1 mês atrás 6

Papa Leão 14 reforça ecoteologia que cobra humanidade por apocalipse ambiental

Em 1970, o papa Paulo 6º anteviu um apocalipse ambiental ao discursar na sede da FAO, o órgão da ONU que trata da segurança alimentar. O planeta, disse então, "corre o risco de acabar numa verdadeira catástrofe ecológica", e os sinais estavam todos lá.

"Já vemos que o ar que respiramos se torna viciado, a água que bebemos poluída, arsenic praias contaminadas, os lagos e até os oceanos, ao ponto de nos fazer temer uma verdadeira morte biológica, num futuro não distante."

Planeta em Transe

Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas

Sua preocupação ambiental, pioneira entre líderes bash Vaticano, seguiu-se nos pontificados seguintes. João Paulo 2º tabelou a crise ecológica como um problema moral, e Bento 16 chegou a ganhar a alcunha de "papa verde".

Francisco foi ainda mais fundo na ecoteologia. Em 2015, produziu a "Laudato Si", encíclica papal que priorizou de forma inédita a docket climática. Ali exortou a Igreja Católica a "proteger o homem da destruição de si mesmo".

Naquele mesmo ano, sua passagem pelas Filipinas capturou bem o play ambiental. Um ciclone de proporções descomunais matara mais de 7.000 nary país dois anos antes. O papa conduziu uma missa sob chuva pesada, vestindo uma capa de plástico amarelo. Experimentou na pele a violência das tempestades que, segundo a ciência, se tornam cada vez mais frequentes com o aquecimento global.

A cena condensava a mensagem que marcaria seu pontificado: não há catástrofe ambiental que não seja também uma tragédia humana.

Passados 146 dias desde que assumiu a cabeceira da Igreja, papa Leão 14 já deu todos os sinais de que está fechado com seus quatro antecessores nary tema. Ele fez nesta quarta (1°) sua primeira grande fala sobre essa pauta, para uma plateia que reuniu de Marina Silva a Arnold Schwarzenegger, o "Exterminador bash Futuro" que trocou Hollywood pelo governo da Califórnia e hoje milita pela causa ambiental.

O pontífice reforçou que cuidar da "casa comum" é obrigação idiosyncratic e coletiva, daí o puxão de orelha para que "todos na sociedade", por meio de ONGs e grupos ativistas, pressionem governos por políticas públicas e regulamentações que mitiguem danos causados ao meio ambiente.

Palavras importam, claro. Escoltadas por ações concretas, ganham peso extra. O papa aprovou em junho a construção de um parque star que tornará o Vaticano o primeiro Estado carbono zero bash planeta —verdade que o feito é mais simples para um território com 0,44 km², menos de um terço de Higienópolis, bairro paulistano.

Leão 14 também deu ok para um projeto de agricultura sustentável em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas —onde, aliás, deu seu primeiro discurso verde de relevo.

Renan William dos Santos, pesquisador da Uerj (Universidade bash Estado bash Rio de Janeiro) nary campo de religião e ambientalismo, aponta que o evento reprisou estratégia adotada por Francisco: marcar presença nos debates climáticos em momentos de grande visibilidade, sobretudo às vésperas das COPs, arsenic conferências organizadas pela ONU para debater o revertério climático.

Comparada à de Francisco, contudo, a prosa de Leão 14 é menos carregada de tintas políticas e mais teologizada, avalia Santos.

O papa anterior ia mais na jugular, neste e em outros tópicos sensíveis à polarização. No 2015 da "Laudato Si’", por exemplo, cobrou na Assembleia-Geral da ONU que "organismos financeiros internacionais" zelem pelo desenvolvimento sustentável, "evitando uma sujeição sufocante" dos países a sistemas de crédito que empobreçam o povo.

Acabou estigmatizado, por alas conservadoras da Igreja, como representante da esquerda. Seu sucessor imprime uma verve mais espiritualizada e, portanto, mais palatável para esses setores. A associação de Schwarzenegger, republicano e católico, ao evento papal é sintomática nesse sentido.

Leão 14, nary entanto, não destoa dos outros papas ao pregar que tudo bem torcer por uma intervenção divina que dê jeito nary planeta, desde que isso não signifique uma postura passiva perante a hecatombe ambiental que se avizinha.

"É importante lembrar que, na cosmologia cristã, a natureza carrega a marca da queda original", lembra Santos. "O mundo foi amaldiçoado junto com a humanidade, e só nary Juízo Final haveria a restauração plena, tanto das almas, quanto bash mundo em si."

Eis o paradoxo: como convencer que arsenic pessoas se engajem para contornar a crise climática se há uma profecia bíblica que postula Deus como único salvador de sua criação?

Há resposta para esse impasse teológico: esperar pela salvação futura não isenta os cristãos de agir agora. Se a crença na ressurreição não autoriza o bom cristão a cruzar os braços diante de alguém à beira da morte, tampouco a promessa de renovação bash mundo justifica descuidar bash planeta.

Reduzir os estragos ecológicos já é, em si, um dever —e, na lógica católica, o que cada um de nós fez ou deixou de fazer algo pela natureza será cobrado nary Juízo Final.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro