A situação das indústrias do Rio Grande do Sul que exportam para os Estados Unidos é muito difícil. O Estado foi o mais penalizado pelo tarifaço norte-americano, segundo avaliação da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
"A indústria gaúcha foi a mais prejudicada no Brasil pelas medidas do governo Donald Trump. Nós somos o segundo estado exportador para os Estados Unidos. Só perdemos para São Paulo", destacou o presidente da entidade, Claudio Bier, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (1º), condedida após a primeira reunião do Comitê de Crise criado pela entidade para detalhar os impactos para a indústria gaúcha da elevação de tarifas para vendas aos Estados Unidos.
Segundo Bier, o cenário é preocupante porque os setores afetados empregam milhares de trabalhadores. "São mais de 140 mil postos de trabalho que podem ter, tomara que não ocorra, os seus empregos abalados. Pode ter um desemprego muito grande no Estado", comenta. Com o tarifaço do governo norte-americano, Bier estima a perda de 22 mil empregos na indústria gaúcha.
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Segundo a Fiergs, dos 694 itens da lista de exceção, 565 são vinculados à produção de aeronaves civis. O levantamento aponta que 5,9% da celulose e papel exportado para os Estados Unidos será taxado assim como 85,7% da pauta exportadora gaúcha será taxada. Conforme Bier, dos dez estados que mais exportam para os EUA, o Rio Grande do Sul foi o terceiro menos beneficiado (com 85,7% de seu embarque sujeito à taxação). Um total de 43,4% dos produtos brasileiros exportados estão contemplados nas exceções.
O dirigente afirmou, ainda, que a indústria local é bastante aberta ao mercado externo - 18,9% do faturamento, enquanto a média no Brasil é de 16,45%. No Estado, existem cerca de 1,1 mil indústrias que exportam para os Estados Unidos - 10% do total do Brasil. Os norte-americanos representaram 11,2% das vendas da indústria de transformação do Rio Grande do Sul em 2024. No período, foram embarcados US$ 1,8 bilhão dos US$ 16,3 bilhões.
"Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da indústria gaúcha", acrescenta. Por conta deste cenário, Bier disse que pediu ao governo brasileiro para que não faça retaliações aos norte-americanos. "Se retaliarmos, certamente, essas tarifas podem aumentar e, além disso, nós sabemos que os EUA têm um superávit sobre o Brasil. As empresas brasileiras precisam dos produtos que vêm dos Estados Unidos. Temos medo que venha uma inflação galopante", comenta.
Entre as principais demandas direcionadas ao governo estadual, a Fiergs irá solicitar incentivos fiscais, como a liberação do saldo credor de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na exportação. A ampliação da linha de crédito de R$ 100 milhões, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), anunciada pelo governo estadual.
Na próxima terça-feira (5), a entidade realizará reunião com as secretarias de Desenvolvimento Econômico e da Fazenda do Estado para tratar dos assuntos. A Fiergs também já está agendando uma reunião com os sindicatos dos trabalhadores buscando uma atuação conjunta na proteção do emprego e dos negócios. “Gastamos muito em treinamento. Demitir um funcionário qualificado é muito grave”, comenta Bier.
Com relação ao governo Federal, a Fiergs busca a liberação de crédito subsidiado, nos moldes do que foi feito no âmbito estadual. "Acreditamos que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode oferecer juros em condições ainda melhores", afirma Bier. A proposta é criar uma linha de financiamento com taxas entre 1% e 4% ao ano, específica para garantir capital de giro às empresas que tiveram suas exportações impactadas, bem como às suas cadeias produtivas. A Federação também irá pleitear o pagamento imediato dos pedidos de ressarcimento de saldos credores de tributos federais, como PIS/Pasep, Cofins e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), já homologados pela Receita Federal, além de mecanismos para garantir compensações mais ágeis.
Reflexos na indústria gaúcha do tarifaço
- EUA: maior parceiro comercial da indústria gaúcha
- Pauta de exportações concentrada em bens industriais (99%)
- Ramos industriais que mais dependem dos EUA empregam 145 mil pessoas
- 21,2% da indústria de transformação do RS
- Fiergs estima a perda de 22 mil empregos
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