Em contato com o diretor da área internacional do Noroeste à época, Nelson Sakagushi, o nigeriano propôs um investimento de US$ 242 milhões para erguer um aeroporto em Abuja, capital do país africano. A promessa era de lucros rápidos e de participação em um projeto estatal, com uma polpuda comissão para o executivo.
Para convencer Sakagushi, Nwude apresentou contratos, licenças e selos com aparência oficial. Reuniões em hotéis, com atores fazendo o papel de autoridades, completavam a encenação.
Entre 1995 e 1998, foram autorizadas transferências milionárias a partir do banco. Cada remessa reforçava a confiança de que o negócio era legítimo.
Uma auditoria apontou que o dinheiro do banco havia sumido. Em entrevista em 1998, quando a falcatrua foi descoberta, o diretor do Noroeste disse que a transação foi feita por meio de uma empresa de fachada, utilizando uma agência do Noroeste nas Ilhas Cayman.
O golpe
A quadrilha reunia falsos funcionários de governo, advogados e intermediários. Cada um tinha função específica para manter a história de pé.
As cartas ministeriais e garantias bancárias eram falsificadas com uma qualidade superior. Parte do dinheiro passava por bancos europeus antes de chegar aos golpistas, dificultando o rastreamento.
Ao final, cerca de US$ 242 milhões saíram dos cofres do Noroeste, resultando na investigação contra Sakagushi. Ele receberia uma comissão pela construção do aeroporto, que nunca chegou a existir.
A perda enfraqueceu a instituição, que foi vendida ao banco espanhol Santander em 1998. Parte do valor foi recuperada, mas longe da totalidade.
Esse tipo de golpe acabou conhecido como "419 nigeriano", referência ao artigo do Código Penal daquele país que trata de fraudes. Nele, os criminosos enviam cartas ou e-mails para as vítimas oferecendo grandes quantias de dinheiro que estão condicionadas a um pequeno pagamento inicial para liberar os valores, algo que nunca ocorre.
Esse golpe também é conhecido golpe 419, fraude nigeriana, golpe do adiantamento de taxa ou golpe do príncipe nigeriano, e é bem comum até os dias de hoje, inclusive no Brasil.
Mãe de santo
No Brasil, a fraude ganhou contornos inesperados, envolvendo, inclusive, uma mãe de santo de Campinas. Ela foi apontada pela Polícia Federal como peça importante para lavar parte do dinheiro segundo relatos do período.
À época, Maria Rodrigues da Silva, que já morreu, disse ser a guia espiritual do executivo do Noroeste. Um dos advogados do banco alegou que ele deu US$ 10 milhões à mãe de santo para que ela o ajudasse a trazer o dinheiro de volta após perceber, desesperado, que não havia nenhum aeroporto sendo construído.
Entre outras tarefas, Maria Rodrigues benzia documentos e fazia despachos. Sakagushi foi questionado pela direção do banco sobre o motivo de ter repassado tal quantia para a mãe de santo. Alegou que, para o tipo de trabalho que ela realizaria, teria de comprar 10 mil pombas brancas para fazer um despacho.
A descoberta
Em 1997, autoridades suíças estranharam transferências volumosas vindas do Noroeste. O alerta levou a uma auditoria interna.
Com a compra do banco pelo Santander em 1998, a apuração se aprofundou. Os novos controladores queriam entender a origem das remessas internacionais.
Só então ficou claro que o aeroporto em Abuja não existia. Nenhum terreno havia sido adquirido e não havia contratos oficiais na Nigéria.
O caso revelou falhas graves no controle de operações internacionais. Também mostrou como as "cartas nigerianas" podiam escalar para cifras bilionárias.
Julgamento
Emmanuel Nwude foi preso na Nigéria em 2004, após anos de investigações e pedidos de cooperação internacional. Ele foi condenado a cinco anos de prisão e obrigado a devolver parte do dinheiro desviado.
Outros membros da quadrilha receberam penas de prisão no país africano. Alguns foram libertados após cumprir parte da pena, enquanto disputas judiciais sobre valores recuperados continuaram por anos.
No Brasil, executivos do Noroeste também foram processados. Eles respondiam por autorizar remessas milionárias sem as verificações exigidas para operações desse porte.
Apesar das condenações, parte da fortuna jamais foi localizada. O episódio permanece como um dos maiores golpes bancários do mundo, misturando promessas de infraestrutura, documentos falsos e personagens improváveis.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
1 mês atrás
19






:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)









Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro