Taylor Swift vestida como showgirl, com uma elaborada coroa de strass, rodeada por penas de tom vermelho carmesim

Crédito, TAS Rights Management

Legenda da foto, O 12° álbum de Taylor Swift vem do 'lugar mais alegre, selvagem, dramático e contagiante', segundo ela própria, antes do lançamento
    • Author, Mark Savage
    • Role, Repórter de música, BBC News
  • Há 3 minutos

Na última vez em que encontramos Taylor Swift, ela estava fora de controle.

Seu último álbum, The Tortured Poets Department (2024), foi uma depuração emocional — um atordoado post mortem de dois rompimentos amargos e turbulentos.

Nós a encontramos no seu pior momento, "zangada" e "chorando na academia", depois de desperdiçar sua juventude em um relacionamento de seis anos com o ator britânico Joe Alwyn, que acabou chegando ao fim.

Dezoito meses depois, ela está de volta com a última atualização sobre sua vida e a história é muito diferente.

Gravado em momentos intercalados com a sua recordista turnê Eras (2023-2024), o novo álbum encontra a artista de 35 anos feliz, energizada e apaixonada pelo jogador de futebol americano Travis Kelce.

"Este álbum conta o que aconteceu por trás das câmeras, na minha vida privada, durante esta turnê, que foi tão exuberante, elétrica e vibrante", declarou ela ao podcast de Kelce, New Heights, no mês passado.

Para capturar esta dinâmica, ela não produziu o álbum com seu colaborador de longa data, Jack Antonoff, e suas produções suaves que definiram os sons dos álbuns Midnights (2022) e Tortured Poets Department.

Swift optou pelos gênios suecos do pop Max Martin e Shellback, que já haviam trabalhado com ela em sucessos como I Knew You Were Trouble (2012) e Shake it Off (2014).

O objetivo, segundo a cantora, foi produzir um álbum coeso e compacto de canções de sucesso, sem "encher linguiça", com "melodias tão contagiantes que você quase tem raiva delas".

Mas chega de preâmbulo. Afinal, o álbum The Life of a Showgirl é um sucesso cravejado de strass ou uma catástrofe marcada por refrões?

Close do rosto de Taylor Swift, olhando para o lado

Crédito, Doug Peters/PA Wire

Legenda da foto, Com apenas 41 minutos de duração, o novo álbum de Taylor Swift é 'coeso e compacto'

Vamos direto ao ponto: o álbum é um triunfo.

The Life of a Showgirl é uma combinação de composições irresistíveis e produção perspicaz, que atinge facilmente o ambicioso objetivo que Swift definiu para si mesma.

Os fãs que esperam um retorno ao pop maximalista dos álbuns Red (2012) e 1989 (2014) poderão se surpreender.

As novas músicas de Taylor Swift são mais agradáveis e selecionadas do que suas colaborações anteriores com Martin. Elas reproduzem a textura atmosférica dos recentes sucessos do produtor para The Weeknd e Ariana Grande.

Mas não há um grama de gordura sequer em nenhuma dessas canções.

Com 41 minutos, The Life of a Showgirl é o álbum mais curto já lançado por Swift desde o início da carreira, em 2006. E seu foco concentrado é um alívio bem recebido, após a gigantesca verborragia de Tortured Poets.

Shellback, Taylor Swift e Max Martin no estúdio de gravação

Crédito, Max Martin/Instagram

Legenda da foto, Max Martin (dir.) é o autor recordista de singles que atingiram o primeiro lugar nos Estados Unidos depois dos Beatles. Eles incluem ...Baby One More Time (1998), de Britney Spears, e Blinding Lights (2019), de The Weeknd.

Tematicamente, as novas letras de Taylor Swift têm duas linhas distintas.

Metade das 12 canções do álbum contam como é se sentir completamente apaixonada, bobificada, de joelhos por alguém. As restantes abordam o lado obscuro e decadente da fama.

Ao longo do álbum, encontramos alguns clássicos, como a imagem caricata de uma dançarina "brilhando como a ponta de um cigarro" ou a comparação entre as farpas de um crítico e "um chihuahua de brinquedo latindo em uma bolsa minúscula".

No mais — e não consigo acreditar que estou escrevendo isso — o álbum inclui uma canção repleta de insinuações à diversão.

Taylor Swift e Travis Kelce em um jogo de futebol americano. O braço dele está sobre o ombro dela e ela segura o dedo médio dele com a mão esquerda.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Taylor Swift começou a namorar Travis Kelce depois de se encontrarem nos camarins da turnê Eras. O casal anunciou seu noivado no mês passado.

Mas a abertura do álbum é desorientadora.

Os fãs acreditavam que a canção The Fate of Ophelia conectaria Swift à história shakespeariana da mulher nobre, tomada por um acesso maníaco, depois de enlouquecer com o luto.

Mas ela conta como Kelce a "salvou" daquele destino.

A faixa é de um pop cristalino, repleta de belas referências ao seu relacionamento, incluindo o time de Kelce, o Kansas City Chiefs, e o número 100 (que é a soma do número da camisa de Kelce, 87, e do número da sorte de Swift, 13).

"Ouvi você me chamando no megafone", canta ela, reconhecendo que seu romance começou quando Kelce declarou publicamente sua afeição por ela, no seu podcast, em julho de 2023. "Se você nunca tivesse vindo me buscar, eu poderia ter afundado na melancolia."

Musicalmente falando, a canção inclui um artifício inteligente, ao adicionar um compasso a mais em versos alternados. É como se Swift se prolongasse naqueles momentos, recolhida demais nos seus sentimentos para continuar.

O álbum é salpicado de pequenos floreios como este. E é um supremo prazer.

Capa do álbum de Taylor Swift, The Life of a Showgirl, mostrando a estrela submersa na água, ainda com a roupa que usou no palco

Crédito, TAS Rights Management

Legenda da foto, A capa do álbum mostra Swift submersa na água, mergulhando após um show em um 'momento fora do palco'. É um símbolo que mostra que o álbum conta 'o que aconteceu fora do palco', segundo ela

A temática apaixonada prossegue com Opalite. Seus acordes descontraídos e harmonia no mesmo estilo do grupo Abba se desenrolam como um florescente romance. E, em Wi$h Li$t, Swift se liberta do típico roteiro hollywoodiano para uma vida de felicidade doméstica.

"Eles querem aquele sucesso de crítica com a Palma de Ouro e um Oscar pelo piso do banheiro", destaca ela. "Eu só quero você."

(Mais "dois filhos" com "um melhor amigo que, para mim, é sexy").

Mas o tributo a Kelce mais revelador talvez seja Wood, uma faixa staccato dançante, recheada com um riff de guitarra dos Jackson 5, essencialmente com duplo sentido.

Ali, encontramos uma Taylor Swift supersticiosa "batendo na madeira" para que seu relacionamento seja duradouro. E batendo na madeira no quarto, em um inesperado tributo à masculinidade do seu noivo.

É uma bobagem tão inesperada que dei altas risadas.

O mesmo vale para Actually Romantic, uma canção incrivelmente sarcástica sobre outra estrela do pop (cujo nome não é revelado), que chama Swift de "Barbie chata" e escreve canções contando como as pessoas a odeiam.

Acompanhada de sons de guitarra distorcidos e uma forte batida, Taylor solta um insulto, com um toque de psicologia reversa.

"Parecia sórdido, mas a sensação é que você está flertando comigo. Todo o esforço que você depositou, na verdade, é romântico."

Ela continua ajustando contas em Father Figure, a história mordaz de um protegido traiçoeiro, que interpola o clássico de George Michael com o mesmo nome.

Os fãs certamente irão à loucura tentando descobrir a identidade da pessoa envolvida. Mas, para mim, a canção parece mais um conto de moralidade sobre alguém poderoso do setor musical, que detém o poder de destruir quem não for "leal com a família".

Repleta de sequências cinematográficas e mudanças de tom desorientadoras, ela se reúne a Bad Blood (2014), No Body, No Crime (2020) e Vigilante Shit (2022), no catálogo cada vez maior de hinos de vingança de Swift.

Taylor Swift no palco da turnê Era, com confete explodindo à sua volta

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A turnê Eras rendeu um recorde de bilheteria de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,7 bilhões), sem contar os milhões com merchandising

Mas a melhor faixa do álbum é a suave balada Ruin the Friendship.

Voltando no tempo até os dias do ensino médio de Taylor Swift no Estado americano do Tennessee, a canção é uma reminiscência de um menino que ela confinou à zona da amizade enquanto desejava um único beijo.

Delicada e nostálgica, a canção tem uma reviravolta de partir o coração no terceiro verso, quando a melhor amiga de Swift na vida real, Abigail Anderson, liga para avisar que seu antigo colega da escola morreu e ela pega um voo noturno para comparecer ao funeral.

Em um álbum dedicado principalmente ao contentamento, o pesar e a tristeza nos atingem com força redobrada.

O álbum termina com a canção-título, um animado dueto com Sabrina Carpenter, que serve de conto de alerta sobre o estrelato.

É a única canção que realmente aborda o conceito da showgirl, com um interlúdio percussivo e dançante, além de impactantes mudanças de tom, com as estrelas trocando versos sobre a sua indústria selvagem.

"Todos os retratos nas paredes do salão de dança são das vadias que gostariam que eu morresse logo de uma vez", canta Swift.

Então, vem o refrão: "Mas, agora, eu sou imortal, querida."

Parece um retorno deliberado para Look What You Made Me Do (2017), escrita em uma época em que Swift enfrentava seus piores ataques, após um confronto público com o rapper Kanye West e meses de comentários negativos na imprensa.

Na época, ela cantou: "A velha Taylor não pode atender o telefone agora... Por quê? Oh, porque ela morreu."

Em 2025, com o mundo aos seus pés, Taylor Swift pode finalmente dizer com segurança que seu lugar na história da música pop está garantido.

The Life of a Showgirl é sua triunfante volta olímpica.