ONG de ex-sócio do Master preso reuniu PT, PL, União Brasil, governador e prefeito na Bahia

O lançamento da ONG Terra Firme, em novembro de 2023, fez com que opositores políticos ferrenhos se reunissem no Museu de Arte Moderna da Bahia para festejar a nova iniciativa de Augusto Lima, que então era sócio do Banco Master.

Na terça-feira (18), Lima foi preso na operação Compliance Zero da Polícia Federal, que investiga crimes contra o sistema financeiro. Em nota à imprensa, seus advogados afirmaram que as operações investigadas são posteriores à sua saída do Master, em 2024, e, portanto, não têm relação com sua atuação profissional.

A lista de presença do evento de lançamento da ONG de Lima, que é presidida por sua esposa Flávia Peres, ex-deputada federal e ex-ministra do governo Jair Bolsonaro (PL), é reveladora do bom trânsito do banqueiro na classe política.

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) aproveitou o evento para lançar uma parceria com o instituto, que tem foco no enfrentamento à pobreza, combate à fome e inclusão social. Procurado para informar se a parceria, que previa a instalação de bancos de alimentos, segue vigente e os valores envolvidos, a gestão baiana não enviou resposta ao Painel.

Guga Lima, como é conhecido o empresário, é próximo das lideranças petistas mais fortes no estado, como o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ambos ex-governadores da Bahia.

Foi em 2018, durante a administração Costa na Bahia, que Lima comprou a rede estatal de supermercados Cesta do Povo, que comercializava produtos subsidiados.

O governador assinou um decreto semanas depois, segundo o qual os servidores públicos poderiam usar o Credcesta, um programa de crédito consignado, para comprar no Cesta do Povo, turbinando o negócio de Lima. Incorporado ao Master em 2019, o Credcesta se tornou um dos pilares de rentabilidade do banco.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, e seu padrinho político ACM Neto, ambos do União Brasil e antagonistas do PT, também participaram do lançamento do Instituto Terra Firme. Na ocasião, Reis disse que a prefeitura também seria parceira da ONG, assim como o governo.

Reportagem do portal Metrópoles mostrou que Reis e ACM Neto usaram um helicóptero emprestado por Lima para viagem em agenda oficial dois antes da prisão do banqueiro.

Na época do lançamento do instituto, repercutiu o encontro no evento entre o governador Jerônimo e João Roma (PL), ex-ministro bolsonarista. O petista foi perguntado por jornalistas a respeito da conversa que teve com Roma e respondeu que havia sido cordial, mas sem tratar de política.

O deputado federal Otto Alencar Filho (PSD), filho do senador Otto Alencar (PSD), também marcou presença.

No final de 2024, o Ministério Público da Bahia assinou um acordo de cooperação técnica com a ONG, com o objetivo de "estabelecer meios de colaboração para a troca de conhecimentos, recursos, experiências, elaboração de projetos, eventos e iniciativas, voltadas ao alcance dos resultados em prol da garantia dos direitos dos cidadãos do estado da Bahia".