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Usar app espião para vigiar parceiro é normal? Psicóloga explica

O uso de apps espiões para vigiar parceiros tem crescido exponencialmente no Brasil. Segundo dados da empresa de segurança digital Kaspersky, em um relatório divulgado em 2023, o país ocupava a segunda posição mundial em número de pessoas monitoradas, liderando na América Latina. E, embora sejam anunciados como uma ferramenta de proteção legítima, a utilização desses softwares suscita um debate importante: a prática é normal ou abusiva? Até que ponto é ético? Vale lembrar que monitorar pessoas sem o consentimento delas é considerado crime, com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Para entender como o uso desses apps afeta a dinâmica dos relacionamentos e quais são os impactos psicológicos, o TechTudo conversou com uma especialista e traz, nas próximas linhas, tudo o que você precisa saber sobre o uso de aplicativos espiões. Confira.

 cottonbro studio Consequências do uso de apps espiões inclui o aumento da insegurança e ansiedade — Foto: cottonbro studio

Usar app espião para vigiar parceiro é normal ou abusivo? Psicóloga conta

No índice abaixo, confira os tópicos que serão abordados nesta matéria especial do TechTudo.

  1. O que são apps espiões? Como funcionam?
  2. Por que os apps espiões se tornaram populares?
  3. Por que as pessoas usam apps espiões? Veja o que dizem especialistas
  4. Consequências do uso
  5. Como saber se tem app espião no meu celular?
  6. Como se proteger contra apps espiões?
  7. Como remover app espião do celular?

1. O que são apps espiões? Como funcionam?

Os apps espiões — também conhecidos como spyware ou stalkware — são programas desenvolvidos para monitorar as atividades de um dispositivo eletrônico. Esses aplicativos podem ser instalados em celulares, computadores ou tablets e conseguem coletar uma ampla gama de informações. Embora alguns softwares de monitoramento sejam comercializados como ferramentas legítimas de controle parental ou segurança corporativa, muitos são utilizados abusivamente para espionar parceiros, familiares ou colegas de trabalho.

O funcionamento desses apps varia conforme o tipo e a sofisticação do programa, mas, geralmente, eles operam de maneira invisível e silenciosa em segundo plano, dificultando sua detecção. Uma vez instalado no dispositivo, o spyware começa a coletar dados e enviá-los para um servidor remoto, onde a pessoa que instalou o software pode acessá-los. Para funcionar corretamente, os apps espiões costumam solicitar permissões incomuns, como acesso à câmera, ao microfone e à localização — e, dependendo do nível do programa, podem até burlar os mecanismos de segurança do sistema operacional.

 Divulgação/Freepik (master1305) Apps espiões são programas desenvolvidos para monitorar as atividades de um dispositivo eletrônico — Foto: Divulgação/Freepik (master1305)

2. Por que os apps espiões se tornaram populares?

Os apps espiões têm ganhado popularidade em razão da crescente demanda por monitoramento digital em ambientes familiares, corporativos e pessoais. Essas ferramentas oferecem funcionalidades como acesso à geolocalização em tempo real, escuta de chamadas, leitura de mensagens e até ativação remota de microfone e câmera. Quando utilizadas sem o consentimento da pessoa monitorada, essas práticas configuram uma grave violação de privacidade.

Globalmente, a Coalition Against Stalkware tem emitido alertas sobre o aumento do uso de spywares. De acordo o relatório “Estado do Stalkerware 2023” produzido pela Kaspersky, somente em 2022 foram registradas mais de 30 mil tentativas de instalação desses aplicativos em celulares, com destaque para países da América Latina — entre eles, o Brasil, com 4.186 casos.

 Reprodução/Freepik Apps espiões têm ganhado popularidade em razão demanda por monitoramento digital em ambientes familiares, corporativos e pessoais. — Foto: Reprodução/Freepik

3. Por que as pessoas usam apps espiões? Veja o que dizem especialistas

O ciúme é frequentemente romantizado, mas pode ser o gatilho para comportamentos invasivos. Segundo Mayra Cardozo, terapeuta e advogada especialista em gênero e sócia do escritório MCADV, “transformar o medo em ato de vigilância é reproduzir um modelo de amor patriarcal que legitima o controle do outro como cuidado”. O ciúme, quando ultrapassa limites saudáveis, deixa de ser vulnerabilidade e passa a funcionar como uma forma de violência psicológica.

Em uma sociedade patriarcal, o controle é muitas vezes confundido com proteção. “O homem ‘cuidadoso’ é visto como protetor, e a mulher ciumenta, como intensa”, afirma Mayra. Para a especialista, o uso de apps espiões é, portanto, “a expressão tecnológica de um modelo de afeto atravessado pelo medo e pela hierarquia de poder”. Vigiar o outro se torna uma forma de afirmar domínio, não de expressar cuidado.

O medo de ser traído ou abandonado alimenta o desejo de vigilância. “O homem vigia para manter poder, e a mulher espiona para se sentir segura em uma estrutura que sempre a fez duvidar de seu valor”, diz a terapeuta. No fundo, “a segurança obtida pelo controle é ilusória: ela protege do abandono, mas destrói a confiança”, afirma.

d. Monitoramento parental

Apps espiões também são usados por pais para monitorar a vida digital de filhos adolescentes. Embora o objetivo seja proteção, é preciso cuidado para não ultrapassar os limites da privacidade e da autonomia dos jovens, o que pode gerar conflitos e desconfiança familiar.

Empresas podem recorrer a ferramentas de monitoramento para acompanhar a produtividade ou prevenir vazamentos de dados. No entanto, esse tipo de vigilância deve ser transparente e respeitar os direitos dos funcionários, sob risco de criar ambientes de trabalho tóxicos e desconfiados.

Apps espiões também são utilizados por criminosos para aplicar golpes e fraudes. Pessoas mal-intencionadas podem instalar esses aplicativos para sequestrar dados e exigir dinheiro para devolvê-los, acessar informações bancárias ou manipular emocionalmente as vítimas.

 Mariana Saguias/TechTudo Veja motivos pelos quais as pessoas usam apps espiões — Foto: Mariana Saguias/TechTudo

O uso de apps espiões em relacionamentos amorosos ou familiares pode ter consequências profundas. Um dos primeiros efeitos é a quebra da confiança. Como explica Mayra Cardozo, “a confiança é o alicerce que permite que cada um seja sujeito, não objeto”. Quando um parceiro descobre que está sendo espionado, “o pacto de respeito se quebra”. A relação, então, deixa de ser baseada em intimidade e passa a ser regida pelo medo.

Esse tipo de vigilância também alimenta um ciclo de desconfiança difícil de romper. “O ciclo da desconfiança é uma forma de dependência emocional disfarçada”, afirma Cardozo. Quem vigia sente culpa e ansiedade; quem é vigiado, por sua vez, experimenta raiva e medo. Ambos acabam presos em uma lógica de controle que mina a reciprocidade e transforma o vínculo em um campo de tensão constante.

Usar um aplicativo espião para vigiar o parceiro e quebra de privacidade? Psicóloga explica — Foto: Unsplash/Dmitriy Belenovsky Usar um aplicativo espião para vigiar o parceiro e quebra de privacidade? Psicóloga explica — Foto: Unsplash/Dmitriy Belenovsky

Do ponto de vista psicológico, os impactos podem ser severos. “Ser espionada é ser desumanizada”, diz a especialista. A violação da privacidade fere diretamente a subjetividade e pode desencadear sintomas de trauma como “ansiedade, insônia, hipervigilância, perda de confiança.” O corpo reage como se estivesse diante de uma ameaça real — e, de fato, está.

Além disso, o ato de vigiar o outro configura uma forma de violência psicológica. “Invadir o espaço do outro, independentemente de gênero, é uma forma de violência psicológica que retira autonomia e dignidade. Nenhum relacionamento saudável sobrevive onde não há privacidade”, conclui a terapeuta.

5. Como saber se tem app espião no meu celular?

Alguns sinais podem indicar a presença de um app espião no seu celular. Como esses aplicativos operam em segundo plano, um aumento repentino no consumo de bateria e um uso anormal dos dados móveis podem ser indícios. Além disso, a atividade de um spyware no smartphone pode causar superaquecimento do aparelho, além de comportamentos estranhos — como travamentos, lentidão, alterações inesperadas nas configurações e acionamento involuntário da câmera ou do microfone, entre outros.

 Mariana Saguias/TechTudo Superaquecimento do celular pode ser um indício de infecção por spyware — Foto: Mariana Saguias/TechTudo

6. Como se proteger contra apps espiões?

Para se proteger contra apps espiões, é fundamental estar atento à segurança do seu dispositivo. Em primeiro lugar, mantenha o sistema operacional e os aplicativos sempre atualizados. As atualizações corrigem falhas de segurança que podem servir como porta de entrada para softwares espiões. Além disso, evite instalar aplicativos que não estejam hospedados nas lojas oficiais do Android e do iOS.

Outra medida importante é instalar um bom antivírus no celular e revisar regularmente as permissões concedidas aos aplicativos. Verifique se algum deles solicita acessos excessivos e, ao menor sinal de suspeita, revogue imediatamente a permissão.

Por fim, desconfie de pessoas que pedem acesso ao seu celular. Em muitos casos, o spyware é instalado por alguém próximo à vítima, com acesso físico ao aparelho. Mantenha o smartphone protegido com senha, biometria e bloqueio automático e, sempre que possível, evite compartilhar suas credenciais de acesso com terceiros.

 Mariana Saguias/Techtudo Veja o que fazer para se proteger contra apps espiões — Foto: Mariana Saguias/Techtudo

7. Como remover app espião do celular?

Caso você identifique sinais que indiquem a atividade de um app espião no celular, a primeira ação é tentar localizar o aplicativo e desinstalá-lo do aparelho. Procure por softwares que tenham acesso incomum a ferramentas como câmera e microfone. Se não conseguir identificá-lo, execute um antivírus para detectar e remover automaticamente o programa.

Antes de recorrer a medidas mais drásticas, tente acessar o modo de segurança do smartphone para verificar se o app malicioso aparece na lista de aplicativos. Se, mesmo assim, não for possível identificar ou remover o software espião, a última alternativa é restaurar o telefone para as configurações de fábrica.

 Reprodução/Shutterstock Veja como remover app espião do celular — Foto: Reprodução/Shutterstock

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