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Para Paula Mascarenhas, fusão do PSDB com Podemos fortalece o centro

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Partido com forte relevância política nos anos 1990 e 2000, tendo presidido o Brasil em dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e eleito a única governadora mulher no RS, em 2006, com Yeda Crusius, que aliás deixou a sigla no ano passado, o PSDB está passando por uma nova fase em nível nacional e no Rio Grande do Sul. No Estado, perdeu recentemente o seu principal quadro, a partir da saída do governador Eduardo Leite para se filiar ao PSD. No País, os tucanos estão iniciando um movimento de fusão com o Podemos, que deve concretizar a formação de um novo partido no início de junho.

Para entender este momento que o PSDB está passando tanto no RS quanto no Brasil, o Jornal do Comércio entrevistou a presidente estadual do partido e primeira vice-presidente da executiva nacional, Paula Mascarenhas. A tucana, que atualmente atua como secretária extraordinária de Relações Institucionais do governo do Estado, lamenta a saída de Eduardo Leite, de quem é muito próxima, tendo sido, inclusive, vice-prefeita de Pelotas ao seu lado, quando o governador ainda era chefe do Executivo municipal. Não vê, entretanto, que o movimento partidário de Leite signifique um rompimento com a legenda a qual foi filiado desde que iniciou a sua trajetória política.

Para Paula, a fusão com o Podemos é uma oportunidade do partido se fortalecer e apresentar uma agenda vinculada ao centro, fugindo, portanto, das disputas mais acirradas entre esquerda e direita. Para alcançar isso terá o desafio de manter quadros na agremiação partidária que irá se formar, tendo em vista que muitos deputados e prefeitos tucanos avaliam acompanhar Eduardo Leite e sair do PSDB.

Jornal do Comércio - O que significa, para o PSDB gaúcho, a saída do governador Eduardo Leite? Qual o peso disso?

Paula Mascarenhas - Obviamente, para qualquer partido, a saída de uma liderança da qualidade, do compromisso público, da experiência do governador Eduardo Leite é claro que é um peso, é uma grande perda para nós. O PSDB lamenta muito, não tem como não lamentar. Ainda mais que ele tem toda uma história no PSDB, ele foi a cara do PSDB, durante 24 anos de militância, desde que começou, na verdade, desde os 16 anos ele se filiou ao PSDB e todas as vitórias eleitorais, toda a experiência eleitoral dele até agora e toda a experiência pública foi no partido. Então, é uma perda significativa, não há dúvida. Por outro lado, nós sabemos que ele não saiu do partido por alguma desavença, por algum desacordo programático. Na verdade, ele saiu seguindo no mesmo campo, que é o centro democrático, lutando pelas mesmas causas, e guiado pelos mesmos valores e princípios. Então, a gente também entende, e respeita, na verdade, mais do que qualquer coisa, respeita a decisão. E no Rio Grande do Sul, especificamente, estamos no governo, a gente sempre fez política, e o governador defendeu a política. E, sobretudo, os acordos políticos, feitos com base em uma agenda, em um programa de transformações. E é isso que une o RS: o plano de governo que vem sendo colocado em execução e que é a liga, digamos assim, entre todos os partidos que compõem a base desse governo.

JC - E como o governador tratou de sua saída dentro do PSDB?

Paula - Ele vem conversando com as lideranças do partido já há um bom tempo sobre o futuro do PSDB, sobre o seu futuro. Isso já vem desde o ano passado. Não só comigo, mas com as lideranças em nível nacional também, com o presidente (nacional do PSDB) Marconi Perillo e outros, ou seja, não foi uma surpresa, todos sabiam que ele estava fazendo essas reflexões e que havia sim a possibilidade de que ele deixasse o partido. Não era certo, ele estava com dúvidas, refletindo profundamente. Então a gente sabia que existia essa possibilidade.

JC - A saída do governador está relacionada com o processo de fusão do PSDB com o Podemos?

Paula - Não, eu não creio. O próprio PSDB está em um processo de transição, em um processo de reflexão também, na busca por um fortalecimento justamente para poder manter esta linha que a gente defende. O governador acompanhou tudo isso, houve outras possibilidades, inclusive uma aproximação com o próprio PSD - isso eu estou dizendo porque foi público - e talvez essa aproximação pudesse estar mais de acordo com a visão do governador, tanto que ele acabou indo para esse partido. O que não significa, absolutamente, um rechaço ao Podemos, com quem o governador tem ótima relação, tanto em nível nacional, com a presidente Renata Abreu, quanto em nível estadual, já que o Podemos faz parte da sua base de apoio, tem inclusive secretarias (no governo do Estado), então é uma excelente relação. Não tem a ver com isso (a fusão), na verdade, mas talvez com outras alternativas possíveis.

JC - E como está avaliando este processo de fusão do PSDB com o Podemos? Acredita que é benéfico para o partido?

Paula - Acho que sim, acho que é benéfico, ele foi aprovado por unanimidade na executiva nacional, e eu sou a primeira vice-presidente do partido. Nós precisamos fortalecer o centro democrático, precisamos fortalecer partidos que tenham uma agenda comum. (O PSDB e o Podemos) não são iguais, obviamente, mas têm uma agenda comum, têm princípios similares, têm uma visão de Brasil, defendem justamente uma alternativa a essa polarização, e são partidos que sofreram justamente com essa radicalização dos polos e que perderam algum espaço por isso, mas a gente acha que é importantíssimo esse espaço que a gente ocupa, que ele seja fortalecido, então é importante que os partidos reconheçam o que os une e possam se aproximar através de fusões, enfim, qualquer alternativa jurídica, mas se aproximar para oferecer alternativas. Então, a gente vê com bons olhos, e dia 5 de junho vai haver uma Convenção Nacional para ratificar já este movimento.

JC - Tem se falado de uma busca por sobrevivência do PSDB a partir da fusão. Isso se deve à relevância política do partido ou à possibilidade que haveria de perder recursos do fundo partidário e tempo de rádio e TV?

Paula - Na verdade, uma coisa está ligada à outra. A gente defende a sobrevivência no sentido de ser um partido relevante, ser um partido que atraia afiliados, um partido que tem um espaço para se apresentar, e nesse sentido é que são importantes tanto os espaços de propaganda gratuita, quanto o fundo partidário. A possibilidade de poder se apresentar para a sociedade. Se apresentar no sentido de atrair pessoas para um tipo de política, sobretudo para uma agenda para o Brasil. O que o Brasil precisa, que rumos nós queremos para o nosso país? A gente quer ter espaço para defender essas ideias, que há muito tempo são defendidas pelo PSDB. Então, é também a luta por um espaço político sereno, respeitoso, plural, que valoriza a diversidade que existe no Brasil, que é um país riquíssimo e diverso, que respeita o pensamento divergente, que entende que a democracia é isso: o respeito a quem pensa diferente.

JC - Qual a sua avaliação dos motivos que levaram o PSDB a estar hoje nesta situação, tendo em vista que o partido já presidiu o Brasil em dois mandatos ?

Paula - São vários fatores. Não há dúvida que a radicalização da polarização entre o PT, e partidos que gravitam em torno do PT, e o PL, e o bolsonarismo mais do que qualquer coisa, reduziu os espaços de partidos que não são radicalizados, partidos que defendem justamente o equilíbrio. Isso parece que foi saindo de moda, quando, na verdade, a gente sente que as pessoas estão cansando dessa polarização. Famílias que tiveram rupturas, pessoas que se amavam se afastaram por conta de uma radicalização. A gente pode fazer política com firmeza, com convicções, sem precisar romper relações com quem pensa diferente. Mas quem defende isso ficou sem espaço, então acho que o PSDB foi muito vítima da polarização. O PSDB que polarizou com o PT durante um longo tempo da história recente brasileira, mas que polarizou muito mais em termos de conceitos, visões da política, agendas, posições diferentes a temas como, por exemplo, privatização, como avalia o mercado, a questão da responsabilidade fiscal também nos diferenciou muito, e o PSDB sempre defendendo a importância de cuidar das contas para poder cuidar das pessoas. Claro que talvez de alguns erros também, o PSDB em um certo momento se agigantou muito, acabou recebendo filiados de um espectro ideológico muito amplo, gente que ia da esquerda à direita no próprio partido e acho que isso prejudicou. Prejudicou porque o partido deixou de ter um perfil, acabou se identificando muito mais com um perfil "anti" alguma coisa, que é justamente o que a gente não quer, a gente não quer o "anti", a gente quer o "pró", a favor do Brasil.

JC - Apesar desta perda de protagonismo do PSDB em nível nacional, o partido ainda tem relevância no Estado, com prefeituras de grandes cidades e representatividade na Assembleia. Vincula essa resistência do partido no RS à figura do governador?

Paula - É uma soma de fatores, é o trabalho das lideranças todas. O governador, obviamente, fortaleceu o partido, não tenho a menor dúvida. Uma liderança com a capacidade dele, que foi galgando espaços, chegou ao governo do Estado, obviamente que isso é um polo atrator, mas eu não diria que é apenas isso. Não quero desvalorizar as demais lideranças, e acho que os deputados foram importantíssimos, construíram o partido no interior com muito esforço. Os deputados e ex-deputados, pessoas que há muitos anos fazem a história do PSDB, que garantiram a credibilidade do partido em todo o Estado e ajudaram a construir lideranças municipais, apoiaram candidatos a prefeito, a vereador, isso foi ampliando a nossa posição. Acho que os presidentes do partido que me antecederam também. É toda uma história, a gente já teve uma governadora do Estado também (Yeda Crusius), a gente tem uma história longa de lideranças importantes que construíram o partido.

JC - Muitos prefeitos e deputados estão avaliando sair do PSDB. A senhora está fazendo algum movimento para manter quadros?

Paula - Nós estamos, neste momento, ainda sob o impacto da saída do governador, e claro que isso é um momento em que cada um faz a sua avaliação e acho que tem que passar esse momento para a gente depois refletir com serenidade. Mas vamos sim fazer encontros do partido para manter (quadros), a gente estava fazendo encontros regionais, e depois pretendemos fazer um grande encontro em Porto Alegre. Obviamente a ideia do partido é manter todas as lideranças possíveis. É compreensível que muitos pensem em seguir o governador, na verdade isso é humano e compreensível, porque justamente estávamos lado a lado e seguimos lado a lado em um projeto do Estado. E o governador é carismático e representa muito o que nós pensamos, ele não mudou de ideias. Então a gente compreende que haja esse pensamento e respeitamos isso também. Absolutamente não há nenhuma ruptura nossa com o governador. O que há é que agora estamos em partidos diferentes, mas com todo o respeito e carinho que sempre tivemos. É a minha obrigação como presidente de tentar manter a integridade do partido, para que ele possa crescer agora justamente com esse movimento de fusão, é um momento de busca de fortalecimento, então a gente vai trabalhar nessa área, mas entendendo e respeitando as posições.

JC - A senhora avalia a possibilidade de sair do partido?

Paula - Em princípio, a minha decisão é de permanecer no partido, claro que avaliações serão feitas, porque a gente vai precisar reconstruir agora. O partido muda bastante no Estado, a gente vai ter que construir caminhos e vou me dedicar a isso com outras lideranças que têm essa mesma disposição, e as avaliações vão ser feitas ao longo desse caminho. Mas é importante dizer que eu conversei com o presidente Marconi Perillo assim que houve o anúncio do governador, dizendo da minha disposição, da responsabilidade que eu via em relação ao partido, e recebi dele um voto de confiança. Inclusive disse a ele, pela minha relação próxima ao governador, que todos sabem e eu jamais vou disfarçar isso, eu o deixei muito à vontade caso o partido achasse mais conveniente que eu abrisse o espaço para uma outra pessoa comandar o partido aqui. Mas disse que a minha disposição seria de me manter à frente do partido, porque me sinto realmente responsável, por ter sido eleita presidente, e ele me deu o seu voto de confiança, disse que conta comigo para isso, então isso me deixou tranquila e segura de estar fazendo a coisa certa, e vou trabalhar para honrar essa confiança. Não só dos meus pares, mas também do presidente nacional.

JC - Pretende se candidatar a algum cargo em 2026?

Paula - Sobre a candidatura, eu tenho dito que a política tem prazo de validade, tem prescrição, e quem determina isso é a população. A minha disposição, em princípio, seria de me candidatar sim no ano que vem, e estou avaliando a qual cargo, as coisas estão mudando muito, a política é muito dinâmica. Eu acredito muito na política como uma ferramenta poderosa de transformação das realidades, acho que posso contribuir nesse sentido, tenho uma disposição prévia de concorrer.

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