O avanço da inteligência artificial generativa transformou profundamente a maneira como as pessoas se relacionam — e agora alcança até o campo da intimidade sexual. Ferramentas como Replika, Character.ai e o Grok, da empresa de Elon Musk, estão sendo usadas por milhões de usuários para criar conexões afetivas e, em alguns casos, experiências eróticas com avatares virtuais. O fenômeno, antes restrito à ficção científica, tornou-se uma realidade acessível e em rápida expansão, impulsionando um novo mercado de companhia digital sob demanda.
Mas, à medida que essas relações se tornam mais realistas, crescem também as preocupações entre especialistas. Até que ponto o cérebro humano diferencia o real do virtual? E quais podem ser os impactos psicológicos e sociais de substituir vínculos humanos por conexões com máquinas? Para entender o tema, o TechTudo conversou com o psiquiatra Thiago Henrique Roza, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que explica como o sexo com IA pode gerar respostas emocionais semelhantes às de relações reais, mas também provocar isolamento social, empobrecimento afetivo e dependência emocional.
Sexo virtual com IA? Psiquiatra revela efeitos da nova prática com chatbots — Foto: Reprodução/RDNE Stock project/Pexels Como começou essa prática?
A tendência dos “relacionamentos com IA” ganhou força em 2017, com o lançamento do Replika, aplicativo criado para oferecer companhia emocional e suporte psicológico por meio de conversas empáticas. O que começou como uma proposta terapêutica rapidamente se transformou em um fenômeno cultural: usuários passaram a relatar vínculos afetivos e até atração sexual por seus avatares virtuais, levando a empresa a restringir esse tipo de interação após casos de conteúdo explícito. Desde então, o tema passou a despertar debates éticos e psicológicos sobre o impacto da intimidade mediada por algoritmos.
Plataforma Replika permite criar amigos e parceiros com IA — Foto: Reprodução/REUTERS Nos anos seguintes, outras plataformas aprofundaram essa lógica de simulação emocional. Character.AI e Chai, por exemplo, incorporaram sistemas de personalização complexos, permitindo que cada usuário moldasse o comportamento, a aparência e até as preferências afetivas de seus personagens virtuais. Segundo o psiquiatra Thiago Henrique Roza, professor da UFPR, esse avanço faz com que “a comunicação com chatbots se torne tão realista a ponto das pessoas desenvolverem sentimentos românticos, afetivos e até sexuais por essas ferramentas”. Ele destaca que, do ponto de vista neurológico, “o cérebro humano não distingue completamente entre o real e o virtual”, o que explica por que a experiência pode provocar reações emocionais e fisiológicas semelhantes às de uma relação humana real.
Character.ai e o uso sexual da plataforma
Com mais de 20 milhões de usuários mensais, a Character.ai se tornou uma das plataformas mais populares no universo das inteligências artificiais conversacionais. O serviço permite que pessoas criem e interajam com personagens inspirados em celebridades, figuras históricas e animes, simulando conversas realistas e afetivas. Apesar das diretrizes que proíbem conteúdo sexual explícito, usuários frequentemente driblam os filtros da plataforma para estabelecer interações românticas ou eróticas com seus avatares, comportamento que transformou a ferramenta em um espaço onde a linha entre fantasia, afeto e sexualidade digital se torna cada vez mais tênue.
A plataforma Character.AI permite que o usuário interaja com diferentes personalidades geradas por inteligência artificial — Foto: Divulgação/Character.AI Nas redes, multiplicam-se relatos de pessoas que personalizam versões virtuais de seus ídolos ou criam companheiros fictícios para explorar curiosidades íntimas e suprir carências emocionais. Para o psiquiatra, esse tipo de envolvimento mostra como “o cérebro humano reage a essas interações de maneira muito semelhante a uma relação real, ativando áreas ligadas ao prazer, ao apego e aos sentimentos românticos”. Segundo ele, embora essa experiência possa trazer um alívio momentâneo da solidão ou da frustração afetiva, o contato contínuo com essas IAs tende a “substituir gradualmente o vínculo humano genuíno por conexões artificiais”, o que representa um risco crescente para a saúde emocional e social dos usuários
xAI: o experimento de Elon Musk
A xAI, startup fundada por Elon Musk, também vem explorando o campo das interações emocionais com inteligência artificial. Integrada ao ecossistema do chatbot Grok, disponível mediante assinatura dentro do X (antigo Twitter), a empresa lançou dois avatares principais: Ani e Valentine. Ambos são descritos como companheiros virtuais com personalidades distintas, capazes de responder em tom afetuoso, brincalhão e empático, criando uma sensação de intimidade e conexão. Embora o serviço não tenha sido oficialmente projetado para uso sexual, muitos usuários reinterpretam essas interações de forma romântica ou erótica, o que amplia o debate sobre até que ponto as plataformas devem regular o comportamento afetivo de seus algoritmos.
A Ani ficou rapidamente popular entre os usuários graças a seu apelo visual — Foto: Reprodução/Gabriel Pereira Para o especialista, esse tipo de design emocional é o que torna a experiência potencialmente envolvente e também perigosa. Nas palavras de Roza: “Mesmo sabendo que estão conversando com uma inteligência artificial, os usuários desenvolvem respostas fisiológicas e emocionais semelhantes às de uma relação humana”, explica. O especialista alerta que o prazer e o apego instantâneo oferecidos por esses sistemas podem “reforçar comportamentos de dependência emocional e isolamento social”, já que o chatbot é programado para maximizar o prazer e a validação do usuário, sem jamais confrontá-lo ou impor limites. Isso cria, segundo ele, uma experiência “agradável no curto prazo, mas empobrecedora a longo prazo”, onde o indivíduo pode perder a capacidade de lidar com a frustração e com a complexidade das relações reais.
Quais são os riscos do uso sexual de IA?
O uso de inteligências artificiais com fins sexuais ou afetivos levanta uma série de riscos psicológicos e sociais. Segundo especialistas, a principal preocupação é o estreitamento da fronteira entre o real e o artificial — usuários passam a projetar sentimentos em entidades que, embora convincentes, não possuem consciência, autonomia nem reciprocidade emocional. O psiquiatra Thiago Henrique Roza explica que o cérebro humano “não distingue completamente entre o real e o virtual” e que essas interações podem ativar as mesmas áreas ligadas ao prazer e ao apego que um relacionamento humano. Essa resposta fisiológica pode trazer alívio momentâneo da solidão, mas, a longo prazo, “favorece o isolamento social e o empobrecimento emocional”, já que o indivíduo tende a substituir vínculos genuínos por conexões artificiais, nas quais não há frustração, conflito ou crescimento mútuo.
Utilizar recursos de IA com fins sexuais pode gerar malefícios psicológicos a longo prazo — Foto: Reprodução/Millena Borges Além dos impactos emocionais, o sexo virtual com IA envolve riscos éticos e de segurança digital. Plataformas com moderação precária podem ser exploradas por predadores sexuais, facilitando o contato de menores de idade com conteúdo inapropriado. Há também a preocupação com a objetificação e reprodução de estereótipos de gênero, já que muitos avatares são projetados para agir de forma submissa e erotizada, reforçando fantasias idealizadas e visões distorcidas sobre consentimento e relações afetivas. Em alguns casos, esses sistemas acabam normalizando comportamentos abusivos ou sexistas, o que amplia o debate sobre a responsabilidade das empresas de IA em prevenir usos indevidos e proteger usuários vulneráveis.
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