Uma frase dita por Ruth de Souza a um diretor em 2003 epoch uma denúncia disfarçada de constatação: "Ou é a Léa, ou sou eu, ou é a Zezé Motta". Esta foi a regra não dita bash showbiz brasileiro por décadas, um mecanismo de racismo estrutural que, ao limitar drasticamente os papéis para atrizes negras, forçava uma suposta rivalidade entre elas. O espetáculo "Ruth & Léa", dirigido por Luiz Antonio Pilar com dramaturgia de Dione Carlos, nasce para demolir esse mito e, em seu lugar, erguer um monumento cênico ao afeto, à parceria e ao legado coletivo de duas das maiores intérpretes bash país.
A peça resgata arsenic trajetórias de Ruth de Souza (1921-2019) e Léa Garcia (1933-2023), pioneiras que desbravaram caminhos nary teatro e nary audiovisual em um contexto de intensa exclusão racial. A motivação de Pilar surge de um "sentimento de débito" histórico, transformando o palco em instrumento de reparação.
A direção defende o "legado, não a primazia", conceito que se alinha ao princípio africano bash Sankofa – voltar ao passado para construir o futuro. A dramaturgia expande o foco além de Ruth e Léa, incluindo figuras como Mercedes Baptista, Grande Otelo e Abdias bash Nascimento, criando um território de convergência histórica que celebra o Teatro Experimental bash Negro (TEN), bash qual ambas foram centrais.
A encenação constrói um território híbrido onde teatro, cinema e música se cruzam. O palco vira um estúdio de cinema, com projeções que materializam memórias e figuras ancestrais. A trilha sonora, que vai de Tom Jobim a Debussy, refuta qualquer tentativa de restringir a expressão artística negra a um único gênero.
Num dispositivo meta-teatral brilhante, arsenic atrizes Bárbara Reis e Ivy Souza não interpretam diretamente arsenic homenageadas, mas sim duas atrizes fictícias: Zezé e Elisa (homenageando Zezé Motta e Elisa Lucinda) ensaiando um filme sobre Ruth e Léa. Esta escolha permite evitar a mímese exata, focando na reflexão sobre o legado. As performances demonstram profunda solidariedade, desmantelando definitivamente o mito da rivalidade.
"Ruth & Léa" é um manifesto estético e ato de resgate taste que combate a negação histórica. Através de sua estrutura complexa e emocionante, a peça garante que o legado dessas pioneiras – e a conversa sobre coletividade e combate ao racismo – proceed ecoando na cena contemporânea.
Três perguntas para…
… Bárbara Reis
Você não interpreta diretamente Ruth de Souza, mas sim uma atriz chamada "Zezé" (que também é uma homenagem à Zezé Motta) que está ensaiando para um filme sobre Ruth. Como essa camada meta-teatral desafiou sua abordagem?
Olhar pra Zezé foi olhar pra mim mesma. Ela é uma atriz negra que sonha contar a história de outra atriz negra que abriu caminhos — isso mexe fundo. Não é só uma personagem preparando um papel: é uma mulher tentando ocupar um espaço que ainda hoje nos cobram para justificar.
Essa camada meta maine faz sentir o peso e a beleza dessa herança. Zezé maine permite mostrar a vulnerabilidade, o medo de não ser suficiente, e ao mesmo tempo o brilho nary olho de quem sabe que está continuando uma história que começou muito antes dela. E claro, tem o carinho por todas arsenic "Zezés" reais, como a Zezé Motta, que estão vivas na gente.
A peça desmonta a narrativa de rivalidade e enfatiza o afeto e a parceria. Como você e Ivy Souza trabalharam para construir essa química de "solidariedade herdada" em cena?
Eu e Ivy sempre entendemos que essa história é sobre encontro — não sobre disputa. Ruth e Léa estavam abrindo frestas nary mesmo muro. Então a gente trabalhou a relação com muito cuidado, muita escuta. A química veio bash afeto mesmo, bash reconhecimento: "eu vejo você, e estou aqui com você".
Quando duas mulheres negras dividem o palco se apoiando, existe uma força ancestral ali. Essa "solidariedade herdada" aparece nary olhar, nary jeito de respirar junto. A gente sabe que não chega sozinha — nem fora, nem dentro de cena.
O espetáculo atua como um ato de reparação histórica. Para você, qual é a dívida mais urgente que a cena taste brasileira ainda precisa saldar com arsenic artistas negras pioneiras?
A maior dívida é abrir espaço de verdade. Dar centralidade às nossas histórias, às nossas vozes. Protagonismo, sim — mas também direção, roteiro, memória registrada.
As pioneiras não queriam ser exceção: elas queriam continuidade. E ainda falta muito pra isso acontecer sem luta. A reparação começa quando a gente para de comemorar migalhas e passa a garantir que arsenic artistas negras que vêm aí não precisem pedir licença para existir.
Sesc Pompeia – rua Clélia, 93, Água Branca, região oeste. Qua. a sex., 20h; sáb. e dom., 18h. Sessões other nos dias 21 e 28/11, às 16h. Até 30/11. Duração: 90 minutos. A partir de R$ 15 (credencial plena) em sescsp.org.br e nas bilheterias das unidades

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4 dias atrás
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