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Protestos às margens das rodovias ganham força pelo interior do RS

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Produtores rurais de mais de 150 municípios gaúchos estão mobilizados desde o dia 20 de maio às margens de rodovias pelo Estado. E prometem assim permanecer até que o governo federal apresente uma solução para o endividamento de longo prazo, que vem sufocando o setor e aumentando as dificuldades a cada ano.

Nesta quinta-feira, pelo menos 25 piquetes foram montados, em diferentes regiões. Em cada um deles, os manifestantes abordam os motoristas que passam e distribuem panfletos nos quais resumem o drama que agrava a cada evento climático intenso sobre a produtividade das lavouras e dos campos.

A mobilização ganhou força depois da publicação de portaria do Conselho Monetário Nacional (CMN), há uma semana, permitindo aos agentes financeiros, a seu critério, prorrogar por até três anos o pagamento de todas as parcelas de contratos agrícolas com vencimento em 2025.

A medida foi tímida. Não atendeu à necessidade do setor, porque abrange apenas uma parte dos produtores. Já vínhamos nos articulando para uma manifestação, mas aguardávamos pelos desdobramentos em Brasília”, explicou Grazi Camargo, uma das coordenadoras do Movimento SOS Agro.

Nas estradas, como na BR-290, em Pantano Grande, a orientação é para que os piquetes, estabelecidos das 8h às 18h, interrompam o trânsito a cada meia hora, com bloqueios de 15 minutos para distribuição dos folhetos. E mantenham a ordem durante todo o período. 

A luta é pela criação de uma linha de crédito que acolha todos os contratos de financiamento dos anos anteriores. Porque, com sucessivas estiagens, além das enchentes de 2024, os produtores estão descapitalizados, sem condições de pagar e seguir produzindo.

Não queremos todo ano ir para a estrada em busca de ajuda. Precisamos de uma solução para 20 anos, não apenas para dois ou três. E também de ações para mitigação dos problemas climáticos, que têm ocorrido repetidamente e continuarão acontecendo”, acrescentou a produtora.

Segundo ela, o volume de pessoas nas manifestações à margem das rodovias oscila, também por conta do tempo. Muitos produtores aproveitam dias sem chuva para retornar às propriedades e seguir na preparação do solo para o cultivo de inverno. E depois retornam para apoiar a mobilização.

“Amanhã poderemos ser 35 piquetes. Hoje somos menos. Mas vamos continuar articulados”.

Grazi alertou que a redução de área semeada neste inverno é uma tendência “inevitável”. Produtora em São Sepé, já decidiu que, a exemplo do ano passado, não irá plantar trigo neste ano. Em 2023, ela cultivou 300 hectares com o cereal.

Pesaram na decisão a instabilidade climática e a situação caótica nas finanças do setor. E, assim como ela, milhares de produtores rurais devem fazer o mesmo ou reduzir drasticamente a semeadura.

No inverno de 2024, o RS cultivou aproximadamente 1,8 milhão de hectares, abrangendo principalmente as culturas de trigo, canola, cevada e aveia. Essa área representou uma redução de 7,1% em relação à safra anterior, influenciada pelos eventos climáticos extremos, preços de mercado e disponibilidade de sementes.

Demora dos bancos aumenta preocupação dos produtores

Além da espera pela solução de longo prazo, Grazi e os demais coordenadores têm a missão de conter os ânimos dos colegas mais exaltados, já que os bancos ainda não acolheram a orientação do CMN. É um processo que leva pelo menos 15 dias até que os agentes financeiros recebam e façam a interpretação da portaria.

Conforme a produtora, muitos lavoureiros estão desesperados, porque há dívidas também com cerealistas, cooperativas.

Quando compramos para pagamento na safra, os vencimentos são sempre em 30 de maio. Se não pagamos, começam as cobranças, os protestos. Entendemos que o governo não tem como impor à iniciativa privada o alongamento dos prazos. E reconhecemos que estão trabalhando para encontrar uma solução. A securitização que pedimos é para isso”, reforçou Grazi.

Para tratar desta pauta, o governo federal criou um grupo de trabalho interministerial, que envolve também entidades do agronegócio, como a Farsul, a Fetag e a Ocergs, além da Famurs. E o SOS Agro atua levando informações sobre as dificuldades enfrentadas na prática pelos produtores, para que o problema seja debatido de forma mais assertiva. Mas, por enquanto, o efeito esperado ainda não apareceu.

A articulação nas estradas é apoiada também pelos agricultores e pecuaristas familiares, que buscam contornar a dificuldade para pagamento das dívidas de financiamentos contratados nos últimos anos. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS) avisou nesta quinta-feira que pode retomar os protestos em frente a agentes financeiros ou prédios do governo na próxima semana, caso o tema não avance para uma solução favorável.

A entidade pede desde fevereiro ao governo federal que encontre uma solução com pelo menos 12 anos de prazo para os agricultores. E vê favoravelmente a essência da proposta do senador Luis Carlos Heinze, que projeta 20 anos para quitação de todos os passivos.

"Mas a palavra 'securitização' causa arrepios no governo e trava a discussão do tema. O nome não nos interessa, mas precisamos de uma fórmula de longo prazo, de 12 anos para cima", disse o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva.

Segundo ele, a saída apresentada pelo governo, de alongamento por três anos para as dívidas com vencimento em 2025, "desafoga o agricultor", mas não resolve. O dirigente contou que a medida vem sendo acolhida pelo Banco do Brasil e apresenta alguma dificuldade em determinadas agências do Banrisul. Mas não tem sido acolhida por outros agentes financeiros, como a Cresol e o Sicredi.

"Teremos algumas reuniões com representantes do governo federal em Brasília na próxima semana. Vamos ver como as coisas avançarão. Se não andar, voltaremos às ruas", avisou Silva.

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