Imagem extraída de um vídeo divulgado pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAPE) mostra a tornozeleira eletrônica danificada do ex-presidente Jair Bolsonaro

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Imagem extraída de um vídeo divulgado pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAPE) mostra a tornozeleira eletrônica danificada do ex-presidente Jair Bolsonaro
    • Author, Julia Braun
    • Role, Da BBC News Brasil em Londres
  • Há 15 minutos

A violação do equipamento foi um dos motivos alegados pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para decretar a prisão preventiva do ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, em Brasília.

Bolsonaro admitiu posteriormente ter utilizado um ferro de solda durante a madrugada de sábado (22/11) para tentar violar a tornozeleira, mas afirmou que interrompeu a ação por conta própria e comunicou posteriormente o ocorrido aos agentes responsáveis pelo monitoramento.

O jornal The New York Times destacou o fato na reportagem "Como uma tornozeleira eletrônica sabotada pôs fim à prisão domiciliar de Bolsonaro".

"Inicialmente, Bolsonaro disse à polícia que havia batido a tornozeleira eletrônica, causando seu mau funcionamento, segundo um relatório da autoridade prisional", diz o diário americano.

"Mas quando um agente no local perguntou sobre as marcas de queimadura no dispositivo, Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda para tentar derretê-lo. Em um vídeo da conversa divulgado pelas autoridades, Bolsonaro pode ser ouvido aparentemente dizendo à agente que havia começado a queimar a tornozeleira horas antes."

O ex-presidente Jair Bolsonaro (ao fundo, à direita) atrás de uma porta de vidro na sede da Polícia Federal em Brasília

Crédito, EPA/Shutterstock

Legenda da foto, O ex-presidente Jair Bolsonaro (ao fundo, à direita) atrás de uma porta de vidro na sede da Polícia Federal em Brasília

"Na ordem de prisão emitida no sábado, o juiz Alexandre de Moraes, responsável pelo caso, afirmou que as autoridades esgotaram todas as medidas cautelares", diz ainda o NYT.

Em sua decisão, Moraes também afirma ter identificado um risco concreto e iminente de fuga após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, convocar uma "vigília" em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente.

Em nota, a defesa do ex-presidente disse que a decisão de Moraes causou "profunda perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos está calcada em uma vigília de orações".

"A Constituição de 1988, com acerto, garante o direito de reunião a todos, em especial para garantir a liberdade religiosa. Apesar de afirmar a 'existência de gravíssimos indícios da eventual fuga', o fato é que o ex-presidente foi preso em sua casa, com tornozeleira eletrônica e sendo vigiado pelas autoridades policiais", disseram seus advogados.

"Além disso, o estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida em risco. A defesa vai apresentar o recurso cabível."

Ainda no sábado, Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente, falou a jornalistas que "a tornozeleira é uma narrativa que tenta justificar o injustificável", mas não respondeu sobre a violação causada por Bolsonaro no equipamento.

A BBC News Brasil questionou a defesa de Bolsonaro sobre a tentativa do ex-presidente de violar a tornozeleira, como ele próprio admitiu à PF, mas não recebeu resposta até o momento.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em frente à garagem de sua residência em Brasília, em 11 de setembro de 2025

Crédito, AFP via Getty Images

Legenda da foto, O ex-presidente Jair Bolsonaro em frente à garagem de sua residência em Brasília, em 11 de setembro de 2025

Em uma reportagem, a agência de notícias Reuters destacou o depoimento de Bolsonaro durante a audiência de custódia de sua prisão realizada no domingo (23/11).

"Bolsonaro afirma que medicamentos o fizeram adulterar dispositivo de rastreamento, o que levou à sua prisão", diz o título da matéria.

"Em uma audiência de custódia de 30 minutos no domingo, Bolsonaro negou qualquer intenção de fugir ou tentar remover a tornozeleira eletrônica", afirma a agência.

"Ele atribuiu seu comportamento a uma mistura de medicamentos anticonvulsivantes prescritos por diferentes médicos para seus soluços crônicos, o que o levou a imaginar que havia equipamentos de escuta dentro do dispositivo de rastreamento."

O ex-presidente relatou que estava fazendo uso de pregabalina — medicamento indicado para o tratamento de dores crônicas e dores de origem neurológica — e de sertralina — antidepressivo indicado para o tratamento de depressão e transtornos de ansiedade.

De acordo com Bolsonaro, a associação desses remédios teria provocado efeitos colaterais. Ele relatou ter acreditado que a tornozeleira eletrônica pudesse conter um dispositivo de escuta clandestino, o que teria motivado sua tentativa de mexer no equipamento.

O jornal francês Le Monde classificou a decisão de Moraes como uma "surpresa" para o Brasil.

"Jair Bolsonaro passou sua primeira noite na prisão – mas um pouco antes do que esperava. Em uma decisão que pegou o Brasil de surpresa, os tribunais ordenaram a prisão preventiva do ex-presidente de extrema-direita no sábado, 22 de novembro", diz o diário.

Flavio Bolsonaro.

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Legenda da foto, Convocação de vigília por Flávio foi citada por Moraes para determinar prisão preventiva de Bolsonaro

"Bolsonaro estava em prisão domiciliar rigorosa desde agosto, mas colocado atrás das grades de forma dramática em Brasília neste fim de semana", diz ainda o tabloide britânico The Sun.

"As autoridades disseram que foi uma medida preventiva para impedir uma tentativa de fuga que se suspeitava ter sido planejada para aquele mesmo dia."

O caso também foi destaque no jornal argentino Clarín e no site da emissora Al Jazeera, do Catar.

"Durante a audiência de domingo em Brasília, o ex-presidente disse a um juiz que estava tendo 'alucinações' de que havia um dispositivo de escuta em sua tornozeleira eletrônica, de acordo com os autos do processo", narra o Clarín.

"O tribunal manteve o mandado de prisão preventiva contra Bolsonaro e declarou que 'não houve abuso ou irregularidade por parte dos policiais responsáveis'", diz ainda a reportagem.

A Al Jazeera também contextualizou o caso de Bolsonaro, explicando que o ex-presidente foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro por "tentar dar um golpe de Estado e manter-se na presidência após a sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022".

"Na segunda-feira, o mesmo painel votará sobre a ordem de prisão preventiva", diz a reportagem no site da emissora.

A Al Jazeera destacou que "o presidente Lula fez seus primeiros comentários sobre a prisão de seu antecessor em uma reunião do Grupo dos 20 (G20) na África do Sul. 'O tribunal decidiu, está decidido. Todos sabem o que ele fez', disse Lula aos jornalistas."