Em sua primeira coletiva de imprensa depois da vitória nas eleições de 2024, o presidente ensaiou seu primeiro passo em direção à agenda mais protecionista que prometeu adotar a partir de 2025.
O futuro presidente tem indicado que quer favorecer e dar prioridade à atividade doméstica dos EUA, limitando a concorrência estrangeira. Isso pode ser feito limitando ou reduzindo a importação de produtos, incentivando o desenvolvimento interno com subsídios, entre outras formas.
Essa, no entanto, não foi a primeira vez que Trump sinalizou uma retaliação às taxas cobradas pelos países que exportam produtos aos EUA.
Segundo especialistas consultados pelo g1, esse é uma estratégia antiga e conhecida do republicano para tentar vantagens em negociações bilaterais — e poderia afetar tanto companhias brasileiras quanto norte-americanas, caso se concretizasse.
Apesar de a elevação de tarifas para produtos importados ser um dos pilares da agenda econômica de Trump para o seu novo mandato, em seu primeiro mandato o republicano ameaçava parceiros comerciais com frequência para tentar colocar outros países em desvantagem.
O sistema acordado entre Brasil e EUA, chamado de “hard cota”, ou cota rígida, ainda estipula limite. Assim, é determinado um total de exportação que, quando atingido, impede que novas vendas dos produtos sejam feitas para os EUA.
Esse modelo, estabelecido em 2018, é o mesmo seguido pelos dois países até agora.
Donald Trump em coletiva na Flórida — Foto: REUTERS/Brian Snyder
Houve algum impacto para a indústria brasileira?
A definição das cotas feita posteriormente, no entanto, acalmou os ânimos e alinhou melhor a relação comercial entre os dois países, já que usou a média exportada pelo Brasil aos EUA em anos anteriores para definir a limitação.
Apesar de ter voltado a ameaçar o Brasil, afirmando que cobraria do país as mesmas taxas impostas aos EUA na importação, o presidente eleito dos Estados Unidos não deu mais detalhes sobre a medida, nem sobre quando ela passaria a valer.
Para o professor de finanças e controle gerencial do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ) Rodrigo Leite, as falas refletem a mesma postura protecionista adotada por Trump contra a China.
“Desde o seu primeiro mandato, Trump tem feito uma guerra comercial bastante direcionada para a China. Agora, ele parece estar abrindo também essa guerra para outros países que também mostram um forte crescimento global”, diz Leite.
A postura mais protecionista e a sinalização de uma guerra comercial com o gigante asiático apareceram, inclusive, nas promessas de Trump para seu mandato.
Um dos pilares da agenda econômica do republicano, que é o aumento de tarifas para produtos importados, por exemplo, já tinha uma ressalva para a China: enquanto a proposta de Trump era de impor uma alíquota de 10% a 20% sobre as importações norte-americanas, para os chineses especificamente essa tarifa seria de 60%.
Além disso, segundo Leite, parte do que também pode explicar o novo direcionamento de Trump contra a Índia e o Brasil é a participação dos dois países nos BRICS. No final do mês passado, por exemplo, o republicano já tinha ameaçado o grupo com tarifas de 100% caso criassem uma nova moeda ou apoiassem outra moeda que substituísse o dólar.
O desenvolvimento de um mecanismo de compensação de pagamentos em moedas locais é uma das prioridades do Brasil no Brics, que quer ver o bloco menos dependente do uso do dólar nas suas transações internas.

Trump confirma intenção de promover deportação em massa
Essa postura de Trump pode ter algum efeito no Brasil?
As falas de Trump ainda não confirmam que tarifas maiores serão aplicadas ao Brasil, apontam os especialistas consultados pelo g1. Mesmo que as medidas não precisem de aprovação do Congresso norte-americano, elas ainda precisariam passar por uma análise mais aprofundada do Departamento do Comércio do país.
De acordo com Barral, parte da análise precisará levar em consideração que apesar de o Brasil se beneficiar na exportação de uma série de itens para os Estados Unidos, uma elevação de tarifas teria potencial de prejudicar toda a cadeia produtiva — incluindo indústrias e subsidiárias norte-americanas.
Por fim, os especialistas também reforçam os possíveis reflexos desse cenário para os consumidores brasileiros. “Para as empresas, uma taxação vai afetar principalmente as empresas que exportam para os Estados Unidos. Mas, com o dólar fortalecido, ele reduziria o volume de exportação, mas recebe um dólar mais valorizado”, explica Leite.
Já para o consumidor, a leitura é que o principal impacto viria do dólar ainda mais valorizado. “Para a população, o efeito maior vem do câmbio. Tem vários produtos importados pelo Brasil que são cotados em dólar no mercado internacional e que são afetados caso a moeda norte-americana se valorize”, diz o professor da UFRJ.
Além disso, outro impacto de um dólar mais alto diz respeito ao volume de produção que é destinado para o consumidor brasileiro. Isso porque quando a moeda norte-americana fica mais valorizada, é mais interessante para o produtor exportar seus produtos do que abastecer o mercado interno. Assim, os preços aumentam via política de oferta e demanda.
“É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e o que o mercado também quer ver é o quanto as eleições de 2026 vão influenciar a capacidade do governo de encontrar uma solução para as questões tarifárias. É um jogo difícil de ser jogado”, completa o professor.

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10 meses atrás
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