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Reflorestar é a solução climática mais barata, diz economista Scheinkman

A Esther Duflo tem um projeto que também está pronto sobre os danos às populações dos países mais pobres causados por emissões vindas essencialmente de países ricos. Você tem alguns países emergentes também emitindo muito, mas, em termos de estoque, a parcela de emissões dos emergentes ainda é pequena em relação à dos ricos, talvez a China seja a única exceção. O dano à saúde que esses países estão causando é enorme, os números são assustadores. A proposta é, evidentemente, estabelecer uma compensação para os países pobres mais afetados, na África, nas Américas, no Caribe, e ela traz algumas ideias de como fazer isso. De um lado, você teria uma espécie de Bolsa Família em que o gatilho para pagamento é a temperatura chegar a um certo nível em um certo país. Outra ideia é criar um fundo para ajudar as comunidades a se protegerem das intempéries causadas pelo aquecimento global, como enchentes, secas. São instrumentos de política pública, alguns permanentes, outros dependendo da situação do clima, e ela calcula quanto custaria para financiar esses programas. Hoje a tecnologia para fazer isso de forma segura é simples, pois já temos a estrutura e a experiência de programas implementados em países como México, Colômbia e Brasil.

Outra boa ideia que o Harrison Hong, meu colega na Columbia, está desenvolvendo é sobre o impacto econômico das remessas de dinheiro de imigrantes. Sabemos que a imigração, principalmente a mais recente, joga um papel muito importante em aliviar crises econômicas nos países mais pobres. Tem países que, em certos anos, recebem até 6% do seu PIB em recursos que os imigrantes enviam a parentes e amigos. Agora o Trump propôs na Big Beautiful Bill, e o Congresso americano aprovou, estabelecer um imposto sobre as remessas de imigrantes, e a Arábia Saudita está anunciando que vai fazer algo parecido. Isso é muito ruim, um escândalo na verdade, e eu propus ao André [Corrêa do Lago] que o COP tome uma atitude sobre isso. Estamos mensurando o impacto dessas remessas, e a ideia é criar uma espécie de Debt for Adaptation Agreement (acordo de financiamento para adaptação) para apoiar esses países, principalmente em casos de situação climática extrema.

O economista explica como a ciência econômica pode ir além da teoria e ajudar na implementação das propostas, e defende que o problema exige soluções em escala.

Quando se fala em ciência econômica, o aspecto teórico é muito importante, mas nesse grupo há economistas com uma grande capacidade de mensurar o impacto de medidas. O Lars Hansen, por exemplo, é um grande teórico, mas ganhou o Prêmio Nobel justamente pela criação de métodos empíricos que são usados no mundo inteiro. O Juliano também é um super economista empírico, dos que mais entendem do assunto, e desenvolve esse tipo de método para tratar das questões da floresta. Sempre achei o aspecto prático muito importante. Fiz minha reputação inicial na teoria, mas desde jovem busco entender o que posso fazer com isso. Sei que alguns economistas não têm muita paciência para o trabalho empírico, dizem que não é coisa de acadêmico, mas é a única maneira de as ideias se tornarem realidade. É uma vantagem que temos nesse grupo, uma capacidade muito grande de não só propor coisas teóricas, mas de estimar os impactos. São ideias concretas, mensuradas, com visão de potencial.

Outro aspecto que consideramos muito é a escala. As soluções que estamos propondo vão ser todas em escala. Para o tamanho do problema que temos, precisamos disso. E com escala você dilui o custo. Se você pega o mercado de soja, por exemplo, evidentemente tem que ter uma burocracia que verifica a qualidade do produto, que diz onde a soja tem que ser entregue, mas isso é um custo mínimo em relação ao volume que se negocia ali. Agora imagina você ter um programa para cada negociação, ter que resolver cada problema separadamente? Te dou outro exemplo. Na época em que Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente, no primeiro governo Lula, o Brasil conseguiu diminuir a quantidade de floresta desmatada substancialmente usando os satélites que já tinham sido encomendados no governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, imagine que, para proteger a floresta, você tenha que mandar agentes do Ibama para cada hectare da Amazônia. Não tem dinheiro que chegue. Esse programa evitou a emissão de 1 gigatoneladas de carbono por ano, na média, a um valor de menos de US$ 1 por tonelada de carbono. É um número muito baixo. Isso mostra que, se feita em escala e da maneira correta, tem muita solução boa.

Morando há 50 anos nos EUA, Scheinkman lamenta os ataques à ciência e às instituições acadêmicas no país e compara o atual cenário à decadência das universidades alemãs no século 20. Para ele, as políticas do governo Trump terão um grande custo econômico para o país.

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