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Contas de direita crescem três vezes mais que as de esquerda no X de Musk

Elon Musk, anunciado chefe do Departamento de Eficiência Governamental de Donald Trump, descreve-se como politicamente moderado. Diz acreditar que seus críticos o rotulam de extrema direita porque veem qualquer posição à direita deles como radical, devido a um suposto movimento da esquerda para o extremo.

Entretanto várias posições do bilionário estão alinhadas à direita americana mais radicalizada. Ele endossou postagens antissemitas que afirmam que judeus incentivam a imigração nos EUA, apoiou teorias da conspiração do "pizzagate" —que alega falsamente que uma rede de tráfico infantil é operada pelas elites políticas em uma pizzaria de Washington— e criticou companhias aéreas que incentivam a contratação de pilotos negros.

Essas atitudes têm impacto amplificado por Musk ser o dono do X (antigo Twitter) e o guiar num estilo de governança imoderado, que exerce influência e controle sobre os rumos da plataforma.

Quando comprou a companhia, em 2022, afirmou acreditar que a rede tinha um viés claramente esquerdista. Nas primeiras reuniões com executivos do então Twitter, como relatado no livro "Limite de Caracteres" (recém-lançado no Brasil), Musk mostrou mais interesse em trazer de volta Trump e a conta satírica de direita The Babylon Bee do que em lidar com questões operacionais ou financeiras da empresa.

Embora afirmasse publicamente sua intenção de promover a neutralidade política ("para que o Twitter mereça a confiança do público, ele precisa ser politicamente neutro, incomodando tanto a extrema direita quanto a extrema esquerda", como disse à época), ações e mudanças no algoritmo deixavam claro um viés.

Musk não bloqueou contas no Brasil que propagavam discurso de ódio, mas o fez na Turquia e na Índia a pedido de seus governos. Uma análise do Wall Street Journal mostrou que novos usuários são predominantemente expostos a conteúdo de direita. Além disso, o termo cisgênero passou a ser considerado ofensivo, reduzindo o alcance de usuários que o utilizavam e limitando debates sobre identidade de gênero.

Essa diferença de tratamento afeta a visibilidade dos discursos políticos. A fim de mensurar esse impacto, a Folha monitorou a variação de seguidores de 2.000 contas de influenciadores e políticos três anos antes de a empresa mudar de comando e dois anos depois. Dividiu as contas em três grupos (esquerda, centro e direita), de acordo com a ideologia expressa pelas contas que os perfis seguiam (a metodologia foi criada pela Folha em 2022 e pode ser lida aqui).

Os resultados mostram dois fenômenos claros. Primeiro, o crescimento no número de seguidores diminuiu drasticamente em todos os espectros ideológicos entre 2022 e 2024. Antes da compra do Twitter por Musk, houve um crescimento mediano de 54%; depois, ele caiu para apenas 3,48%. Esses números podem ser explicados, em parte, pela perda de relevância do site. Análises já mostraram uma queda de 30% em seu uso entre 2023 e 2024.

Segundo, a redução do crescimento foi desigual: contas de direita cresceram três vezes mais que as de esquerda. Já as contas de centro, grupo ao qual Musk diz pertencer, chegaram a ter uma leve queda no número de seguidores.

Mesmo antes da aquisição, a direita já crescia mais rapidamente, porém com índice muito mais próximo dos demais. Entre 2019 e 2022, a direita teve um crescimento de 81%, maior do que os demais grupos. A esquerda cresceu 71%, e o centro, 22%.

O total de seguidores entre as contas em 2019 era dividido quase igualmente entre direita e esquerda, ambos com cerca de 7,5 milhões. Já o centro tinha 14 milhões. Em 2024, a direita e o centro têm números de seguidores similares, com aproximadamente 17 milhões cada, e a esquerda ficou para trás, com cerca de 13 milhões.

Análise recente do jornal The Washington Post apontou tendência semelhante ao mostrar que as publicações de republicanos tiveram mais de 7,5 bilhões de visualizações desde julho de 2023 —mais do que o dobro das visualizações das postagens dos democratas, que somaram 3,3 bilhões.

Apesar das alegações de neutralidade, as ações de Musk no controle do X mostram a fragilidade desse discurso. Assim como outras plataformas, o X se opõe a veículos de comunicação tradicionais, que assumem posições editoriais explícitas, ao justificar que não deve ser responsável pelas informações que circulam no site.

O papel de edição, tradicionalmente assumido de forma implícita pelas redes e historicamente de modo explícito pelos veículos de comunicação, agora apresenta uma inversão.

Enquanto os jornais Los Angeles Times e Washington Post optaram por não endossar candidatos para preservar uma possível imagem de neutralidade jornalística, Elon Musk acompanhou a apuração ao lado de Trump e, desde a vitória, transformou seu perfil no X em uma máquina de propaganda do segundo mandato trumpista.

Metodologia:

Foram utilizadas contas das duas versões do GPS Ideológico da Folha de 2019 e de 2022. As posições utilizadas para esta análise são as de 2022. Para cada comparação (2019 com 2022 e 2022 com 2024), a reportagem considerou só contas presentes nos dois anos e que tinham ao menos 500 seguidores.

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Do Twitter

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