Crianças

Crédito, EPA

Legenda da foto, Ação militar de Israel tem privado população de Gaza de acesso a alimentos

Há 19 minutos

O Reino Unido, a França e o Canadá alertaram Israel que tomarão "ações concretas" se o país continuar com a expansão das suas operações militares em Gaza, em comunicado na segunda-feira (19/05).

Os líderes dos três países — Keir Starmer, Emmanuel Macron e Mark Carney — pedem ao governo israelense que "interrompa suas operações militares" e "permita imediatamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza".

O chefe de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, disse que o número de caminhões de ajuda que foram autorizados a entrar em Gaza são apenas uma "gota no oceano do que é urgentemente necessário".

Fletcher afirma que 14 mil bebês morrerão em Gaza nas próximas 48 horas se os suprimentos de ajuda não chegarem.

Ele disse que cinco caminhões de ajuda cruzaram a Faixa de Gaza na segunda-feira, após Israel encerrar um bloqueio de 11 semanas, mas ainda não chegaram às comunidades.

Fletcher afirma que espera enviar 100 caminhões para Gaza hoje, acrescentando que "precisamos inundar a Faixa de Gaza com ajuda humanitária".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, respondeu ao comunicado de Reino Unido, França e Canadá dizendo que os três líderes ofereceram um "grande prêmio" ao Hamas na guerra de Gaza.

Reino Unido, França e Canadá criticaram a ação, dizendo que ela é "totalmente inadequada", pois "a negação de assistência humanitária essencial à população civil é inaceitável e corre o risco de violar o Direito Internacional Humanitário".

Eles dizem que o nível de sofrimento em Gaza é "intolerável".

Os líderes dos países ocidentais também condenaram "a linguagem abominável usada recentemente por membros do governo israelense, ameaçando que, em seu desespero por causa da destruição de Gaza, os civis começarão a se realocar".

"O deslocamento forçado permanente é uma violação do direito internacional humanitário", disseram.

Tanques israelenses em Gaza

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Israel está sendo criticado por sua ação em Gaza

"Sempre apoiamos o direito de Israel de defender os israelenses contra o terrorismo. Mas essa escalada é totalmente desproporcional", acrescentou a declaração dos líderes, referindo-se à nova ofensiva israelense.

Starmer, Macron e Carney também pediram que o Hamas liberte imediatamente os reféns restantes feitos no "hediondo ataque" ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023.

A guerra de Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo Hamas, que deixou um saldo de cerca de 1,2 mil mortos e 251 reféns.Cerca de 58 reféns permanecem em Gaza, dos quais acredita-se que até 23 estejam vivos.

O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, diz que mais de 53 mil palestinos foram mortos durante a campanha militar de Israel.

A declaração do Reino Unido, França e Canadá reiterou o apoio a um cessar-fogo, bem como à implementação de uma "solução de dois Estados", que propõe um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel.

Netanyahu rebateu a sugestão: "Ao pedir a Israel que encerre uma guerra defensiva pela nossa sobrevivência antes que os terroristas do Hamas em nossa fronteira sejam destruídos e ao exigir um Estado palestino, os líderes em Londres, Ottawa e Paris estão oferecendo um prêmio enorme pelo ataque genocida contra Israel em 7 de outubro, ao mesmo tempo em que convidam mais atrocidades semelhantes."

Ele também pediu que "todos os líderes europeus" sigam a "visão" do presidente dos EUA, Donald Trump, para acabar com o conflito.

'Crédito esgotado'

Em uma cúpula realizada em Londres entre a União Europeia e o Reino Unido, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, chamou a crise humanitária em Gaza de "uma tragédia onde o direito internacional está sendo sistematicamente violado e uma população inteira está sendo submetida a uma força militar desproporcional".

"Deve haver acesso seguro, rápido e desimpedido para ajuda humanitária", disse ele.

A decisão de Netanyahu de permitir a entrada de suprimentos limitados foi criticada por seus parceiros de coalizão ultranacionalistas.

O ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir, condenado em 2007 por incitação ao racismo e apoio a um grupo extremista judeu que Israel classifica como uma organização terrorista, reclamou que a decisão de Netanyahu "alimentaria o Hamas e lhe daria oxigênio enquanto nossos reféns definhavam em túneis".

Macron e Netanyahu

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Para editor da BBC, Israel está perdendo o crédito que tinha junto a países como a França

Para o editor da BBC Jeremy Bowen, Israel parece ter perdido todo o crédito que tinha junto a França, Reino Unido e Canadá. O estopim teria sido um incidente recente, em que médicos foram mortos.

"Isso ocorreu depois que Israel, em 18 de março, quebrou um cessar-fogo que durou dois meses com uma série de ataques aéreos de grande escala."

"Cinco dias após o reinício da guerra, uma unidade israelense atacou o comboio médico e cobriu com areia os homens que havia matado e seus veículos crivados de balas. O relato israelense sobre o ocorrido foi desmentido quando um celular foi recuperado de um corpo na vala comum."

"Seu proprietário havia filmado o incidente antes de ser morto. Longe de comprovar a alegação de Israel de que os socorristas constituíam uma ameaça potencial aos soldados israelenses de combate, o vídeo do túmulo mostrou que ambulâncias e veículos de emergência, claramente sinalizados e bem iluminados, foram atacados sistematicamente até que quase todos dentro deles morressem."

Segundo Bowen, a declaração pedindo o fim da ofensiva israelense é a crítica mais dura que países ocidentais fizeram a Israel até o momento.

"Uma importante fonte diplomática europeia envolvida nas discussões me disse que a linguagem dura refletia um 'sentimento real de crescente raiva política com a situação humanitária, de uma linha sendo cruzada e de que este governo israelense parece agir com impunidade'", diz o editor da BBC.

No entanto, os países não especificaram quais sanções adotariam caso Israel não mude o curso de sua operação.

A França tem considerado se juntar a outros 148 Estados que reconhecem a Palestina como Estado independente. Isso seria feito em uma conferência organizada pela França e Arábia Saudita que será realizada em Nova York no começo de junho. O Reino Unido também conversou com os franceses sobre o reconhecimento palestino.