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Brasil e Estado têm interesse em diminuir dependência estrangeira de fertilizantes

Jefferson Klein, de Wuhai, China

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Jefferson Klein, de Wuhai, China

Tanto o Rio Grande do Sul como o Brasil desejam não ficar tão expostos ao cenário internacional e começar a intensificar a produção interna de fertilizantes para diminuir a necessidade de importação desse insumo agrícola. Atualmente, os produtores brasileiros consomem aproximadamente 49 milhões de toneladas de fertilizantes, sendo que 90% é importado. O maior parceiro do Brasil nesse campo é a Rússia, seguida da China. Justamente da nação asiática é que pode vir a resposta para reduzir a dependência brasileira da compra no exterior desses fertilizantes. Uma missão brasileira de técnicos, políticos e empreendedores está na China para observar soluções de captura de CO2 e dessulfurização de unidades produtivas aliadas à geração de fertilizantes.

Nessa segunda-feira (11), a comitiva visitou uma planta de coque (um tipo de combustível sólido), da companhia Jianyuan, que conta com a tecnologia da empresa JNG para capturar o CO2 que será gerado na unidade a partir da energia térmica para a produção de vapor.  O responsável pelo projeto da JNG, Zhu Yong, informa que na primeira fase do empreendimento, que está previsto para começar a operar até o final de setembro, irão ser capturadas cerca de 300 mil toneladas de C02 ao ano para produzir sulfato e bicarbonato de amônia que, misturados a outros elementos, significarão no final do processo em torno de 750 mil toneladas de fertilizantes à base de carbono e enxofre.

O projeto final prevê a captura anual de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas de CO2 e a coprodução de 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes. Essa projeção ainda é inicial e pode ter seu número elevado futuramente. A primeira fase deve implicar um investimento de cerca de 269 milhões de Yuans (o correspondente a cerca de R$ 200 milhões) e, na finalização do projeto, aproximadamente 1,6 bilhão de Yuans (em torno de R$ 1,2 bilhão) de aporte.

A JNG cuida da operação da iniciativa, sendo que os créditos de carbono e os benefícios fiscais pertencem à Jianyuan. Enquanto a JNG compensa os custos de dessulfurização e captura de carbono por meio da venda do fertilizante, serviços como água, eletricidade, gás e vapor necessários para a operação são fornecidos a preço de custo.

O projeto foi designado como de demonstração para “Captura e Utilização de Carbono de Gás de Combustão”, apoiado pelo governo chinês. “A China, no setor de fertilizantes, na última década, ela fez mais ou menos o que Juscelino Kubitschek fez na administração dele ou se propôs a fazer, cinquenta anos em cinco”, compara o assessor do ministro da Agricultura e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Carlos José Carlos Polidoro. Ele frisa que o país asiático se transformou em um dos líderes mundiais desse segmento.

o Brasil, ao contrário da China, segundo o integrante do Ministério da Agricultura, não desenvolveu tecnologias adaptadas à sua realidade nacional e às condições do agronegócio local. Polidoro comenta que a ideia é seguir o exemplo chinês e começar a desenvolver essas soluções em parceria com eles. O integrante do ministério da Agricultura ressalta que existe a possibilidade de introduzir fábricas de fertilizantes no Brasil, amparadas com a tecnologia chinesa.

“Se nós não investirmos pesadamente na produção nacional de fertilizantes, com inovação tecnológica, em breve o País terá falta do produto ou pagará mais caro”, adverte. Ele alerta que aumentará muito o consumo e a logística para importação do insumo é limitada, não permitindo que se incremente muito mais o volume trazido do exterior.

Outra questão a ser levada em conta, aponta Polidoro, é que qualquer oscilação política internacional torna o setor do agronegócio brasileiro em um “gigante com pés de barro”, ou seja, muito fragilizado e suscetível a uma queda que acarretaria um grande impacto para a economia. Dentro desse cenário, o tema fertilizantes, de acordo com Polidoro, é estratégico e de segurança nacional.

Além disso, ele acrescenta que a captura de CO2 para a produção de fertilizantes é uma solução que também atende a uma demanda ambiental. Para o integrante do Ministério da Agricultura, o problema do setor de fertilizantes no Brasil é que ele não se sente estimulado a investir, porque era mais fácil importar produtos. No entanto, ele argumenta que subsídios para a entrada de produtos externos foram cortados e se criou um ambiente para o desenvolvimento da produção interna. Outro ponto que precisa ser abordado, reitera ele, é oferecer tecnologia para implementar fábricas no Brasil.

“E vimos isso na China, e o que está se desenvolvendo nesse país pode ser feito no Brasil, principalmente na Região Sul, na área carbonífera, imediatamente”, assinala Polidoro. Ele diz que a solução de captura de CO2 e dessulfurização, com a produção de fertilizantes, também pode ser aplicada para além do segmento carbonífero, como é o caso das refinarias de petróleo.

Tecnologia pode mitigar o impacto de termelétricas

Muita da geração de energia da China está atrelada à operação de termelétricas, entre as quais as usinas a carvão, e por isso a tecnologia de captura de CO2 de empreendimentos como esses, ocasionando como subproduto fertilizantes, é muito importante para esse país. Para o engenheiro florestal e coordenador do Plano ABC+RS da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul, Jackson Brilhante, alternativa semelhante pode ser adotada no Estado pela termelétrica de Candiota 3.

Ele considera que a produção de fertilizantes é uma excelente oportunidade para o Estado. “São praticamente (em solo gaúcho) 9 milhões de hectares, com culturas (agrícolas) anuais, que demandam uma enorme quantidade de fertilizantes”, aponta Brilhante. Essa situação pode, avalia ele, reduzir custos para o agricultor gaúcho ao permitir acesso a uma produção local de fertilizantes.

Brilhante revela que o governo estadual já solicitou à União a participação no conselho nacional que discute a questão dos fertilizantes no País. “O Rio Grande do Sul quer ter uma participação mais ativa nesse tema”, afirma o integrante da secretaria da Agricultura.

Ele enfatiza que o Estado constantemente é atingido por secas e, se for possível gerar insumos da cadeia agrícola de maneira local, isso permitirá atenuar esses impactos e contribuirá para que o produtor rural gaúcho mantenha sua produtividade. A aplicação de fertilizantes, assim como outras ações, como a irrigação, pode colaborar com a estabilidade produtiva dos empreendedores vinculados ao agronegócio. “Ter uma produção de matéria-prima dentro do Estado deixa menos vulnerável o produtor rural, tornando-o mais competitivo perante à produção de outras regiões”, conclui Brilhante.

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