O ano de 2025 tem sido de desgastes no governo Lula (PT) em situações das mais diversas: na economia, a alta inflacionária e a crise do Pix puxaram a popularidade do presidente para baixo. Na política, a arrastada reforma ministerial atrapalha a relação do petista com o centrão.
Os casos mais recentes ocorreram nesta terça-feira (22) e nesta quarta-feira (23). O primeiro envolve a recusa do deputado federal Pedro Lucas (União Brasil-MA) em assumir o Ministério das Comunicações 12 dias após ser anunciado no cargo por Gleisi Hoffmann (PT).
O segundo é a demissão do presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, após operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) para combater um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões.
O petista também fez declarações mais atrapalhando que ajudando na resolução dos problemas no governo. Um exemplo ocorreu em relação à inflação, quando Lula afirmou que "se você vai num supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra".
Relembre algumas das crises que geraram desgaste ao governo Lula neste ano:
Crise do Pix
Entrou em vigor, em janeiro, regra da Receita Federal ampliando a fiscalização sobre transações de pessoas físicas via Pix que somarem ao menos R$ 5.000 por mês. Diante disso, uma série de notícias falsas sobre o assunto começaram a circular nas redes sociais, afirmando que o governo estava tentando criar um imposto sobre a modalidade de transferências.
A crise seguiu a partir do uso político do caso pela oposição, reforçando a desinformação. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicaram vídeos insinuando que o Planalto buscava taxar a modalidade de transferência. Diante da ofensiva, o governo decidiu recuar e revogar a norma.
O Executivo ainda percebeu um aumento da insatisfação de autônomos e empreendedores após a crise. Na avaliação de aliados do presidente, o diálogo com o segmento já era difícil e piorou ainda mais com a desinformação sobre a taxação dessas operações.
Alta do dólar e pressão inflacionária
Desde o fim do ano passado houve uma escalada no dólar diante da guerra comercial e das insatisfações do mercado sobre o tamanho do corte de gastos do governo, e um aumento na inflação.
A alta de preços afetou produtos considerados essenciais no cotidiano do brasileiro, como ovos e café —no caso deste último, houve aumento de 8,14% nos preços de fevereiro a março e de 77,78% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em meio ao cenário de deterioração econômica, Lula afirmou em fevereiro que "se você vai num supermercado aí em Salvador e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar [o preço], senão vai estragar". O petista virou alvo de integrantes da oposição depois da fala.
Todos esses reveses econômicos colaboraram para o tombo na popularidade do governo: segundo o Datafolha, em fevereiro o índice dos que consideravam a gestão ótima ou boa foi a 24%, o pior dos três mandatos. Em abril, foi a 29%, indicando estabilização dos números.
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Reforma ministerial
O governo já admitia, no ano passado, fazer uma reforma ministerial para abrir mais espaço ao centrão. A primeira troca no governo indicando uma maior mudança foi a queda de Paulo Pimenta (PT) da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) e a indicação de Sidônio Palmeira para o cargo.
Em fevereiro deste ano, Lula demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde, colocando Alexandre Padilha (PT), que antes chefiava a Secretaria de Relações Institucionais, no lugar. Para ocupar a vaga de Padilha, foi nomeada Gleisi Hoffmann (PT).
A ascensão de Gleisi já veio com uma gafe do presidente: afirmou ter colocado uma "mulher bonita" na articulação para melhorar a relação com o Legislativo.
O que iniciou uma crise no assunto foi a saída de Juscelino Filho (União Brasil) do Ministério das Comunicações: ele foi denunciado por suposto desvio de emendas parlamentares, e para substituí-lo, foi anunciado Pedro Lucas, também do União Brasil. Doze dias após sua indicação, ele desistiu de ser nomeado ao cargo.
Nesta quarta, o petista aceitou o nome do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, como o novo ministro das Comunicações. A indicação ocorreu em reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e com Pedro Lucas.
Crise na Abin
A Agência de Inteligência Brasileira também é motivo de crise no Planalto. Na semana passada o diretor-geral da instituição, Luiz Fernando Corrêa, prestou depoimento por cinco horas à Polícia Federal, que investiga possível obstrução de Justiça no caso da "Abin paralela" sob o governo Bolsonaro. Antes dos depoimentos, investigadores já enxergavam elementos suficientes para implicar Corrêa legalmente.
Lula ainda convocou Corrêa e o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, para cobrar explicações sobre uma operação de espionagem contra o Paraguai. A reunião foi descrita como tensa e chegou a ser interpretada como uma acareação entre o diretor da Abin e Rodrigues.
O hackeamento de autoridades do Paraguai, revelado pelo UOL em março, veio à tona a partir do depoimento de um servidor da Abin à PF no âmbito da investigação sobre o aparelhamento da agência no governo Bolsonaro.
Fraude no INSS
Na mais recente crise, Lula mandou demitir nesta quarta o presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, alvo de uma operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) para combater um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões.
A ação teve como objetivo combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. De acordo com as investigações, a soma dos valores descontados chega a R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024, mas ainda será apurado qual a porcentagem foi feita de forma ilegal.
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), chegou a dizer que não pretendia demitir Stefanutto. Entretanto, a situação se tornou insustentável, na avaliação de integrantes do Palácio do Planalto. O governo considera a gestão do INSS delicada, uma vez que afeta diretamente milhões de beneficiários.
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