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Crédito, Corbis via Getty Images
- Author, Sarah Rainsford
- Role, Correspondente de Europa da BBC News em Roma
Há 5 minutos
Sonny Olumati nasceu em Roma e viveu na Itália a vida toda, mas o país que ele chama de lar não o reconhece como seu.
Na Itália, Sonny é nigeriano, assim como seu passaporte, e o homem de 39 anos só é bem-vindo enquanto tiver sua mais recente autorização de residência.
"Eu nasci aqui. Eu viverei aqui. Eu morrerei aqui", me diz o dançarino e ativista no que ele chama de "macarrônico" italiano-inglês sob as palmeiras de um parque romano decadente.
"Mas não ter cidadania é como... ser rejeitado pelo seu país. E eu não acho que esse seja um sentimento que deveríamos ter."
É por isso que Sonny e outros têm feito campanha pelo voto "Sim" em um referendo nacional neste domingo (8/6) e na segunda-feira (9/6), que propõe reduzir pela metade o tempo de residência necessário para solicitar a cidadania italiana, de dez para cinco anos.
Qualquer criança menor de 18 anos seria automaticamente naturalizada, juntamente com seus pais.
Reduzir o tempo de espera de 10 para cinco anos colocaria a Itália em linha com a maioria dos outros países europeus e, argumentam os proponentes, melhoraria a integração.
O referendo foi iniciado por uma iniciativa popular e conta com o apoio de grupos da sociedade civil. Mas, para que seja válido, 50% dos eleitores na Itália precisam comparecer.
Outros partidos aliados a ela estão pedindo aos italianos que vão à praia em vez de às urnas.
Sonny também não participará. Sem cidadania, ele não tem direito a votar.
A questão de quem pode ser considerado italiano é delicada no país.
Um grande número de migrantes e refugiados chega ao país todos os anos, após atravessarem o Mediterrâneo a partir do Norte da África por meio de gangues de contrabandistas.
O governo populista de Meloni fez questão de reduzir o número de chegadas.
Mas este referendo é voltado para aqueles que viajaram legalmente a trabalho para um país com uma população em rápido declínio e envelhecimento.
O objetivo é limitado: acelerar o processo de obtenção da cidadania, não flexibilizar os critérios rigorosos.
"Conhecimento da língua italiana, ausência de acusações criminais, residência contínua etc. — todos os requisitos permanecem os mesmos", diz Carla Taibi, do partido liberal Mais Europa, um dos vários apoiadores do referendo.
A reforma afetaria residentes estrangeiros de longa data já empregados na Itália e suas famílias: desde aqueles em linhas de produção no norte até aqueles que cuidam de aposentados em bairros luxuosos de Roma.
Até 1,4 milhão de pessoas poderiam se qualificar para a cidadania imediatamente, e algumas estimativas chegam a números ainda maiores.
"Essas pessoas vivem na Itália, estudam, trabalham e contribuem. Trata-se de mudar a percepção sobre elas para que não sejam mais estrangeiras, mas italianas", argumenta Taibi.
A reforma também teria implicações práticas.
Como não é italiano, Sonny não pode se candidatar a um emprego no setor público e teve dificuldades até para tirar a carteira de motorista.
Quando foi escalado para o reality show de sucesso Fame Island no ano passado, acabou chegando com duas semanas de atraso ao set de filmagem em Honduras devido a muitos problemas para obter a documentação necessária.
Por muito tempo, Meloni ignorou completamente o referendo.
A mídia pública italiana, administrada por um aliado próximo de Meloni, também colocou pouca atenção na votação.
Não há uma campanha substancial pelo "Não", dificultando um debate equilibrado.
Mas o verdadeiro motivo parece estratégico.
Crédito, Reuters
"Eles não querem conscientizar sobre a importância do referendo", diz o professor Roberto D'Alimonte, da Universidade Luiss, em Roma. "Isso é racional, para garantir que o limite de 50% não seja atingido."
A primeira-ministra acabou anunciando que compareceria a uma seção eleitoral "para demonstrar respeito às urnas" — mas se recusaria a votar.
"Quando você discorda, também tem a opção de se abster", disse Meloni em um programa de entrevistas na TV esta semana, depois que críticos a acusaram de desrespeitar a democracia.
O sistema de cidadania italiano era "excelente", argumentou ela, já concedendo cidadania a mais estrangeiros do que a maioria dos países da Europa: 217 mil no ano passado, segundo a agência nacional de estatísticas, Istat.
Mas cerca de 30 mil deles eram argentinos com ascendência italiana do outro lado do mundo, com pouca probabilidade de sequer visitarem o país.
Enquanto isso, o parceiro de coalizão de Meloni, Roberto Vannacci, da Liga, de direita radical, acusou os idealizadores do referendo de "vender nossa cidadania e apagar nossa identidade".
Pergunto a Sonny por que ele acha que seu próprio pedido de cidadania levou mais de duas décadas.
"É racismo", ele responde imediatamente.
Em dado momento, seu processo foi completamente perdido e agora ele foi informado de que seu caso está "pendente".
"Temos ministros que falam sobre supremacia branca — substituição racial da Itália", lembra o ativista de um comentário de 2023 do ministro da Agricultura do próprio partido de Meloni.
"Eles não querem imigração negra e nós sabemos disso. Nasci aqui há 39 anos, então sei o que digo."
É uma acusação que a primeira-ministra negou repetidamente.
'Italiana sem cidadania'
Insaf Dimassi, de 28 anos, define-se como "italiana sem cidadania".
"A Itália me permitiu crescer e me tornar a pessoa que sou hoje, então não ser vista como cidadã é extremamente doloroso e frustrante", diz ela, da cidade de Bolonha, no norte do país, onde cursa doutorado.
O pai de Insaf viajou para a Itália a trabalho quando ela era bebê, e ela e a mãe se juntaram a ele. Seus pais finalmente obtiveram a cidadania italiana 20 dias depois de Insaf completar 18 anos. Isso significou que ela teve que se candidatar do zero, incluindo a comprovação de renda estável.
Insaf optou por estudar.
"Cheguei aqui com nove meses de idade e, talvez aos 33 ou 34 anos — se tudo correr bem — eu possa finalmente ser cidadã italiana", diz ela.
Ela se lembra exatamente de quando a importância de seu status de "forasteira" a atingiu: quando foi convidada a concorrer às eleições ao lado de um candidato a prefeito em sua cidade natal.
Quando compartilhou a notícia com seus pais, cheia de entusiasmo, eles tiveram que lembrá-la de que ela não era italiana e não era elegível.
"Dizem que ser cidadão é uma questão de meritocracia, que é preciso conquistá-la. Mas, mais do que ser eu mesma, o que preciso demonstrar?", pergunta Insaf. "Não poder votar, ou ser representada, é ser invisível."
Na véspera do referendo, estudantes em Roma escreveram um chamado às urnas em uma praça da cidade.
"Vote 'SIM' nos dias 8 e 9 [de junho]", escreveram em letras gigantes de papelão.
Com um boicote do governo e uma publicidade tão escassa, as chances de atingir o limite mínimo de 50% de comparecimento parecem pequenas.
Mas Sonny argumenta que esta votação é apenas o começo.
"Mesmo que votem 'Não', ficaremos aqui — e pensaremos no próximo passo", diz ele. "Precisamos começar a discutir o lugar da nossa comunidade neste país."
Com reportagem adicional de Giulia Tommasi
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