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Não era ingenuidade: por que EUA cobravam tarifas mais baixas de importação

Ideia por trás das tarifas baixas é antiga e se baseia no conceito de vantagem comparativa, proposto no século 19 por David Ricardo. A lógica é simples: cada país se especializa no que faz melhor, aumentando a eficiência da produção global.

Além disso, a política econômica americana sempre buscou fortalecer o poder de compra da população. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca que os EUA se beneficiaram ao manter um equilíbrio comercial positivo. "Mesmo com tarifas [de importação] mais altas em alguns produtos, o país exportava bens que tinham valor agregado muito maior", afirma. Essa troca permitiu, na avaliação de Cruz, que o país mantivesse a inflação sob controle, o que, por sua vez, impulsionava o crescimento econômico. "A baixa inflação favoreceu o poder de compra da população, o que ajudou a manter uma economia aquecida", acrescenta.

Comércio no mundo se fortaleceu após a Segunda Guerra Mundial, quando os EUA assumiram o papel de promotor do livre comércio, ajudando a criar um mercado global. "Mesmo com tarifas altas, os EUA se beneficiavam ao exportar tecnologia de ponta para os países mais pobres", afirma Cruz.

Globalização, especialmente a partir dos anos 1990, impulsionou ainda mais essa dinâmica. A integração de mercados permitiu a formação de cadeias produtivas globais, como a produção na Ásia e o design nos EUA. Com isso, os preços de muitos bens caíram, beneficiando os consumidores americanos, como aponta Leila Ghiorzi, mestre em economia e head de conteúdo da Faz Capital. "Os EUA mantiveram a inflação baixa ao importar produtos mais baratos, o que favoreceu o crescimento da economia", explica. Ela lembra que, ao mesmo tempo, os Estados Unidos conseguiram manter a indústria de alta tecnologia competitiva.

Entretanto, essa estratégia começou a ser contestada com o crescimento da China. O governo de Donald Trump intensificou o protecionismo, com a imposição de tarifas mais altas. Para especialistas, esse movimento não é só econômico, mas também geopolítico. A competição entre EUA e China tem alterado a dinâmica do comércio global, que já não é mais tão centrado apenas em interesses econômicos.

Apesar de tudo, globalização não acabou, mas está sendo reconfigurada. Para Ghiorzi, o novo conceito de "slowbalization" está ganhando força, com cadeias produtivas mais curtas e maior foco em resiliência. O movimento de "reshoring" e "friendshoring" —que busca trazer a produção de volta para casa ou para países aliados, é uma resposta às novas tensões geopolíticas. A estratégia dos EUA, antes baseada na colaboração global, agora reflete um cenário mais fragmentado, com uma competição acirrada entre blocos econômicos.

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