- Author, Fergal Keane
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Há 6 minutos
"Se não resolvermos este problema, se não encontrarmos um futuro para israelenses e palestinos, e uma relação entre os mundos árabe e muçulmano e Israel, estamos condenados", declarou.
O rei Abdullah afirmou que a região havia presenciado inúmeras tentativas falidas de paz e que a implementação de uma solução de dois Estados — a criação de um Estado Palestino independente em Cisjordânia e Gaza, ao lado de Israel — era a única resposta.
"Espero que possamos olhar para trás, mas com um horizonte político, porque se não resolvermos este problema, repetiremos os mesmos erros", disse.
Os dois Estados
Crédito, Getty Images
O atual governo israelense já rejeitou repetidas vezes a solução de dois Estados.
"Na verdade, eles já tinham um Estado Palestino em Gaza. O que fizeram com esse Estado? Paz? Coexistência?", questionou.
"Não, nos atacaram várias vezes, sem nenhuma provocação, lançaram foguetes contra nossas cidades, assassinaram nossos filhos, transformaram Gaza em uma base terrorista desde que cometeram o massacre de 7 de outubro", disse Netanyahu, se referindo aos ataques liderados pelo Hamas dois anos atrás, que desencadearam o atual conflito em Gaza.
Contudo, foi nessa mesma assembleia da ONU que o presidente Trump convocou o rei Abdullah e outras lideranças regionais para uma reunião com objetivo de desenhar seu plano de paz.
"A mensagem que ele deu a todos foi: 'Isso tem que parar, tem que parar já'. E dissemos: 'Senhor presidente, se alguém pode fazer isso, é o senhor", contou o monarca da Jordânia.
Em referência à violência dos últimos dois anos, incluindo a guerra de Israel com o Irã e o ataque israelense a líderes do Hamas no Catar no mês passado, o rei Abdullah perguntou: "Quão perto chegamos de um conflito regional, ou até mesmo de um conflito Norte-Sul, que englobaria o mundo inteiro?".
Falando sobre Netanyahu, o líder jordaniano afirmou não confiar em nada do que ele diz.
Contudo, acredita que há israelenses com os quais os líderes árabes poderiam colaborar para construir a paz.
Em relação ao Hamas e sua disposição de entregar o governo de Gaza a um órgão palestino independente — segundo os termos do acordo de cessar-fogo que foi assinado — o rei disse que aqueles que trabalham de perto com o grupo, como o Catar e Egito, estão muito otimistas que isso será cumprido.
Apesar disso, o monarca advertiu que a chave de tudo está nos detalhes do acordo mediado por Trump e que, uma vez alcançado o cessar-fogo em Gaza, é vital que o presidente americano continue comprometido com o processo.
"Em nossas conversas com o presidente Trump, ele sabe que não se trata apenas de Gaza, não se trata apenas de um horizonte político específico. Ou seja, ele busca trazer a paz para toda a região. Isso não acontecerá a menos que os palestinos tenham um futuro."
Normalização
Crédito, AFP via Getty Images
A Jordânia mantém um tratado de paz com Israel desde 1994, apesar da oposição de muitos do país.
Mais de 50% da população é de ascendência palestina. Ambos os países cooperam em alguns assuntos de segurança.
A paz foi acordada pelo pai do atual monarca, já falecido, o rei Hussein, com o também falecido primeiro-ministro israelense Isaac Rabin.
Rabin foi assassinado por um extremista judaico no ano seguinte ao acordo.
Perguntei ao rei Abdullah se ele acreditava que veria um acordo de paz definitivo, que incluísse a criação do Estado Palestino, ainda em vida.
"Tenho que ver isso, porque a outra alternativa provavelmente significaria o fim da região. Lembro que meu pai, no fim de sua vida, dizia: 'Quero paz para meus filhos e seus filhos'. Tenho dois netos, eles merecem essa paz. Quão terrível seria se, já crescidos, dissessem o mesmo que disse meu pai há tantos anos?"
"Eu acredito que isso é o que me motiva e a muitos outros na região: a paz é a única opção. Porque, se não for alcançada, com que frequência o Ocidente, e principalmente os Estados Unidos, acabam sendo arrastados para isso? Já se passaram 80 anos. E acho que chegou a hora de todos dizermos: basta."
Mais de 67 mil pessoas já morreram pelas mãos do exército israelense em Gaza desde 7 de outubro de 2023, segundo funcionários do Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas.
A história não oferece muitos motivos para a esperança, mas o rei Abdullah 2 acredita que este é um momento de possibilidades reais.
Com informação adicional de Alice Doyard, Suha Kawar e David McIlveen.
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