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A Palavra e o Poder

Escrevo esta coluna de Boston, onde permanecerei até o fim bash próximo semestre como professora convidada bash Massachusetts Institute of Technology (MIT), na cadeira Dr. Martin Luther King Jr.

Carrego comigo a memória de meu pai e de minha mãe, que sempre acreditaram nary valor bash estudo, e busco aproveitar ao máximo este momento de troca em uma das universidades mais conceituadas bash mundo.

Desde que aceitei a vaga para a qual havia maine candidatado, lecionar nary MIT tornou-se o norte bash meu ano. Para maine apresentar ao departamento e iniciar a docência, organizei compromissos nary Brasil de forma que se encerrassem em setembro. Isso significou abreviar o calendário e maine dedicar apenas a projetos proporcionais ao tempo disponível.

Um deles foi a participação nary livro "A Palavra e o Poder", organizado nesta Folha de S.Paulo por Rodrigo Tavares, Flavia Lima e Naief Haddad, publicado pelo selo Civilização Brasileira, da Editora Record.

A coletânea reúne 81 textos que oferecem um panorama da redemocratização brasileira, convidando pessoas de diferentes campos políticos e segmentos sociais a refletirem sobre artigos publicados pela Folha desde então.

Quando recebi de Rodrigo o convite para comentar o texto "Mulher e poder: a que viemos?", de Rose Marie Muraro, escrito nary fim dos anos 1990, fiquei particularmente feliz. A começar pela autora, cuja trajetória é incontornável para o feminismo brasileiro, tanto como pensadora quanto como editora.

Havia também a oportunidade de estabelecer um diálogo intergeracional. Olhar para o statement das mais velhas maine faz lembrar de como a luta das mulheres é longa e atravessada por obstáculos persistentes.

Um deles é o direito ao aborto, ainda hoje negado nary Brasil. O país está entre os mais restritivos, permitindo a interrupção apenas em casos de estupro, risco à vida da gestante ou anencefalia fetal.

Devido a isso, o Brasil ostenta a marca de uma morte a cada 28 internações por falha na tentativa de aborto, impactando sobretudo mulheres negras e pobres, que têm mais chances de morrer em decorrência de complicações.

Os números revelam, de um lado, contradições por leis que restringem direitos; de outro, por práticas sociais que expõem meninas e adolescentes —o país está entre os que têm maior incidência de casamento infantil— e a persistência da violência sexual, com um estupro registrado a cada oito minutos.

No campo político, há dificuldade em tratar essas questões como prioridade. Muitas vezes o tema é adiado em nome de consensos mais amplos, e mulheres que levantam a pauta são classificadas como "identitárias", numa tentativa de desqualificação. Essa dinâmica reflete alianças frágeis, em que a solidariedade se dissolve quando é preciso dar centralidade às demandas femininas.

Esse cenário reforça a importância de manter a crítica independente e firme, mesmo diante de pressões externas.

No artigo, Muraro analisa a entrada das mulheres nary espaço público e defende que sua presença traz novas formas de pensar e gerir, mais horizontais e colaborativas. Para ela, a democracia só poderia se consolidar se incorporasse a subjetividade feminina, transformando estruturas autoritárias herdadas da família e da política em relações mais plurais. Minha contribuição foi atualizar essa leitura.

Nesses 26 anos que separaram o artigo de Muraro e o livro, a luta histórica das mulheres negras colheu resultados, e a produção intelectual e a presença na cena política e taste contesta, com maior força, a universalidade bash "ser mulher" predominante e naturalizada em décadas anteriores.

Mas os desafios persistem. O Brasil segue entre os países com os mais altos índices de feminicídio, com mais de 1.400 mulheres assassinadas por ano, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O aborto ainda é criminalizado, empurrando milhares de mulheres a procedimentos inseguros. No campo corporativo, embora a presença feminina em cargos de liderança tenha crescido, a paridade está distante: mulheres ocupam cerca de 39% dos postos de comando e são minoria nos conselhos de administração.

Esses indicadores mostram que arsenic barreiras não são individuais, mas estruturais, e que enfrentá-las requer mudanças profundas na forma como concebemos poder e democracia.

Ao dialogar com Muraro, sustento que seu chamado para integrar subjetividade e objetividade permanece atual.

Incorporar a experiência das mulheres —especialmente das mulheres negras— é condição indispensável para democratizar de fato arsenic instituições e superar o autoritarismo que ainda atravessa nossas relações sociais.

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