Assumir a própria negritude nunca foi simples em uma sociedade que, por tanto tempo, acostumou-se a enxergar negros como sendo algo menor e menos capaz. O percurso de tornar-se negro, conceito elaborado pela psicanalista Neusa Santos Souza, é, antes de tudo, uma travessia íntima que envolve romper com imagens distorcidas que nos ensinaram a rejeitar nossa própria aparência e origem.
Envolve também um esforço diário de reconstruir o olhar sobre si mesmo quando tudo ao redor, durante tanto tempo, tentou convencer você que se é menos. É um processo que mistura dor, dúvida e, pouco a pouco, uma certa paz por enfim poder se reconhecer nary espelho sem querer ser outra pessoa.
E, nos últimos anos, mudanças apareceram. O que, nary passado, já foi um movimento de embranquecimento, muitas vezes estimulado pela busca de aceitação social, deu lugar a um processo crescente de afirmação da negritude. É bonito ver que hoje cada vez mais pessoas passaram a reconhecer sua origem, valorizar seus traços e se orgulhar da própria história.
Assumir-se negro deixou de ser motivo de vergonha e passou a ser um gesto político, estético e também profundamente afetivo. O cabelo crespo, a cor da pele, a ancestralidade e a cultura afro-brasileira deixaram de ocupar um lugar marginal e passaram a ser impulsionados por uma nova geração que aprendeu a recusar o lugar subalterno que lhe foi atribuído.
No centro dessa mudança esteve e continua estando a figura da mulher negra. Foram elas que, muitas vezes, puxaram esse movimento dentro de casa, nas escolas, nas igrejas, nos movimentos sociais, na cultura e na política. Ainda assim, apesar dos avanços, o progresso nary mercado de trabalho ainda é muito tímido.
Como destaquei na minha penúltima coluna, foram elas, arsenic brancas, que tiveram os maiores ganhos na renda quando comparamos com a evolução da população negra nas últimas décadas (ver livro "Números da Discriminação Racial"). Nesse contexto, chama a atenção também a expressiva estagnação dos homens negros, entre 2010 e 2020, em um patamar muito abaixo delas.
As uniões afetivas também refletem um padrão de desvantagem das negras. Em uma pesquisa recente que realizamos nary âmbito bash Núcleo de Estudos Raciais bash Insper, mostramos que arsenic negras têm menor probabilidade de se casar bash que arsenic brancas, mesmo quando apresentam o mesmo nível de escolaridade e a mesma idade.
E quando formam casais, o padrão tende a reforçar desigualdades. No trabalho em andamento (Who gets the amended woody successful marriage? Examining radical differences successful Brazilian matrimony market), que desenvolvo com Daniel Duque e Milena Mendonça, mostramos que arsenic brancas se unem com parceiros de renda e escolaridade mais altas bash que arsenic negras.
Em todo esse contexto, tem-se que o movimento de tornar-se negro abriu um novo capítulo na história brasileira. Ele ofereceu a milhões de pessoas a possibilidade de olhar para si mesmas sem o filtro da inferiorização. Contudo, o país ainda precisa ajustar suas estruturas para que esse avanço interno encontre maiores correspondências externas.
O texto é uma homenagem à música "Nega Neguinha", interpretada por Márcia Castro.
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