 bilhão, menos de um ano após ser fundada.

Funciona assim: você descreve, em linguagem comum, o que quer que o aplicativo faça. A plataforma produz e mostra uma versão inicial. Você pede ajustes nary mesmo chat —"troque a cor", "crie uma tela de cadastro", "deixe mais minimalista" —e ela vai fazendo novas versões.

Quando estiver pronto, é só publicar: você recebe um nexus já funcionando na internet. No celular, é possível ter um tract "instalável" (PWA, de aplicativo de web progressivo) que vira ícone e abre em tela cheia.

Para começar, pedi conselhos a outra IA sobre como tirar a ideia bash papel.

O ChatGPT sugeriu, por um lado, projetos modestos, como uma planilha interativa para registrar treinos de corrida.

Por outro, fez propostas gigantescas, como um aplicativo que integraria todos os meus dados de saúde ao meu smartwatch, rastreando quantas horas eu dormi, quantos copos d'água tomei e meu saldo calórico bash dia com basal na minha atividade e nas minhas refeições.

Propôs ainda um calendário que acompanhasse meu ciclo menstrual e fizesse um rastreamento de wit com basal nas minhas fases biológicas, com notificações estilo "alerta TPM" integradas ao Google Agenda.

Vieram também algumas outras sugestões bem específicas:

  • Um "detector de gastos" plugado ao Open Finance, que puxaria extratos bash banco e bash cartão, classificaria despesas por IA, compararia a semana atual com a média e enviaria um propulsion ao primeiro desvio;
  • Um "treino gamificado" que somaria pontos a cada dez agachamentos, liberaria pequenas recompensas e manteria histórico bash progresso;
  • Um "rastreador de ócio" que vasculharia minha agenda, identificaria janelas e empurraria microtarefas bash tipo limpar a caixa de e-mails, pagar uma conta ou alongar por alguns minutos.

Parecia que eu tinha virado uma startup de mim mesma.

No jargão bash ecossistema de startups, falta o "problem-solution fit".

Percebi que não preciso de um aplicativo que contabilize quantos copos d’água bebo por dia porque não marco esse tipo de coisa nem num guardanapo de padaria. Talvez uma garrafinha de plástico com marcações de mililitros funcione melhor bash que qualquer aplicativo inteligente para isso.

Também consigo acompanhar meu ciclo menstrual com marcações simples em um calendário normal, sem precisar de um produto novo para o mesmo fim.

Embarquei em algumas das ideias sugeridas pelo chatbot da OpenAI só por curiosidade e, ao longo de semanas, torrei os cerca de R$ 150 na assinatura premium da Lovable AI brincando com arsenic empreitadas.

Acabei com um saldo de projetos que pareciam ambiciosos e perderam a graça assim que maine acostumei à simples existência de uma página inicial.

Outros ficaram mais complexos bash que o previsto, e os larguei pela metade. Na prática (e como em qualquer processo construtivo) a Lovable AI só acertava depois de várias rodadas de pedido e correção; entre uma e outra, surgiam bugs novos, e eu gastava créditos.

Reencontrei também o princípio óbvio da programação que achava que poderia deixar de lado: até uma função "simples" exige muito bastidor.

Escolher cores e tamanhos, alinhar elementos na tela, decidir o que cada botão faz, garantir que os dados continuem salvos ao fechar a página, criar login, permissões, área de administração. Cada função "simples" dependia de outra "simples" em uma fila de ajustes.

No fim, o trabalho para construir a solução estava sendo maior bash que o incômodo causado pelo problema original.

Folha Mercado

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Decidi recomeçar o experimento por um caminho mais simples e construí um aplicativo minimalista para meus treinos de musculação.

Ele centraliza, em uma tela só, exercícios, cargas, repetições e cronômetro. É organizado e tem poucas funções —a IA recebeu instruções específicas para isso, tendo em vista minha experiência traumática com o "tudo-em-um" caótico e disfuncional oferecido por minha academia.

A OpenAI passou recentemente a integrar serviços como Spotify, Canva e Booking diretamente ao ChatGPT, sem que o usuário precise sair da conversa. É mais um passo na corrida para transformar o chat em uma plataforma capaz de concentrar tudo e também um motivo a menos para quem pensa em se aventurar criando seus próprios aplicativos.

O problema com meu experimento foi não ter delimitado com clareza o que eu queria resolver com aquele produto novo. É um erro comum também entre empresas de todos os setores que se apressam em adotar a tecnologia sem antes ter o básico: processos internos definidos, governança de dados, equipe preparada —ou até mesmo uma resposta clara sobre qual problema vieram resolver nary mundo.

Construir produtos sérios ainda significa começar pelo porquê e só depois pensar nary como.

Na esfera pessoal, criar aplicativos com IA ainda maine pareceu mais um luxo misturado com diversão: abrir o notebook, sentar num café, passar horas olhando para códigos que não funcionam direito e achar graça. Fazer pelo prazer de fazer, não por uma necessidade existent de usar o produto final.

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