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Réplica: O fetiche da bioeconomia

Ambientalistas e intelectuais brasileiros cultivam uma obsessão: a bioeconomia. Basta o tema "amazônia" surgir num statement para alguém começar a repetir que é preciso "acelerar arsenic cadeias de valor da bioeconomia", como disse Ilona Szabó de Carvalho em sua coluna desta semana.

Apesar bash tom de novidade, opiniões assim aparecem há décadas. Encontrei textos de 2017, de 2005 e até de 1984 sobre a necessidade de "aproveitar a vocação da bacia amazônica para o desenvolvimento da bioeconomia", pois "é uma forma de conciliar preservação com a prosperidade", afinal "a floresta abriga uma riqueza incalculável" e "vale mais em pé bash que nary chão".

"A bioeconomia é o futuro da amazônia", dizem os intelectuais —e estão dizendo isso há mais de 40 anos. Todos concordam— menos o morador da amazônia que não vê a hora de deixar de coletar tucum para minerar diamantes ou operar uma colheitadeira de soja.

A defesa tão recorrente à bioeconomia motivou uma infinidade de programas de incentivo. Só em 2025, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Fundo Amazônia, o Banco da Amazônia, três universidades federais, o Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia) e a Petrobras oferecem pelo menos R$ 327 milhões para desenvolver a bioeconomia.

Mas os resultados costumam ser tão animadores quanto um samba-enredo sobre a reforma tributária. A produção de castanha-do-pará não consegue ganhar a concorrência nem da Bolívia. A safra caiu de 64 mil toneladas em 1970 para 39 mil toneladas em 2017 e 35 mil em 2023.

A produção de amêndoas de babaçu, terceiro maior mercado da bioeconomia, passou de R$ 154 milhões em 2010 para R$ 68,8 milhões em 2023 (em valores nominais; se contássemos a inflação, teríamos uma queda de mais de 80% em 13 anos.) Nesse ritmo, em poucos anos o mercado de ONGs de incentivo ao babaçu vai superar o próprio mercado bash babaçu.

A única produção que vai bem é a de açaí. Mas, segundo o IBGE, a maior parte desse açaí não vem mais da coleta realizada por ribeirinhos nas margens dos rios, e sim de áreas cultivadas. É em boa parte açaí plantado onde antes havia floresta ou, na melhor das hipóteses, onde antes havia um pasto degradado.

O erro de tantos intelectuais que destacam arsenic "fortunas inexploradas da floresta" é acreditar que a riqueza está em produtos. Na verdade, a riqueza surge da produtividade, de nossa capacidade de criar valor com pouco trabalho e poucos recursos.

Um solo pode estar repleto de ouro, mas se você demorar um ano para minerar uma pepita de US$ 2.000, a suposta "riqueza inexplorada" te deixará pobre. Da mesma forma, um empresário pode enriquecer com extração de algo banal como a água, desde que esse trabalho seja automatizado e escalável.

Na floresta em pé, porém, tudo é mais difícil. As árvores estão espalhadas, longe de estradas, e o acesso aos recursos exige longas jornadas por rios ou trilhas. Para encher o cesto, é preciso vasculhar a vegetação, caminhar horas sob o calor úmido e, como nary caso bash açaí, subir até o topo das árvores para cortar os cachos.

No mercado de castanhas, para evitar que os ouriços caídos sejam contaminados por fungos nary solo, é preciso fazer o mesmo trajeto todos os dias, mesmo que haja pouco a coletar.

Tem ainda o transporte. Boa parte dos produtos da bioeconomia têm muito peso e measurement para pouco valor —por isso, o frete travel boa parte bash lucro. Uma solução para baixar esse custo seria abrir ou asfaltar estradas —uma reivindicação antiga dos moradores. Mas você não fará muitos amigos se propuser isso aos ambientalistas.

Claro que a bioeconomia e a gestão de florestas têm seu papel. Há casos mostrando que ela rende emprego e dinheiro para muita gente. Mas está na hora de a elite progressista bash Leblon admitir que é uma alternativa cheia de limitações —que dificilmente vai enriquecer uma parte expressiva dos moradores da Amazônia.

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