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Perplexity é confiável? Veja análise completa da IA para pesquisas

O Perplexity AI combina a inteligência artificial generativa com acesso a informações em tempo real e um sistema de citações que promete transparência e confiabilidade. No entanto, a IA está cercada de polêmicas, como múltiplos processos por direitos autorais movidos por gigantes como New York Times e BBC. Isso revela uma realidade complexa: a ferramenta que promete ser uma alternativa confiável à busca tradicional comete erros factuais frequentes, apresenta citações enganosas e enfrenta acusações graves de violação de padrões éticos da web. Pensando nisso, o TechTudo fez uma análise confrontando as promessas com testes práticos para que você, leitor, saiba se vale a pena confiar na ferramenta. A seguir, veja mais informações sobre a confiabilidade (ou não) do Perplexity AI.

Dá para confiar no Perplexity AI? Veja testes — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo Dá para confiar no Perplexity AI? Veja testes — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

1. Precisão das informações

 Reprodução/Gisele Veríssimo Testamos o Perplexity com dez perguntas sobre temas variados; veja como IA se saiu — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

Além do GPT-3.5 da OpenAI, o Perplexity utiliza o seu próprio modelo de IA: o Sonar Large, que busca informações na web em tempo real. Além disso, obtém dados de fontes variadas, o que inclui sites confiáveis, trabalhos acadêmicos e bancos de dados. No entanto, a ferramenta já deixou a desejar: Um estudo relatou que a Perplexity teve a menor taxa de citações incorretas entre os motores de busca de IA testados, mas ainda forneceu respostas incorretas em cerca de 37% dos casos. Nas situações de erro, a IA "alucinou" fatos, citou fontes incorretas ou, em um outro caso, inventou uma história completamente falsa, associando um nome real a um crime que nunca aconteceu.

No teste realizado pelo TechTudo, fizemos perguntas de diversas áreas do conhecimento, inclusive sobre atualidades, leis e fatos históricos. Ao comparar as respostas com o ChatGPT, uma diferença ficou clara: o Perplexity frequentemente preenche lacunas com informações que não existem.

O caso mais emblemático foi a pergunta "Qual é a biografia do físico brasileiro Carlos Mendes que desenvolveu o 'Efeito Mendes' na década de 1970?". O Perplexity atribuiu o termo a um físico brasileiro envolvido em experiências de quase-morte e divulgador científico no YouTube — algo sem respaldo acadêmico. Não existe na literatura científica qualquer "Efeito Mendes" da década de 1970, embora existam pesquisadores que levam esse nome, facilmente encontrados no Google. Aqui, o sistema “completou” a resposta com base em conteúdo audiovisual, criando a impressão de uma teoria estabelecida. Por outro lado, em uma pergunta sobre o relatório "Our Future Heritage", a ferramenta respondeu bem ao identificar que ele não existe.

Em temas factuais, como o acidente do voo LATAM 800 ou o Teorema da Incompletude, o Perplexity se saiu bem, mas tivemos outros problemas: confusão de datas (o voo citado aconteceu em ocorrido em 11 de março de 2024 e não no dia 15, como informado pela IA) e citações secundárias em vez de fontes primárias, sobretudo de fontes não tão confiáveis, como o Wikipedia por exemplo.

2. Sistema de citações e transparência

 Reprodução/Gisele Veríssimo Redes sociais são usadas como fonte no Perplexity — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

Este é o carro-chefe do Perplexity: cada resposta inclui citações com notas de rodapé numeradas para as fontes originais, permitindo verificação das informações. A ideia de ter notas de colocar links para as fontes é ótimo para verificação. Na prática, a execução é falha.

A Forbes, por exemplo, acusou o Perplexity de praticar um "plágio de IA", na qual a ferramenta resume e reproduz trechos de reportagens originais (inclusive de páginas com paywall) e, em vez de citar o veículo original, cita um agregador de notícias ou um site de terceiros que, por sua vez, pegou a informação da fonte primária. Isso dilui o crédito e dificulta a verificação.

No teste feito pelo TechTudo notamos que das dez perguntas feitas, apenas oito tinham links para confirmação. Além disso, o YouTube (com dois links na primeira resposta) não pode ser considerado uma fonte 100% confiável, pois não há um filtro para a criação de conteúdo. O mesmo acontece com o Wikipedia, de onde a IA tirou informações sobre o Teorema. Nesta plataforma, qualquer pessoa com uma conta poderá editar o conteúdo da página.

3. Questões legais e éticas

 Reprodução/Gisele Veríssimo Respostas do Perplexity sobre acusações de plágio — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

O Perplexity enfrenta atualmente casos movidos pela BBC, New York Times, Forbes e grandes jornais japoneses. As acusações incluem violação de copyright, reprodução de trechos completos de reportagens, acesso a conteúdos paywall, user agents falsos e IPs camuflados para ignorar o robots.txt, (um padrão da web onde sites indicam o que não pode ser "raspado").

Para reduzir a pressão, o Perplexity lançou um programa de parceria com empresas de comunicação como Time, Fortune e Entrepreneur, oferecendo participação em receita publicitária. Mas isso cobre apenas parte dos veículos e não resolve as investigações em andamento. No contexto brasileiro, ainda não houve processo formal, mas a ferramenta pode violar direitos de imprensa ao reproduzir conteúdo na íntegra.

 Reprodução/Perplexity Política de segurança do Perplexity: "não podemos garantir segurança perfeita" — Foto: Reprodução/Perplexity

A política de privacidade do Perplexity é vaga e menos detalhada que a de concorrentes como Google e OpenAI. Eles afirmam que há esforços para proteger as informações e a segurança, mas não detalham os mecanismos de criptografia ou o tratamento exato dos dados do usuário. Especialistas destacam também a indefinição sobre retenção do histórico e dependência de terceiros para parte da infraestrutura. Para uma ferramenta que pode ser usada para pesquisas sensíveis, a falta de transparência é um ponto de preocupação. Antes de inserir qualquer informação confidencial, é preciso ponderar os riscos.

5. Qualidade das Respostas vs. Criação de Conteúdo

 Reprodução/Gisele Veríssimo ChatGPT x Perplexity na criação de conteúdo — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

O Perplexity vai muito bem quando há abundância de notícias atualizadas: ele é rápido, direto, eficiente. Mas isso desaparece quando a pergunta exige rigor conceitual, precisão científica ou distinção entre opinião e evidência. E isso ficou evidente neste teste.

Perguntei sobre a eficácia da ivermectina para o tratamento da Covid-19 e ele respondeu: "estudos indicam que embora a ivermectina tenha propriedades antivirais e seja segura para uso em humanos, não há evidências científicas conclusivas para recomendar seu uso rutinário no tratamento da COVID-19, sendo necessários estudos controlados e randomizados adicionais para confirmação".

Primeiramente, questionei o sentido da palavra rutinário utilizada na resposta. Com a explicação, notei que se tratava na verdade de "rotineiro", aquilo que é feito no cotidiano. Não satisfeita, a IA utilizou a mesma palavra para me explicar a que se referia, mantendo-se no erro mesmo com o meu questionamento, embora tenha linkado para o dicionário a palavra correta. Em relação ao uso do medicamento em si, a IA não teve o cuidado de deixar claro que o consenso científico é negativo e que estudos favoráveis foram retratados ou desmentidos. Ou seja: ele entrega “a manchete”, mas não o contexto crítico.

Quando perguntei sobre o visto de trabalho no Canadá, ele afirmou que "não foi encontrado um resumo detalhado específico na busca". No caso da pergunta "quais foram as conclusões da investigação do TSE sobre as supostas fraudes nas urnas eletrônicas nas eleições de 2022?", o Perplexity enviou uma manchete de três anos atrás sem checar relatórios oficiais atuais. O Perplexity aqui priorizou parecer útil mesmo quando não tinha base sólida para afirmar o que disse.

Em relação à criação de conteúdo, comparei as respostas do Perplexity com o ChatGPT: este último se destaca pela sua capacidade criativa e versatilidade, gerando textos longos, narrativas e roteiros; já o Perplexity enviou algumas fontes, atuando mais como uma ferramenta de pesquisa que busca informações. Por isso, pode ser ideal para conteúdos explicativos, baseados em dados ou que exigem atualidade, mas com menos liberdade criativa.

 Reprodução/Gisele Veríssimo Mesmo quando confrontado, Perplexity permaneceu no erro — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

A versão gratuita é limitada (apenas 5 buscas no modo "Pro" por dia). Usuários relatam bugs constantes, travamentos e erros linguísticos básicos, como trocar artigos ("o" por "a"), o que quebra a fluidez. No teste, por exemplo, percebi o uso de uma palavra estranha e ele sustentou o uso dela, mesmo estando incorreto.

A promessa de "busca em tempo real" nem sempre se concretiza, com dados desatualizados aparecendo com frequência. Aqui, por exemplo, o Perplexity citou dados desatualizados ao responder sobre imigração para o Canadá e sobre a investigação do TSE. Ele também apresentou inconsistências nas referências citadas ao falar sobre ivermectina, misturando artigos desconexos. Isso reforça um padrão: mesmo com acesso à internet e na versão paga, ele nem sempre privilegia as fontes mais recentes ou mais institucionais.

7. Comparação com concorrentes

 Reprodução/Gisele Veríssimo Perplexity AI vs. ChatGPT: veja algumas diferenças entre os chatbots — Foto: Reprodução/Gisele Veríssimo

Na versão gratuita, o Perplexity cumpre bem seu papel quando a tarefa é “encontrar links rapidamente”, mas não é tão interessante quando a pergunta exige profundidade ou responsabilidade informacional. Entretanto, é preciso dizer que na versão paga o Perplexity respondeu às mesmas perguntas com um pouco mais de cuidado (pelo menos foi o que pareceu inicialmente). Na primeira, por exemplo, a IA identificou uma pessoa chamada Carlos Mendes mas reconheceu que não há um "Efeito Mendes" amplamente documentado na literatura científica; na segunda, falou sobre o incidente com o voo LATAM 800, mas corrigiu a data.

Porém, como nem tudo são flores, ele continuou errando: na resposta sobre o relatório Our Future Heritage ele fornece conclusões plausíveis sobre clima e patrimônio, mas o próprio relatório não é do IPCC e os links compartilhados não comprovam o que ele afirma, apenas tangenciam o assunto. Quando pedi as regras atualizadas da Copa do Mundo de 2026, ele trouxe notícias de três anos atrás e o mesmo acontece com as conclusões da investigação do TSE sobre fraudes nas urnas eletrônicas em 2022.

Em resumo, o Perplexity se destaca na comparação com concorrentes como o ChatGPT por sua velocidade e eficiência em buscas contextuais, funcionando como um "atendente de biblioteca digital" que rapidamente sintetiza informações da web e fornece links de referência. Sua interface intuitiva e capacidade de buscar em tempo real o tornam superior para tarefas que exigem dados atualizados ou uma visão geral rápida de um tópico.

No entanto, é justamente nesse ponto que ele também falha: a ferramenta frequentemente prioriza a entrega rápida de uma resposta bem estruturada em detrimento de uma verificação profunda da precisão factual. Enquanto um concorrente como o ChatGPT (especialmente na versão paga) pode oferecer análises mais criativas e aprofundadas, mesmo sem citações, o Perplexity pode gerar uma falsa sensação de segurança com respostas aparentemente bem fundamentadas que, na realidade, podem conter informações desatualizadas, imprecisas ou simplesmente "alucinadas" a partir de fontes não confiáveis. Assim, sua principal falha na concorrência é a inconsistência na confiabilidade informacional, exigindo que o usuário final sempre valide as informações fornecidas.

Afinal, o Perplexity é confiável?

O Perplexity vale a pena? Veja o que achamos — Foto: Reprodução/NewsBytes O Perplexity vale a pena? Veja o que achamos — Foto: Reprodução/NewsBytes

O Perplexity é uma ferramenta poderosa para quem prioriza agilidade em pesquisas e precisa de uma visão geral rápida de tópicos com ampla cobertura online. Sua interface, integração com a web em tempo real e sistema de citações o tornam interessante para tarefas como a localização de fontes iniciais. No entanto, o serviço ainda não pode ser considerado plenamente confiável.

A combinação de alucinações frequentes, citações que nem sempre corroboram o afirmado, uso de fontes secundárias e a repetição de informações desatualizadas ou imprecisas o impede de atingir um padrão de precisão robusto. Para o usuário final, isso significa que, apesar da aparência de autoridade, o Perplexity funciona melhor como um ponto de partida eficiente, mas nunca como uma fonte final e definitiva de informação, exigindo sempre uma verificação cruzada manual para garantir a integridade dos dados obtidos.

Para tarefas que demandam exatidão factual e profundidade analítica, ainda devem ser conduzidas com métodos de pesquisa tradicionais ou com o auxílio de outras ferramentas de IA que, embora possam ser menos ágeis, oferecem um processamento linguístico e uma confiabilidade conceitual superiores.

*Valor referente ao período de apuração da matéria, novembro de 2025

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