Apesar do impacto inicial da confirmação de um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) em uma granja comercial de Montenegro, com a suspensão das exportações de carne de frango de todo o Brasil para pelo menos 10 importantes destinos, as consequências para o setor não deverão ser tão graves como registrado em outras nações onde o vírus se propagou. Seja pela blindagem oferecida por um sistema robusto de biossegurança ou mesmo pela importância do País como fornecedor dessa proteína para o mundo, a expectativa é de que os embarques sejam retomados em até 60 dias, a exceção do Rio Grande do Sul.
Desde o final de semana, mais de 120 profissionais, entre fiscais estaduais agropecuários, técnicos agrícolas e outros cargos, servidores do Ministério da Agricultura, da Prefeitura de Montenegro e policiais militares atuam no interior do município onde foi identificado o foco da doença, confirmado na sexta-feira. Sete barreiras montadas para vistoriar e desinfectar veículos que transitam por estradas em raios de três e 10 quilômetros da propriedade transportando animais, ração e insumos. Até esta segunda-feira, quase todos os 520 criatórios comerciais e de subsistência localizados dentro desse perímetro já haviam sido visitados. A ideia é concluir essa etapa antes do fim da semana.
Terceiro maior produtor e maior exportador dessa proteína no mundo, com 38% do volume comercializado em 2024, totalizando 5,3 milhões de toneladas, o Brasil não tem substituto para fazer frente e roubar esse posto. Essa é a “melhor notícia” que surge em meio a um dos momentos mais delicados enfrentados pela indústria nacional do segmento, como sinal de que o cenário tende a se estabilizar logo adiante, avalia o analista do setor de carnes da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.
“Nenhum outro produtor tem condições de disponibilizar essa oferta. Embora o ano de 2025 deva ser desafiador, a situação tende a se normalizar nos próximos meses. É cedo para projetar o tamanho da queda nos negócios nesse intervalo. Mas ainda deveremos ter um volume de exportações superior a 5 milhões de toneladas”, projeta.

Exportações brasileiras de carne de frango e derivados representaram US$ 3,26 bilhões em 2024 JC
Parte dessa performance pode ser atribuída à estratégia do governo federal de ampliar o leque de clientes, diminuindo a dependência de grandes importadores, como a China, que absorve cerca de 13% de todas as exportações brasileiras de carne de frango, que somaram 5,3 milhões de toneladas – e 46% das 2,9 milhões de toneladas de carne bovina exportadas pelo Brasil em 2024. E, com diferentes termos estabelecidos nos acordos comerciais bilaterais, reduz o dano em situações como essa, observa a analista de mercado Juliana Pila, da Scot Consultoria, com sede em Bebedouros (SP).
Para a analista da Scot, o mais importante agora é a mobilização das autoridades federais, estaduais e da iniciativa privada para mostrar que o País tem condições de conter e lidar com casos isolados de forma rápida, eficaz e transparente. É o caminho para preservar o mais valioso ativo: a imagem internacional.
A conta mais alta dessa fatura deve mesmo ser paga pela indústria gaúcha, que já vinha lutando para recuperar os prejuízos verificados no ano passado, com a ocorrência de um foco de Newcastle em Anta Gorda. A produção de todo o Brasil está embargada para a China, a União Europeia, o Canadá, o México, a Coreia do Sul, o Chile, a Argentina, o Uruguai, a Malásia e a África do Sul. Mas outros países, como o Japão, suspenderam temporariamente as importações de carne de frango provenientes de Montenegro e de aves vivas de todo o RS, mas seguem aberto à entrada de produtos de outros Estados. O país asiático só ficou atrás dos chineses no ranking de destinos dessa proteína brasileira em 2024.
Cerca de 65% de toda a produção nacional é absorvida no mercado interno. No ano passado, o RS foi responsável por 11,4% do abate nacional de frangos. Mas houve uma diminuição de quase 50 milhões de aves em relação a 2023, por conta do impacto das enchentes e do caso de Newcastle. E as exportações sofreram uma queda de 6,5%, influenciada por desafios sanitários e logísticos, totalizando 691,7 mil toneladas.
Ainda assim, o Estado respondeu por cerca de 13% das vendas nacionais para o exterior, tendo destinado mais de 50% de sua produção ao mercado externo. E no primeiro trimestre de 2025, observou-se uma recuperação nas exportações, com um aumento de 13% em comparação ao mesmo período de 2024.
Agora, entretanto, a tendência é que outros Estados produtores, como Santa Catarina e Paraná, absorvam os mercados para onde o RS exporta. E a proteína gaúcha precisará buscar outros destinos – externos e internos.
“Com isso, somado ao período de suspensão das exportações de todo o País, a tendência é de uma oferta abundante no mercado brasileiro, ocasionando redução dos preços. Essa pressão baixista deve afetar também os cortes de carne suína e bovina, além de toda a cadeia de insumos”, diz Juliana.
O milho tem mais de 50% da produção destinada a alimentar frangos de corte e galinhas poedeiras. E a cotação está em queda com a colheita da safra e a expectativa de uma boa safrinha. A saca de 60 quilos do grão caiu de R$ 80,00 em março para R$ 67,00 em Erechim, aponta Fernando Iglesias, da Safras. Para ele, a baixa na cotação alivia a pressão sobre os custos dos produtores de proteína animal.
Os dois analistas concordam que o panorama será de diminuição na produção de carne de frango, principalmente no RS, para ajustar oferta e demanda e travar a queda nos preços internos.

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