Mulher caminhando na rua. Atrás dela há uma construção com um painel da COP30

Crédito, AFP via Getty Images

Legenda da foto, Conferência da ONU sobre o Clima acontece pela primeira vez no Brasil
    • Author, Mark Poynting
    • Role, Repórter de Clima da BBC News
    • Author, Iara Diniz
    • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
  • Há 2 horas

Lideranças mundiais vão se reunir em breve em Belém, no Pará, para a Conferência anual das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP).

Esta é a primeira vez que uma cidade brasileira sedia o evento.

A COP30 acontece 10 anos depois da assinatura do Acordo de Paris, no qual os países se comprometeram a tentar conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.

Contudo, o secretário-geral das ONU, António Guterres, já afirmou que "ultrapassar" a meta de 1,5°C, hoje, é inevitável.

É esperada a presença de chefes de Estado de diferentes países que, juntos, vão discutir soluções para enfrentar às mudanças climáticas.

No entanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está entre os líderes que não deve comparecer ao encontro.

O que é a COP30 e quando ela acontece?

A COP30 é o 30° encontro anual da ONU sobre mudanças climáticas.

O evento é o principal espaço de negociação e decisão sobre o clima no mundo e reúne representantes de diversos países, diplomatas, especialistas e ativistas.

Nesse encontro são definidas metas, tratados e mecanismos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar os impactos da crise climática.

COP significa "Conferências das Partes". As "Partes" são os quase 200 países que assinaram o acordo climático original da ONU em 1992.

A COP teve sua origem na Conferência Rio-92, onde foi firmada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Esse tratado internacional estabeleceu o compromisso de diversos países em controlar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, servindo como fundamento institucional para a criação das COPs.

A primeira COP foi realizada em Berlim, na Alemanha, em 1995.

Este ano, a conferência acontece entre os dias 10 e 21 de novembro. Mas as lideranças mundiais vão se reunir antes da abertura, na Cúpula dos Líderes, marcada para quinta (06/11) e sexta-feira (07/11).

A reunião frequentemente se estende além do previsto devido a negociações de última hora para garantir um acordo.

Letreiro da COP30 no Brasil

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Legenda da foto, Belém é a primeira cidade da Amazônia a sediar uma COP

Por que a COP30 acontece no Brasil?

O país anfitrião é escolhido pelos países participantes, mas precisa de uma indicação da região ao qual faz parte.

A movimentação para que a conferência fosse realizada no Brasil começou em 2022, durante a COP27 no Egito.

Em discurso na conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu para sediar o evento, destacando a importância da Amazônia para o mundo.

"Acho muito importante que as pessoas que defendem a Amazônia e que defendem o clima conheçam de perto o que é aquela região", disse na época.

Em janeiro de 2023, o Itamaraty formalizou a candidatura de Belém junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e Brasil conseguiu apoio unânime dos países latino-americanos para indicação.

A escolha de Belém foi feita em consenso durante sessão plenária da COP 28, realizada em Dubai, em dezembro de 2023.

Após o anúnico, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima e chefe da delegação brasileira, Marina Silva, destacou a responsabilidade de sediar a COP em uma cidade amazônica.

"A Amazônia nos mostra o caminho, com sua imensa biodiversidade e enorme território ameaçado pelas mudanças climáticas. Ela nos lembra o quanto as três Convenções do Rio estão entrelaçadas nos seus desafios, mas também nas soluções sinérgicas que abarcam. Realizar a COP 30 no seio da floresta é nos lembrarmos, com força, da responsabilidade de manter o planeta dentro da nossa missão de 1,5°C", afirmou na época.

Belém é a primeira cidade na Amazônia — a maior floresta do mundo — a sediar a Conferência sobre o Clima da ONU.

Polêmicas da COP30

A escolha de Belém trouxe desafios significativos.

A cidade tinha metade dos leitos necessários para hospedagem quando foi anunciada para sediar o evento.

Em 2023, como parte do esforço de ampliar os leitos em Belém, o governo do Pará determinou isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a empreendimentos de hospedagem que quisessem comprar mobiliário novo.

Além disso, o governo brasileiro contratou dois navios de cruzeiro para fornecer leitos extras para delegados.

Apesar disso, algumas delegações têm encontrado dificuldades para reservar hospedagem a preços acessíveis, o que gerou preocupações de que países mais pobres possam ser excluídos do evento devido aos preços altos.

Anúncios de suítes custando R$ 6,5 mil a diária e de apartamentos anunciados por quase R$ 1 milhão para 11 noites viralizaram e causaram até uma crise internacional para a organização da COP.

Representantes de 25 países chegaram a assinar uma carta na qual sugeriam que o evento fosse realizado em outra cidade, caso os preços não se adequassem. Já a ONU chegou a pedir ao Brasil para subsidiar hospedagens de países mais pobres.

No meio da crise, o governo brasileiro abriu a plataforma oficial de busca de quartos para oferecer hospedagens a preços mais baixos e tentou negociar com a rede hoteleira em Belém. Mas os valores continuaram sendo criticados pelos estrangeiros.

Só agora, a poucos dias da COP, os valores estão caindo.

Mas não foram só os preços dos hotéis que aumentaram. O açaí, base da alimentação dos moradores no Pará, também encareceu e isso tem impactado o consumo das famílias e de milhares de trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva.

Só nos quatro primeiros meses do ano, o preço do açaí tipo grosso, o mais apreciado, vendido ao consumidor em Belém aumentou 56%, segundo levantamento do Dieese-Pará: começou o ano em R$ 35,67 por litro e, no último mês, era vendido a R$ 52,10.

Além das mudanças climáticas que estão afetando o cultivo do alimento, a demanda local enfrenta concorrência da demanda global, já que o açaí virou um "superalimento" vendido em vários países do mundo.

Com isso, o alimento, que é como um arroz e feijão dos paraenses, tem ficado de fora do cardápio de muitas famílias.

Imagem de árvores cortadas na Amazônia

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Legenda da foto, Desmatamento da Amazônia para construção de estrada para a COP30 foi visto como controverso

A política ambiental do governo brasileiro também virou alvo de críticas.

Um editorial publicado por cientistas na revista científica Science, afirmou que "com exceção do Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, virtualmente todos os setores do governo promovem atividades que aumentam as emissões de gases do efeito estufa".

A decisão de desmatar a Amazônia para construir uma rodovia no meio da floresta, e facilitar o tráfego para a capital paraense durante a COP30, foi vista como controversa.

A estrada corta dezenas de milhares de hectares de floresta protegida. O governo estadual promoveu o projeto como "sustentável", mas moradores e ambientalistas pontuam o impacto ambiental.

O subsídio oferecido pelo Ministério da Agricultura para "transformar pastagens em plantações de soja" é outro elemento criticado como incentivador do desmatamento.

O Brasil também continua a conceder novas licenças para exploração de petróleo e gás que, junto com o carvão, são combustíveis fósseis — a principal causa do aquecimento global.

Operações de GLO durante a COP30

O uso das Forças Armadas está autorizado até 23 de novembro de 2025 e atende a um pedido do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

As operações de Garantia da Lei e da Ordem ocorrem quando os recursos das forças de segurança pública não são mais capazes de oferecer segurança, em situações graves de perturbação da ordem, ou em grandes eventos, como é o caso da COP.

Esse mesmo procedimento foi adotado em encontros recentes que reuniram lideranças internacionais, como a Cúpula do G20, em novembro do ano passado, e da reunião do BRICS, em julho deste ano, ambas ocorridas no Rio de Janeiro.

Em operações como essas, militares agem dentro de uma área delimitada e por um tempo determinado.

Além de Belém, a medida prevê ações nos municípios de Altamira (a 822 km de Belém) e Tucuruí (a 446 km da capital), voltadas à proteção das chamadas "infraestruturas críticas": usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, estações de tratamento de água e vias de acesso.

Segundo o Ministério da Defesa, apesar do emprego das Forças Armadas, a GLO é uma operação do tipo de "não guerra", por não envolver combate direto.

Quem vai à COP30 — e quem não vai

Trump em discurso na Assembleia Geral da ONU. Ele usa terno e fala em um microfone

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Legenda da foto, Trump é uma das lideranças que não deve comparecer à COP30

Representantes de vários países ao redor do mundo são esperados no encontro.

Segundo o Itaramaty, 143 delegações e 57 chefes de Estado e de governo confirmaram presença na Cúpula de Líderes.

O presidente da França, Emmanuel Macron, também está entre os nomes confirmados, assim como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Mas muitos líderes mundiais ainda não confirmaram presença e alguns não são esperados, como é o caso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Logo após sua posse, em janeiro de 2025, Trump prometeu se retirar do Acordo de Paris, que sustenta o compromisso internacional de enfrentamento às mudanças climáticas.

A ausência de representantes do governo dos Estados Unidos pode ser um obstáculo para as negociações climáticas internacionais.

O presidente da Argentina, Javier Milei, também não irá ao evento.

A China, o maior emissor de gases que causam o aquecimento global, deve enviar uma delegação, mas o presidente Xi Jinping provavelmente não comparecerá. Políticos serão acompanhados por diplomatas, jornalistas e ativistas.

Cúpulas anteriores foram criticadas pelo grande número de participantes ligados às indústrias de carvão, petróleo e gás.

Ativistas argumentam que isso demonstra a influência contínua dos defensores dos combustíveis fósseis.

Encontros bilaterais de Lula na COP30

O presidente Lula chegou em Belém no sábado (1/11) para participar de eventos na capital do Pará, como inauguração de obras. Lula vai ficar fora de Brasília de 1 a 10 de novembro.

Nesta quarta-feira (5/11), o presidente brasileiro deve realizar reuniões bilaterais com chefes de Estado que já chegaram ao país, antes de abrir oficialmente a conferência.

Esses encontros vão se estender nos dias 6 e 7, quando acontece a Cúpula dos Líderes.

O Itamaraty ainda não divulgou com quem Lula se reunirá, mas são esperadas reuniões com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, além de Emmanuel Macron, presidente da França.

A plenária de abertura, na quinta-feira, será conduzida pelo presidente Lula, que também presidirá três sessões temáticas.

Estão previstas sessões sobre Transição Energética e os 10 anos do Acordo de Paris, que abordarão as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o financiamento climático.

Além de Belém, Lula viaja a Fernando de Noronha no sábado (08/11), onde participa do lançamento de um novo projeto de energia renovável no arquipélago

O presidente retorna à Belém na segunda-feira (10) para participar da abertura oficial da COP.

Por que a COP30 é importante e o que é o Acordo de Paris?

A COP30 acontece em um momento crucial, com metas climáticas globais sob pressão.

Em Paris, em 2015, cerca de 200 países concordaram em tentar a tentar limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis do período "pré-industrial" e mantê-lo "bem abaixo" de 2°C.

Há evidências científicas consolidadas de que os impactos das mudanças climáticas — desde ondas extremas de calor até a elevação do nível do mar — seriam muito maiores a 2°C do que a 1,5°C.

Mas, embora o uso de energia renovável, especialmente a energia solar, esteja crescendo rapidamente, os planos climáticos dos países ficaram aquém do que é necessário para atingir a meta de 1,5°C.

Gráfico mostra como a temperatura do planeta aumentou

Antes da COP30, os países deveriam ter apresentado planos atualizados e detalhados de como eles vão reduzir suas emissões de gases que aquecem o planeta.

Contudo, apenas um terço dos países fez isso.

Considerando que o limite está próximo, o secretário-geral da ONU afirmou que ultrapassar 1,5°C é inevitável. Mas ele espera que as temperaturas ainda possam voltar a esse nível até o final do século.

A ONU espera que a COP30 demonstre comprometimento maior com o processo estabelecido em Paris.

Uma mulher segura uma criança do lado de fora da casa, completamente destruída

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Legenda da foto, Aquecimento global tem afetado populações ao redor do mundo como na Jamaica, devastada pelo furação Melissa

O que será discutido na COP30?

O Brasil espera chegar a um acordo sobre medidas para cumprir os compromissos assumidos em COPs anteriores.

Além dos novos planos dos países de redução de carbono, vários temas podem entrar em discussão.

Na COP28, em 2023, os países concordaram, pela primeira vez, sobre a necessidade de "fazer a transição para londe dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia".

Mas isso não foi reforçado na COP29, em 2024, como muitos esperavam.

Na COP29, os países mais ricos se cimprometeram a dar aos países em desenvolvimento pelo menos US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão, na cotação atual) por ano até 2035 para ajudá-los a enfrentar as mudanças climáticas.

Mas isso é muito menos do que os países mais pobres dizem precisar.

Esse acordo também incluía a aspiração de aumentar o valor para US$ 1,3 trilhão (R$ 7 trilhões) por meio de fontes públicas e privadas.

Contudo, poucos detalhes concretos foram divulgados sobre como isso será alcançado.

Na COP28, os países concordaram em triplicar a capacidade global de energias renováveis, como a eólica e a solar, até 2030.

Embora seja previsto um crescimento rápido das energias renováveis, a Agência Internacional de Energia diz que o mundo não está no caminho certo para atingir essa meta.

Uma possível novidade é o lançamento do "Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta encabeçada pelo Brasil que pretende remunerar países pela conservação das florestas tropicais.

O fundo visa evitar a perda das florestas.

Árvores na Amazônia

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Legenda da foto, A conservação da Amazônia é fundamental contra o aumento das temperaturas no planeta

A COP30 fará alguma diferença?

Um avanço importante para difícil este ano, principalmente pela influência da administração de Donald Trump.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente americano classificou as mudanças climáticas como "a maior farsa já perpetrada contra o mundo" e atacou falsamente as inúmeras evidências científicas sobre o aumento das temperaturas.

Ele também prometeu ampliar a exploração de petróleo e gás e reverter iniciativas ambientais adotadas por seus antecessores.

Tem sido difícil chegar a um consenso em outras negociações ambientais que aconteceram em 2025, como a tentativa de firmar o primeiro tratado global sobre plásticos, que fracassou pela segunda vez em agosto.

Em outubro, um acordo histórico para reduzir as emissões globais do setor de transporte marítimo foi adiado após pressão dos EUA e outros países.

Alguns observadores, como a ativista Greta Thunberg, acusaram COPs anteriores de greenwashing, permitindo que países e empresas promovam sua imagem ambiental sem realmente fazer as mudanças necessárias.

Mas acordos globais significativos já foram alcançados nas COPs, permitindo um progresso maior do que medidas isoladas de países.

Apesar das dificuldades para cumprir o limite de aquecimento de 1,5°C, esse compromisso tem impulsionado uma "ação climática quase universal", de acordo com a ONU.

Isso ajudou a reduzir o nível de aquecimento global projetado, embora o mundo ainda não esteja agindo com a rapidez necessária para atingir as metas do Acordo de Paris.