
Estamos imersos nesses tempos sombrios que serão objeto de estudo no futuro. O impacto das grandes tendências tecnológicas no jornalismo e nas democracias é enorme, e parece claro que esse novo quadro de turbulência fomenta a desinformação e enfraquece as organizações de mídia, sem solução à vista. A maioria dos veículos de comunicação do mundo entrou em crise há anos, enquanto as empresas multinacionais de tecnologia atingiram capitalizações de mercado superiores ao PIB de países como França, Espanha e Itália. Milhões de pessoas permanecem viciadas todos os dias em plataformas de mídia social baseadas em um modelo de negócios que recompensa mentiras e sensacionalismo com base em critérios algorítmicos. Elas constituem um campo aberto para a disseminação de notícias falsas e manipulação, bem como para a consolidação da polarização e do ódio.
A democracia está tão assimilada nas sociedades liberais que parece não estar em risco, o que motiva uma perigosa frouxidão em sua defesa. Mas a enorme desorientação geopolítica, aliada à imprevisibilidade das lideranças e ao descaso com diversas organizações internacionais, está abalando todo um sistema universal de valores, respeitado e acordado há décadas. Supõe-se que, apesar das críticas e dos ataques, a democracia sempre perdurará, embora, como mostra a história, isso não precise ser assim. Isso é demonstrado por episódios recentes que antes pareciam impossíveis, como um país soberano invadido por outro na Europa ou uma população civil submetida a uma catástrofe humanitária no Oriente Médio. Não é a segurança que está em jogo nesse dilema. Não é a economia. Não é a migração. Não é a identidade. É a democracia. Porque se trata de democracia. E também se trata do jornalismo, que é a profissão que serve aos processos e práticas democráticas e a todos os cidadãos, e é por isso que está no centro desta ofensiva global.
Hoje celebramos o Dia Mundial do Jornalismo, e parece o momento perfeito para lembrar a importância e o significado desse ofício. Uma profissão imperfeita, visto que é exercida por pessoas, é o sistema mais conhecido para que as sociedades tenham acesso a informações profissionais, baseadas em fatos e em verdades, que lhes permitam tomar decisões livres. Tão simples... como transcendental. Uma atividade que também exerce supervisão sobre governos, empresas e instituições, fomentando a diversidade ao oferecer diferentes pontos de vista e servindo de plataforma para pessoas e causas que, de outra forma, seriam esquecidas. Um trabalho árduo, belo e necessário. Talvez mais do que nunca. Porque agora que sabemos que a IA transformará para sempre nossa percepção da realidade e, sem dúvida, contribuirá para a disseminação de desinformação, gostaríamos de ver pessoas se dedicando profissionalmente a uma profissão baseada na verificação de informações, na comparação de dados, na documentação de eventos e em viagens aos locais onde os eventos ocorrem para testemunhar o que acontece lá. Sem jornalismo, não há democracia. E, sem democracia, a escuridão surge.
*Fernando Belzunce é diretor editorial executivo do grupo de mídia espanhol Vocento e autor do livro "Jornalistas em tempos de escuridão".
Este texto integra a campanha do Dia Mundial do Jornalismo, criada pelo World Editors Forum, pela Canadian Journalism Foundation (CJF) e pelo Project Kontinuum para destacar a importância do jornalismo na vida em sociedade.

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