1 semana atrás 3

Comitiva começa a definir plano para expandir irrigação

De Lincoln, Nebraska (EUA)

Continue sua leitura, escolha seu plano agora!

De Lincoln, Nebraska (EUA)

Vai ter aumento de área irrigada no Rio Grande do Sul”, avisou o secretário estadual de Agricultura do Rio Grande do Sul, Edivilson Brum, no minuto seguinte à última reunião da comitiva gaúcha ao estado de Nebraska, nos Estados Unidos, líder no uso de água subterrânea para cultivo de grãos (milho e soja), com adoção em 13% das áreas. O Estado tem apenas 4%, unindo as duas culturas. O arroz é 100% irrigado, com água que chega às lavouras por gravitação. O foco da missão foi conhecer modelos com uso de pivôs.

Depois de cinco dias na imersão conferindo tecnologias e resultados da experiência nos EUA, o pool de instituições começa a se debruçar sobre o plano e ações para a expansão da irrigação. “O desafio é formatar tudo o que se colheu na viagem e levar para os setores na volta para casa”, projeta Brum. “Vamos ter muitas entregas”, aposta o titular da pasta. 

O que vimos serve de exemplo para replicar no Estado”, acredita o vice-governador, Gabriel Souza, avaliando ainda que o termo de engajamento, firmado entre Invest RS, do lado do governo, e o DWFI, também trará robustez no monitoramento de impactos e ocorrência de estiagens. Há perspectivas de investimentos na produção de equipamentos.

“Visitamos também as maiores empresas globais de equipamentos de irrigação (Valley e Lindsay), e as duas têm interesse de aumentar a presença no Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul”, lembrou Souza. 

Na largada da volta para casa, as pastas de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Emater, Departamento de Recursos Hídricos (DRH) e Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), com apoio de Famurs, Assembleia Legislativa e Aprosoja (ligada a produtores), vão mapear as iniciativas locais, reunir dados sobre a condição de ambiente e áreas potenciais para intensificar a tecnologia para levar água e também definir regiões para avaliar padrões que vão pautar modelos na interação com o instituto da Universidade de Nebraska. 

Algumas preocupações abrangem maior divulgação do que se tem de ações em irrigação, desde legislação, aplicação e programas, como o Irriga Mais, que tem linhas com subvenção (recursos públicos) para implantar projetos nas propriedades. Carlos Sobrinho da Silveira, diretor de Recursos Hídricos da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), observou que instituições gaúchas que já colaboram com o governo, como o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Ufrgs, também serão envolvidas nas ações. 

O presidente da Aprosoja, Irineu Orth, sugere que os municípios sejam convocados pela importância na atuação nas comunidades, a exemplo do modelo de Natural Resources Districts (NRDs), que fazem a gestão, autorização de outorgas e fiscalização para uso de águas em Nebraska. Mario Nascimento, consultor de agronegócio da Famurs, diz que a intenção é organizar encontros para mostrar as ações a prefeitos. Integrantes do Daugherty Water for Food Instituto (DWFI), da Universidade de Nebraska, devem fazer cursos com Emater e produtores no começo de 2026.      

'Tem de usar só o que a planta precisa', alerta professor de Nebraska

Bahia, Mato Grosso, Paraná e agora Rio Grande do Sul. A expertise em irrigação do Daugherty Water for Food Institute (DWFI), ligado à  Universidade de Nebraska, no Meio Oeste dos Estados Unidos, vai se espraiando pelo Brasil, que é visto como a fronteira recente e emergente para escalar o uso da tecnologia para amenizar impactos como os de estiagens, que são demasiadamente conhecidas pelos agricultores gaúchos.

Na linha de frente dessa extensão, está um brasileiro, o engenheiro civil Christopher Neale, diretor de pesquisa do DWFI, com mais de 40 anos envolvido em inovação na área do agro. Neale fará a conexão entre o instituto e o grupo gaúcho que começa a definir o caminho para mudar o cenário para elevar o suporte hídrico, por meio de águas subterrâneas ou reservação. Após a última agenda da comitiva do Estado em Lincoln, Neale pontuou desafios e a oportunidade que a agricultura mais ao Sul do Brasil terá daqui para frente:  

Jornal do Comércio - Qual é o efeito de uma imersão na irrigação feita em Nebraska?

Christopher Neale - A reação da delegação gaúcha foi similar à de outras, como do Paraná e Mato Grosso, vendo o nível intenso de irrigação e como isso é feito de forma sustentável. Isso gera muitas ideias. O desafio é como adaptar as melhores práticas de Nebraska para a realidade do Estado. Esse é o próximo passo na colaboração que estamos construindo. 

JC - O que vai acontecer a partir de agora?

Neale - A delegação vai se reunir para colocar no papel e definir os próximos passos. Vamos interagir e ver como começar a implementar. No Paraná, por exemplo, estamos no início das ações. Vamos instalar torres de fluxo para medir evapotranspiração e carbono. Por que fazer essas medições? Onde há irrigação precisa repor o que a planta está usando (água) e só o que ela usa. A tendência é colocar mais do que precisa, o que gera outros problemas, como lixiviação de fertilizantes e nitratos, e gasto de energia à toa. As medições ajudarão a ajustar os modelos para a realidade de cada estado. O mesmo no Rio Grande do Sul. As torres ajudam na checagem de valores das imagens de satélite que temos. 

JC - Como isso vai chegar aos produtores?

Neale - Vamos fazer workshops com a Emater e ensinar os agricultores a como manejar os pivôs, que envolvem grande investimento. Muitos usam da forma como o avô usava, mas a realidade hoje é outra. Sobre custos, por exemplo, tínhamos energia e fertilizante mais baratos, mas a realidade mudou após a guerra da Ucrânia, com alta nos preços. 

JC - A comitiva conheceu a atuação dos Natural Resources Districts (NRDs). O modelo pode ser levado ao Brasil? 

Neale - Eles significam gestão e governança local e foram decisivos para transformar Nebraska em exemplo de uso intensivo de água subterrânea, mas de maneira sustentável. Há regras que variam conforme as necessidades locais, como limites de bombeamento. O Rio Grande do Sul vai ter de definir as fronteiras para aumentar a irrigação, analisar as bacias hidrográficas com águas subterrâneas, medir o tempo de extração e recarga e ver maneiras de fazer a reservação de águas, como a das enchentes.    

Irrigáveis

> Uma gaúcha de Bagé está em Nebraska estudando como manejar reservas de água naturais para produção de alimentos, que é o maior argumento para impulsionar a irrigação na agricultura. Em pleno doutorado em engenharia biológica, a agrônoma Thaís Murias Jardim, participou da reunião que fechou a missão e já faz prognósticos: "o Nebraska tem muito menos água que o Rio Grande do Sul, mas com uso correto da tecnologia consegue irrigar e ter altas produtividades e com uso sustentável da água. A gente leva muito do que a gente aprende aqui para o Estado". 

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro