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Militares sustentaram ditadura Vargas e depois deram golpe que encerrou o Estado Novo

Em 2025, o Brasil celebra dois marcos históricos com uma característica em comum. Tanto no caso da ditadura militar, há 40 anos, como no do Estado Novo, há 80, os militares controlaram a transição para a redemocratização.

No caso do regime de Getúlio Vargas, as Forças Armadas, especialmente seu alto comando, passaram de base de sustentação a opositoras e pressionaram para que o país passasse por uma abertura com eleições competitivas.

Para Carlos Daróz, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, a contradição entre manter um regime autoritário no Brasil e mandar soldados para morrer combatendo ditaduras na Europa durante a Segunda Guerra Mundial ampliou as tensões entre os militares e o presidente.

Além disso, havia um temor de que Getúlio desse um novo autogolpe para continuar no poder.

Os militares estiveram por trás dos momentos mais cruciais para a consolidação do Estado Novo: no combate à Intentona Comunista, em 1935, e ao levante integralista, em 1938, e na elaboração do Plano Cohen, um documento falso que acusava judeus e comunistas de planejarem um golpe no Brasil e que serviu de base para o fechamento do Congresso e o início da ditadura, em 1937.

Após a entrada do país na Segunda Guerra, a industrialização e a urbanização aceleraram, e manifestações sociais, antes vetadas pela censura, tornaram-se cada vez mais comuns.

"Tivemos uma oxigenação política maior. A sociedade começou a se organizar através de manifestos e organizações, e Getúlio teve uma habilidade extraordinária de perceber os novos tempos" afirma Paulo Ribeiro da Cunha, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Com a vitória na Europa iminente, os militares passaram a olhar a própria posição no Brasil. Os diferentes setores da sociedade que ganhavam voz na imprensa e nos sindicatos já pediam pela reabertura do Congresso.

Para Daróz, ao perceberem que uma reabertura convulsionada poderia colocar sua posição em risco, os fardados decidiram apoiar a redemocratização, garantindo assim o seu lugar no novo regime.

"Mais do que depor o presidente, os militares se colocaram como árbitros do processo de redemocratização, garantindo a realização de eleições presidenciais e o respeito ao calendário eleitoral. Ou seja, além de romper com o Estado Novo, eles buscaram preservar a estabilidade institucional, assumindo uma postura de tutela sobre a transição", diz.

A partir de então, criou-se uma pressão por eleições democráticas e pela anistia aos presos políticos, no geral comunistas envolvidos com a Intentona de 1935 e integralistas presos após a tentativa de golpe de 1938.

Paulo afirma que as pressões sociais indicaram que o país já não estava mais afeito a quarteladas, o que aumentou a pressão sobre Getúlio, que ainda buscava continuar no poder.

Mesmo com a anistia concedida aos perseguidos pela ditadura, ele diz que as Forças Armadas dificultaram a volta dos ex-militares de esquerda anistiados ao oficialato. "Havia condicionantes que diziam que só teria uma reintegração às Forças Armadas após uma avaliação interna dos comandos. Então o que acontecia? Os militares de direita voltaram, bastava requerer. Os de esquerda não conseguiram".

Em maio de 1945, foram publicados os decretos de anistia e de convocação de novas eleições, para dezembro do mesmo ano. Em outubro, uma crise entre Vargas e o comando da polícia no Rio de Janeiro levantou suspeitas na caserna sobre um possível autogolpe, e os chefes militares exigiram a renúncia do ditador.

Entre as peças importantes para o golpe que encerrou o Estado Novo figuravam militares que estavam ao lado de Getúlio na instauração do regime, como Góis Monteiro, chefe do Exército por boa parte do período, e Ernesto Geisel, futuro ditador que esteve a favor de Vargas no golpe de 1930 e contra ele em 1945.

Outro militar que liderou a derrubada de Getúlio foi o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra, escolhido pelo Partido Social Democrático como candidato à Presidência. Em 2 de dezembro, foi eleito com 55% dos votos —e o apoio do presidente.

Com a renúncia do ditador, o Exército convidou o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, para comandar a República. À época, não havia vice nem presidentes do Congresso, que estava fechado. Em janeiro de 1946, Linhares passou a faixa para o militar Dutra comandar o país.

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