Enquanto um novo acordo não é firmado, no entanto, as empresas brasileiras continuam a sentir o impacto das taxas — e seguem em busca de alternativas para lidar com o impasse comercial.
Os efeitos das tarifas por aqui são diversos. No Ceará, por exemplo, fábricas precisaram cortar gastos enquanto procuram novos clientes na Europa e na Ásia para escoar seus produtos.
Esse cenário mostra que redirecionar exportações dos EUA para outros mercados não é uma tarefa simples — e, segundo especialistas consultado pelo g1, revela falhas na política de comércio exterior do Brasil, ainda vista como defasada.
Entenda nesta reportagem a relação comercial entre o Brasil e os EUA, os motivos que têm dificultado a exportação para outros países por parte das empresas brasileiras e o que esperar da reunião prevista para esta quinta-feira (16).
A relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. E apesar das alegações de Trump de que o comércio com o Brasil é injusto para os EUA, a balança continua a pender a favor dos norte-americanos.
- 🔎Déficit comercial significa que o Brasil importou mais produtos americanos do que exportou para os Estados Unidos. Para a economia brasileira, esse fato representa um cenário desfavorável.
O número ainda representa uma queda de 20% das exportações brasileiras para os EUA: de US$ 3,23 bilhões em setembro de 2024 para US$ 2,58 bilhões, no mês passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A redução nas exportações para os Estados Unidos — parcialmente compensada pelo aumento das vendas para a China — está relacionada às tarifas mais elevadas impostas pelo governo norte-americano.
Outros setores impactados incluem siderurgia, madeira, calçados, máquinas e pecuária — especialmente a carne bovina, que não conta com isenção tarifária. (Veja aqui os produtos isentos)
O que dificulta a busca por novos mercados pelas empresas brasileiras?
De maneira geral, o Brasil segue as políticas comerciais do Mercosul, que estabelece uma Tarifa Externa Comum (TEC) para todos os produtos vindos de fora do bloco. Essa taxa costuma variar de 0% a 20%, podendo chegar a 35% em casos excepcionais.
Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI) indicam que o Brasil mantém barreiras comerciais relativamente altas, com tarifas médias de 12%. Para efeito de comparação, antes do tarifaço de Trump, a tarifa média dos EUA era de 3%.
O Índice de Abertura Comercial, criado pelo Banco Mundial para medir o quanto um país está conectado ao comércio internacional, ficou em 33,85% para o Brasil em 2023. O resultado foi superior ao dos EUA (25%), mas ainda abaixo da média da OCDE, da média mundial e da América Latina e Caribe.
O índice compara o total de importações e exportações do país com o tamanho da sua economia (PIB). Veja abaixo:
Os dados reforçam que, embora o Brasil tenha aumentado sua abertura comercial nas últimas décadas, a economia brasileira continua relativamente fechada e protege parte de sua produção em relação ao comércio internacional.
Esse perfil mais protecionista do Brasil pode, por outro lado, diminuir a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.
Segundo Sandra Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) e coautora do livro “Integração Comercial Internacional do Brasil”, o alto grau de proteção à produção doméstica tem dificultado uma maior integração do Brasil ao mercado global.
Rios acrescenta que o país mantém uma rede limitada de acordos comerciais, tendo negociado poucos tratados em comparação com outros países — que, por sua vez, firmaram compromissos que garantem tarifas mais baixas e vantagens competitivas nos principais mercados. "Isso nos coloca em desvantagem".
Os especialistas destacam, ainda, que a busca por novos destinos para exportação passa por um longo processo, que inclui um estudo prévio sobre a demanda, custos logísticos, normas tributárias e diferenças culturais, além de adaptações específicas para determinados setores, como o de alimentos.
Segundo Claiton Alves Cunha, professor da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), até mesmo o tempo para acessar novos mercados varia:
O que podemos esperar das negociações entre Brasil e EUA?
A reunião entre Rubio e Vieira marca a mais recente tentativa do governo brasileiro de reverter as sobretaxas dos EUA. A expectativa é que as duas autoridades e outros integrantes do governo norte-americano discutam os próximos passos da agenda comercial.
Segundo Murillo Oliveira, especialista em comércio exterior e investimentos da Saygo Comex, as negociações entre Brasil e Estados Unidos devem se concentrar em dois pontos principais: o afastamento do Brasil em relação ao Brics e o comércio de terras raras — minerais essenciais para a indústria de semicondutores e de defesa.
Já em relação às terras raras, Oliveira destaca a relevância do Brasil nas negociações, uma vez que o país possui a segunda maior reserva desses minerais no mundo, atrás apenas da China.
"Como a China tem restringido exportações desses materiais, é provável que os EUA pressionem por algum tipo de favorecimento no acesso aos recursos brasileiros”, diz o professor.
Os especialistas ainda destacam que, embora a Organização Mundial do Comércio (OMC) tenha um papel importante na intermediação das negociações entre Brasil e EUA, sua atuação tem alcance limitado.
Já para José Roselino, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mesmo que o Brasil tenha "todos os argumentos para vencer" a disputa comercial, o processo ainda pode levar anos para ser concluído.
"A política tarifária dos EUA 'é irracional' e acaba empurrando parceiros estratégicos em direção à China. Essas ações reduzem a própria relevância dos EUA no comércio internacional", diz.
Ainda assim, o encontro entre os dois países, marcado para esta quinta-feira (16), é visto com otimismo para o mercado — e a expectativa é por uma redução parcial das tarifas impostas pelos EUA.
Os especialistas consultados pelo g1 também destacam a importância de o Brasil adotar uma política comercial mais estratégica, que amplie sua presença no mercado internacional.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
2 semanas atrás
7
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/c/A/ZVsvnVTwOi7PUHqAjyWw/251029-info-bomba-poseidon.jpg)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/H/G/iToqMsQCet616efSHALQ/2025-10-25t183115z-1834402399-rc26jhanaxui-rtrmadp-3-usa-trump-asia.jpg)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/j/n/MXVJLmTyWadiW58jNHiA/2025-10-29t212650z-1327236097-rc2xlha5jjt2-rtrmadp-3-netherlands-election.jpg)

:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro