O governo do Rio Grande do Sul dá início nesta segunda-feira (20) a uma missão técnica nos Estados Unidos com foco em irrigação e gestão hídrica. Liderada pelo vice-governador Gabriel Souza e organizada em parceria com a InvestRS, a delegação visitará o Estado de Nebraska, reconhecido como referência mundial em políticas públicas, tecnologias e governança da água aplicadas à agropecuária.
A agenda inclui reuniões e visitas técnicas a universidades, centros de pesquisa, distritos de manejo de recursos naturais e indústrias de pivôs centrais. O objetivo é trocar experiências e identificar soluções que possam ser adaptadas à realidade do Rio Grande do Sul, que vem sofrendo há vários anos com perdas severas de produção causadas pela falta de chuvas.
Nos últimos cinco anos, o Estado enfrentou três safras consecutivas afetadas pela estiagem, com prejuízos estimados pela Conab em mais de R$ 40 bilhões. Somente nas lavouras de soja e milho, as perdas acumuladas ultrapassaram 14 milhões de toneladas entre 2020 e 2023. Em algumas regiões, como as Missões e o Noroeste, a quebra chegou a 70% nas áreas de sequeiro. Além dos impactos diretos sobre a renda dos produtores, os reflexos se estenderam ao abastecimento de água, à pecuária e à arrecadação municipal.
“Enfrentamos há mais de duas décadas os impactos das estiagens e da escassez hídrica, que afetam diretamente a produtividade e a economia gaúcha. O governo do Estado tem atuado com políticas que incentivam a irrigação e o uso racional da água. Essa missão tem um propósito muito claro: conhecer de perto experiências e tecnologias de irrigação e gestão hídrica que transformaram aquele Estado em referência mundial”, afirma Gabriel Souza.
A missão, integrada também pelas Secretarias de Desenvolvimento Econômico e de Desenvolvimento Rural, Assembleia Legislativa, Emater/RS, Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs), busca referências em modelos de irrigação de alta eficiência e em mecanismos institucionais de governança hídrica. Um dos principais pontos da programação é o Daugherty Water for Food Global Institute (DWFI), vinculado à Universidade de Nebraska, que atua em mais de 40 países e é referência na integração entre ciência, políticas públicas e setor produtivo.
O grupo será recebido pelo diretor-executivo do instituto, Peter McCornick (leia abaixo a entrevista), e pelo diretor de políticas, Nicholas Brozovic. Eles apresentarão estudos sobre o uso sustentável de águas superficiais e subterrâneas e o funcionamento dos Distritos de Recursos Naturais (NRD) de Nebraska — entidades regionais que gerenciam o uso de aquíferos e o controle de poços agrícolas.
A comitiva também visitará o Centro Nacional de Mitigação da Seca, a Nebraska Mesonet (rede de monitoramento meteorológico automatizado) e o Centro de Educação de Extensão do Leste de Nebraska, além das fábricas das duas maiores produtoras de pivôs centrais do mundo, Valmont (Valley Irrigation) e Lindsay. A programação técnica inclui ainda visitas a fazendas irrigadas e centros de pesquisa sobre sequestro de carbono e manejo de solos.
A escolha de Nebraska é estratégica. O estado norte-americano tem mais de 3,6 milhões de hectares irrigados, sustentados por um modelo de gestão que combina inovação tecnológica, monitoramento constante e controle descentralizado do uso da água. O sistema é abastecido pelo Aquífero Ogallala, um dos maiores do planeta, cuja recarga e consumo são medidos com precisão por sensores e dados de satélite. Essa estrutura permite que, mesmo em anos de estiagem, a produção se mantenha estável: as produtividades médias de milho e soja irrigados são 60% superiores às de sequeiro.
No Rio Grande do Sul, a situação é inversa. Embora o potencial estimado de irrigação seja superior a 5 milhões de hectares, apenas 4% são irrigados – excetuando as áreas de arroz, onde o índice é de quase 100%, segundo dados da Secretaria. Na soja, o total de áreas irrigadas gira em torno de 100 mil hectares, e no milho, 130 mil, o que representa menos de 10% da área cultivada. Essa dependência das chuvas tem se tornado o principal fator de risco da agricultura gaúcha.
“Nebraska é considerado um dos melhores cases de irrigação e gestão de recursos hídricos do mundo. Estruturamos esta missão para que possamos buscar lá soluções adequadas à realidade do Rio Grande do Sul. Não podemos mais ficar à mercê das mudanças climáticas, especialmente quando enfrentamos severas estiagens a cada dez anos. O agro representa cerca de 40% do PIB gaúcho, e é fundamental fortalecê-lo — é o nosso principal ativo econômico”, destaca o secretário da Agricultura, Edivilson Brum.
O governo estadual tenta reverter o quadro com o Programa Irriga + RS, relançado em 2023. A iniciativa busca dobrar a área irrigada até 2030, apoiando produtores na construção de reservatórios, no acesso ao crédito e no licenciamento ambiental. Desde sua retomada, o programa já cadastrou mais de 8 mil produtores e conta com 1,5 mil projetos de irrigação em análise ou execução. Entretanto, gargalos como o alto custo de energia elétrica, a complexidade do licenciamento e o investimento inicial ainda travam uma expansão mais rápida.
Nebraska é referência mundial em irrigação e gestão da água

Estudo do DWFI aponta que a agricultura irrigada depende fortemente da água subterrânea, e que o esgotamento dos aquíferos aumenta o risco de perdas de produção durante períodos de seca DAUGHERTY WATER FOR FOOD INSTITUTE/REPRODUÇÃO/JC
No coração dos Estados Unidos, Nebraska se tornou um laboratório global de eficiência no uso da água. Ali, quase 90% da irrigação agrícola vem de fontes subterrâneas, administradas de forma descentralizada por 23 Distritos de Recursos Naturais (NRDs). Esses distritos controlam o acesso aos poços, fiscalizam o uso e aplicam políticas regionais de conservação.
O modelo é acompanhado de perto por instituições de pesquisa, com destaque para o Daugherty Water for Food Global Institute. Criado em 2010, o instituto atua em mais de 40 países, promovendo soluções para ampliar a produção de alimentos sem comprometer os recursos hídricos. Entre suas principais linhas de atuação estão o desenvolvimento de sensores, o mapeamento de aquíferos e o apoio a políticas públicas de irrigação sustentável.
A experiência de Nebraska mostra que a combinação de pesquisa aplicada, monitoramento constante e gestão participativa pode transformar regiões sujeitas à seca em polos de produção estáveis. A produtividade média de soja e milho irrigados no estado americano supera em mais de 60% as obtidas em áreas de sequeiro. A missão técnica surge como um passo estratégico para acelerar essa agenda e adaptar práticas bem-sucedidas ao contexto gaúcho.

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