- Author, Jeremy Ball
- Role, BBC News, Nottingham (Inglaterra)
Há 23 minutos
Era apenas mais uma história de amor, mas a união entre a missionária britânica branca Ruth Holloway e o telefonista queniano negro John Kimuyu se tornou um escândalo midiático no final da década de 1950.
Recentemente, após a morte de ambos, a filha deles, Ndinda Kimuyu, começou a escrever um livro sobre a história dos pais.
John, que era deficiente visual, conheceu Ruth no instituto para cegos no Quênia onde ela trabalhava.
Ruth tinha apenas 19 anos quando partiu para o Quênia, após crescer na pequena cidade de Kirkby-in-Ashfield, em Nottinghamshire, na Inglaterra.
Ndinda conta que, quando o casal decidiu se casar, sua mãe foi de barco de volta para o Reino Unido para informar seus pais e seus chefes da decisão, mas encontrou reprovação.
"Foi uma questão muito grande", conta Ndinda à BBC. "Nessa viagem, o Exército da Salvação decidiu tirar o emprego dela."
"Ela acabou comprando uma aliança de casamento, assou um bolo com o anel dentro e contrabandeou o objeto de volta para o Quênia."
O casal se apaixonou em uma época tensa no país africano.
O Exército da Terra e Liberdade do Quênia, conhecido como Mau Mau, lutava pela independência do domínio colonial britânico.
A união do casal tornou-se particularmente controversa porque acreditava-se que Ruth era a primeira europeia branca a se casar com um queniano negro.
A cerimônia chegou a ser interrompida pelo escrivão — que os casou, mas afirmou que não concordava com o matrimônio.
Ndinda conta que o casamento foi noticiado em jornais e na televisão no Reino Unido, Quênia, Estados Unidos, entre outros.
Algumas matérias diziam que o casamento trazia a ameaça de tumultos raciais.
"A oposição mais forte veio provavelmente dos colonialistas brancos no Quênia", lembra a filha, que nasceu três anos depois do casamento.
"Minha mãe não conseguiu vencer; meu pai não conseguiu vencer. Houve alguns artigos positivos, mas em geral eram extremamente racistas."
"O casamento inter-racial dos meus pais provocou um escândalo internacional."
A família começou a se separar após a independência do Quênia, em 1963, pois temia-se pela vida de Ruth, já que o novo país "pediu que todos os brancos fossem embora".
Em 1965, o casal decidiu que Ruth deveria levar Ndinda e suas duas irmãs de volta ao Reino Unido.
"Fiquei muito chateada", lembra Ndinda. "Viemos com uma mala pequena e a roupa do corpo e estamos aqui desde então."
"Foi um momento muito difícil para meu pai. Acredito que [minha mãe] teve um colapso nervoso, mas ela simplesmente seguiu em frente."
Ndinda afirma que seus pais pensavam que um homem cego não encontraria trabalho no Reino Unido, por isso John ficou no Quênia, onde trabalhava como telefonista na polícia.
Ele manteve contato com a família enviando para Ruth gravações em fitas, que Ndinda até hoje guarda.
Ela diz que sua mãe tentou ser otimista, mas não poder estar com o marido "partia o seu coração".
Ruth morreu há cerca de 30 anos e John, que se casou novamente duas vezes, chegou aos 90 anos antes de morrer em novembro deste ano.
Ndinda voltou ao Quênia para participar do funeral do pai no mês passado — a sua primeira vez no país em 30 anos.
A viagem para seu país natal a motivou a escrever um livro sobre a história dos pais.
"Eu me senti em casa", conta. "Não foi triste porque meu pai faleceu. Na verdade, me senti em paz."
"Saí para a varanda e ouvi tão claramente a voz da minha mãe dizer 'está tudo bem na minha alma'".
Ndinda afirma que seus pais foram "pioneiros" que ajudaram a mudar a história.
"Vivemos num mundo diferente agora, mas isso é amor. [Por] amor você fará qualquer coisa. Você escalará montanhas. Foi o amor que os uniu e o amor que os fez lutar por tudo isso."
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