8 horas atrás 3

Protestos, avanço da extrema direita e influência dos EUA geram clima de tensão no último dia de campanha na Alemanha

A oposição conservadora, o União Democrata-Cristã (CDU) de Friedrich Merz, é considerada favorita no pleito, e a extrema direita, em 2º nas pesquisas de intenção de voto, deve obter desempenho recorde. O partido do atual chanceler, Olaf Scholz, aparece em 3º.

Especialistas alemães indicam, no entanto, que Merz precisará de um resultado expressivo para ter condições de negociar com força a próxima coalizão.

O resultado das eleições será acompanhado ao redor do planeta, no momento em que a Alemanha e a Europa continuam digerindo os anúncios do novo governo dos Estados Unidos sobre a Ucrânia e as tarifas. A guerra na Ucrânia dominou o último debate realizado pelos candidatos durante a semana. A Alemanha é o segundo maior aliado militar de Kiev, logo depois dos EUA.

Protestos pró e anti-AfD (Alternativa para Alemanha), partido de extrema direita, foram registrados em Hohenshoenhausen, ao leste na capital Berlim. Os manifestantes entraram em confronto com a polícia, mas não há registro de presos até a última atualização desta reportagem. Em outro ponto de Berlim, manifestantes de direita protestaram contra o "extremismo de esquerda".

Além da questão da segurança, a maior economia da zona do euro também enfrenta uma recessão há dois anos e seu modelo industrial, que será uma das prioridades do próximo governo, está em plena crise.

Interferências e desinformação

As pesquisas mais recentes atribuem ao CDU um resultado próximo de 30% dos votos válidos, o que significará a necessidade de Merz de formar uma aliança com pelo menos outro partido para formar o governo. As negociações poderão durar várias semanas.

Friedrich Merz descartou governar com o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que pode dobrar seu resultado na comparação com as últimas legislativas e alcançar quase 20% dos votos.

"Estamos fundamentalmente divididos em vários pontos, em termos de política econômica e de política migratória", afirmou na sexta-feira o líder conservador, criticado durante a campanha por iniciar uma aproximação com a extrema direita.

Olaf Scholz, chanceler alemão, vai perder cargo com a dissolução do governo — Foto: Lisi Niesner/Reuters

Poucas vezes a Alemanha, em geral adepta dos compromissos, viu debates tão polarizados e impactados pelo cenário internacional.

A onda expansiva das primeiras semanas do mandato do presidente americano, Donald Trump, sacudiu a campanha do pleito, marcada por interferências de autoridades americanas e pela desinformação russa.

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e o bilionário Elon Musk, conselheiro de Trump, apoiam abertamente a AfD e aumentaram a visibilidade do partido de extrema direita. Vance fez discurso anti-imigração durante Conferência de Segurança neste mês em Munique. Já Musk fez participações virtuais em comícios do partido e reitera apoio diversas vezes em publicações no X.

Musk foi acusado de espalhar desinformação pelo governo alemão durante a campanha eleitoral. Em janeiro, o bilionário fez um gesto nazista durante discurso no dia da posse de Trump e foi criticado por Scholz.

Os líderes políticos alemães, apegados à relação transatlântica de décadas com os EUA, estão conscientes da mudança de cenário marcada pelo segundo mandato de Trump.

Duas manifestações de simpatizantes de extrema direita foram convocadas para este sábado em Berlim. Os críticos dos extremistas se reuniram no centro da cidade.

O clima ficou ainda mais tenso no país após ataques recentes ocorridos nas últimas semanas, que abalaram a opinião pública.

Mais recentemente, na sexta-feira (21), um turista espanhol ficou gravemente ferido em um ataque a faca no Memorial do Holocausto em Berlim. Um suspeito sírio de 19 anos foi detido no local e as autoridades afirmaram neste sábado, em um comunicado, que ele "teria planejado durante várias semanas matar judeus e foi neste contexto que teria escolhido o local" da ação.

Durante a detenção, o suspeito "tinha em sua mochila um tapete de oração, um Alcorão, um papel com versos do Alcorão e a suposta arma do crime, o que sugere uma motivação religiosa", afirma um comunicado das forças de segurança.

Durante o último comício de campanha, na sexta-feira em Dortmund, reduto social-democrata, Scholz respondeu a Trump e reafirmou seu apoio à soberania da Ucrânia diante da Rússia. Também defendeu a política alemã de liberdade de expressão, criticada por Washington.

O Partido Social-Democrata (SPD) enfrenta o risco de sofrer uma derrota histórica. As pesquisas mostram que está em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto, atrás da extrema direita.

Um dos principais temas da campanha foi a imigração, acima das questões econômicas e sociais.

Diante de Trump e dos desafios geopolíticos, o futuro chanceler alemão deverá "retomar um papel de líder na Europa", insistiu esta semana Friedrich Merz.

O candidato conservador deseja formar um governo até o final de abril. Mas a aposta dependerá em grande parte dos resultados dos pequenos grupos políticos nas eleições legislativas.

Se estes grupos superarem a barreira de 5%, estarão representados no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento, o que dificultará a formação de uma coalizão de governo de dois partidos.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro